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Crónica

DE ISTAMBUL, COM AMOR

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A primeira vez que pisei território turco foi quando cheguei de Beirute a Istambul, num dia de verão mais-do-que-tórrido. O cansaço não só se sentia como se via na minha cara, porém a curiosidade era muita, tinha de sair rapidamente do aeroporto para ir descobrir mais. Assim fiz e aprontei-me para ir em direção a Sultanahmet. Estava um dia incrível, um sol brilhante e bem quentinho. Saí do transfer, andei não mais do que cinco minutos, até vir ter comigo um senhor numa tentativa de vender tapetes – aqueles tapetes lindíssimos! Aceitei o Çayı de bom grado, porém disse que não teria espaço na minha mala para transportar um tapete daqueles. (Obviamente, a recusa prendeu-se ao fator preço!).

Troquei as minhas sandálias imundas e acabadas de rebentar, e continuei a minha jornada. Nas primeiras horas confesso que não consegui parar de pensar “que diferença!”. Ainda estava a tentar habituar-me aos novos ares e, obviamente, à clivagem tão grande que se trava, afinal, entre uma cidade do Médio Oriente e uma cidade que já é, afinal de contas, considerada europeia.

Há coisas que não se explicam. O calor desse dia, a imponência da Mesquita Azul, a Hagia Sophia, o Bósforo e as gaivotas…. o som das orações. Tudo isto constrói a mística da cidade.

Foi apenas um dia de escala. Passou a correr mas não deixou de ser enriquecedor. Depois de comer um kebab (típico, no entanto apenas uma dos mil pratos maravilhosos da gastronomia turca!), usei um mapa que me foi entregue por um senhor muito velhinho (por bondade, creio eu), numa tentativa de me guiar do centro novamente para o aeroporto. Lá fui eu, com um mapa todo-ele-escrito-em-turco, nas mãos. Safei-me.

Um dia não chega para conhecer cidade nenhuma, muito menos Istambul. Nesse dia vi a cidade bem solarenga e mal sabia eu que a voltaria a rever, toda branquinha, mágica e cheia de neve. Volvidos cerca de 7 meses, lá estava eu. Como disse, um dia não chega para conhecer esta cidade.

E assim foi. Em meados de Fevereiro do ano passado, estava de regresso a Istambul, desta vez bem acompanhada, com um bando de curiosos incansáveis (como eu!). Welcome to frozen Istanbul. A temperatura servia para congelar todos os ossinhos do corpo, mas não foi por isso que paramos, ou que andamos menos.

De gorro enfiado na cabeça, camisolas infinitas, casaco e luvas, lá nos aventuramos na Galata Tower. Depois de pagar um preço (super!) especial para foreigns, subimos de elevador até alcançar uma vista que – sabia lá eu! – iria ser de cortar a respiração, por completo. Se valeu a pena o vento, a neve e o frio que passamos lá em cima? Valeu. Julguei que ía cair dali a baixo, com umas grades tão espaçadas e o gelo escorregadio naquela pequenina varanda, mas repetia vezes sem conta.

Do cimo da torre, viam-se os telhados todos branquinhos, cobertos de neve e, ainda assim, gaivotas a pairar naquela cidade mágica, com a Mesquita Azul, a Hagia Sophia, o Topkapi Palace e a Galata Bridge lá ao fundo, e o Bósforo a pintar a paisagem. Má-gi-co!

 Taksim square. As ruazinhas paralelas à Istiklal. Fora do mainstream: pus um pézinho na Ásia, a Kadıköy. Simplesmente andamos a pé, deixamo-nos acolher pelo ambiente. E regressamos para parte europeia de dolmuş – aqui começou uma aventura! Entramos no primeiro dolmuş que apareceu, tentando falar inglês com o condutor – mas claro que isso revelou ser impossível. Um senhor que, apesar da neve que caía, foi a viagem praticamente toda com a janela aberta! Em vez de irmos diretos à Fatih Sultan Mehmet Bridge, a caminho de Taksim, percebemos, através do GPS, que estávamos a dar uma volta gigante, e a ir cada vez mais zona-asiática-a-dentro! Esta brincadeira deve ter durado cerca de duas horas. Duas horas dentro de um dolmuş que foi conduzido a uma velocidade insana, mesmo estando a nevar, e sem cumprir quaisquer regras de trânsito. Perdi a conta de quantos acidentes íamos tendo. Mas claro, isto é comum em certos países, também não seria tão engraçado se assim não fosse – e não custou assim tanto, depois de ter pensado tantas vezes que iria morrer nas andanças loucas nos táxis de Beirute. São estes pormenores que não se esquecem e que se recordam com grandes sorrisos.

 Bazares, lenços coloridos, candeeiros, regateios à mistura. Shisha. Overdoses de Turkish delights e Baklavas. Ayran. Kebabs. Menemem. Kebabs. Sandocas na Ponte de Galata. Kebabs. Kebabs. E mais kebabs.

Tive oportunidade de regressar mais tarde à Turquia, de passear mais e de conhecer outra cidade, e devo dizer que este país – obviamente! – não se resume apenas à metrópole que é Istambul, porém esta cidade é imensamente especial e toda ela deslumbrante – é nela que está o meu coração. Porque sim. Por todas as razões e mais algumas. Por tudo e por nada.

«If the Earth was a single state, Istanbul would be its capital» by Napoleon  Bonaparte

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