Crónica
O PRIMEIRO MÊS DE 2016
O Manuel acha que janeiro não está a ser muito fácil, mas também, nunca ninguém disse que por ser o primeiro mês do ano, tinha que ser um mar de rosas.
O arranque do mês não foi complicado. As passas, os doces, o champanhe e os dias passados a ver filmes ajudaram a uma anestesia temporária e até fizeram com que o Manuel acreditasse que janeiro ia ser um mês amigo. Nada de confusões, ainda estava tudo de ressaca a ver 2015 passar à história. Novas resoluções, novas promessas, uma euforia pegada de quem acabou de entrar num novo ano.
Os dias foram passando e chegou o mau tempo. Na rua, árvores e caixotes do lixo tombados, inundações, cheias, guarda-chuvas deixados para trás, trânsito e acidentes por todo o lado.
Durante dias e dias, o Manuel não conseguiu sair à rua, e quando se alegrava ao ver um raio de sol, lá vinham as gotas para o lembrarem que era janeiro. Mas, ainda assim, o Manuel tinha esperança que estas tribulações fossem compensadas por um resto de mês sem grandes tumultos.
Para desilusão do Manuel, a revolta do primeiro mês do ano continuava e mais um atentado era notícia de abertura, e mais uns quantos fugiam do país que os vira nascer em busca de um futuro que imaginavam melhor. “Nem tudo passou à história com 2015.”, pensava o Manuel.
Entretanto, eis que uma nova diversão surge. Debates para a frente, debates para trás, campanhas e mais campanhas, ora uma provocação, ora mais outra provocação. Megafones na rua, bandeiras a esvoaçar ao vento, abraços, beijinhos, declarações de amor da padeira e insultos de quem não se conseguiu conquistar. O Manuel achava importante toda a atenção dada ao assunto, até porque se tratava de escolher o próximo presidente do país. Já a mãe do Manuel, não achava grande graça que o horário da sua novela fosse atrasado porque havia debate, ou entrevistas, ou o que quer que fosse que “se lembrassem de inventar”, dizia ela. “São como os homens, todos iguais”, dizia a tia Alice, apontando para a televisão e revirando os olhos em sinal de reprovação. “Olhe que não, olhe que não”, dizia o pai do Manuel. Todos eles sabiam que no dia 24 tinham de sair à rua fizesse chuva ou sol. E foi o que fizeram. E janeiro viu Portugal ganhar um novo Presidente. Mas como ainda não tomou posse, o outro Presidente mostrou que ainda tinha cartas na manga. O Manuel não percebeu muito bem o que ele queria fazer.
Janeiro está mesmo a terminar, mas o Manuel só quer que o tempo passe rápido e que fevereiro seja melhor. Mas antes disso, o Manuel só quer fazer os exames e passar às cadeiras todas do 1.º semestre.