Crítica
“O CASO SPOTLIGHT”
Faço este culto desde o ano passado. Podem não entender qual será a minha vontade, mas, por esta altura, já vi as oito películas cinematográficas nomeadas para melhor filme.
Pela sobriedade que a história confere, “O Caso Spotlight” de Tom McCarthy, nomeado para seis Óscares, privilegia o jornalismo de investigação – hoje, visivelmente em crise, pelos motivos, creio, óbvios – e é, indubitavelmente, um dos meus favoritos deste ano à estatueta dourada.
Parafraseando um suplemento do jornal Público, a respeito da sinopse do filme, a película aborda a rotina de uma equipa do jornal “Boston Globe” que “em finais de 2001, vêem-se a braços com um caso em que vários padres da Igreja Católica são acusados de abusos sexuais a crianças da comunidade. Ao investigarem a fundo, dão-se conta de décadas de encobrimento que envolve os mais altos níveis das instituições da cidade de Boston, seja a nível religioso ou mesmo político.”
Discreto, “O Caso Spotlight” apresenta-nos cruamente como se faz, ou deveria ser feito, o jornalismo de combate e de interesse público, devolvendo a dignidade ao bom jornalismo de investigação.
Sou suspeito, também é um facto. Não desminto que este tipo de jornalismo é um dos mais prazerosos pelos resultados que apresenta, mas “Spotlight” representa um braço de ferro com as várias formas de poder: é que aos jornalistas cabe sempre a obrigação de não ceder a mecanismos velados de pressão, mas em contextos como estes – sobretudo, de crise – esse poder, por vezes, debilita-se, por uma panóplia infindável de motivos que poderia enumerar de uma assentada.
Por outro lado, “Spotlight” não embriaga o público, elucida-o. O que ele retrata, só tem lugar em arenas de grande controvérsia nos meios de comunicação de social, mas devia suscitar aquilo que, a meu ver, devia ser objeto de um amplo debate público.