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Artigo de Opinião

A ÁRVORE GENEALÓGICA DE JESUS

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Durante este último fim-de-semana, as redes sociais colapsaram numa grande polémica: os cartazes sobre a adopção por casais do mesmo sexo do Bloco de Esquerda (BE).

Assistimos a duras críticas ao partido de esquerda por parte da ala católica do país, que na sua generalidade se sentiu ofendida com o mesmo. Chegou inclusive, o cardeal de Lisboa, D. Manuel Clemente, a condenar o cartaz.

Todavia, num país democrático, onde se lutou tanto pela liberdade de expressão, o que é afinal ofensivo no cartaz do BE? A piada implícita sobre Jesus poder ter sido adoptado por dois homens? – mas, até mesmo nesse ponto, o que haveria de errado com isso?

A verdade é que, a generalidade dos argumentos que a população portuguesa trouxe para “debate”, não se revelam minimamente plausíveis.

Antes de mais, é necessário ter em consideração que o cartaz em questão é o humorístico que irá apenas circular nas redes sociais, sendo que o que irá promover a igualdade nas ruas será um outro.

É ainda de destacar, que a mensagem exposta no cartaz nem sequer é exclusiva do partido português. Tal slogan, já bastante comum, teve origem por parte de Igrejas (a ironia…) nos Estados Unidos da América.

Contudo, o que mais me entusiasmou nesta telenovela cibernética, foi poder observar que grande parte dos “#jesuischarlie´s”, que apoiaram garridamente a liberdade de expressão na publicação do jornal francês, sentiram-se extramente ofendidos com a publicação do BE, e que a mesma deveria ser eliminada.

Se assim for, esse sentimento em nada difere daquele que alguns muçulmanos sentem em relação a certas caricaturas de Maomé, que certamente são muito mais provocadoras.

De forma geral, considero que a situação aqui em causa vem mais uma vez demonstrar o conservadorismo da sociedade portuguesa, o preconceito e o tabu que ainda existe à volta da situação.

Muitos dos comentários pareciam quase retirados da campanha eleitoral do PNR, quando abordam matérias como a “propagação homossexual” (como se de uma doença se tratasse), “que os heterossexuais têm que começar a lutar pelos seus direitos”, entre muitos outros exemplos.

No entanto, o BE não sai ileso da situação. Tal como a porta-voz do partido e outras personalidades relevantes do mesmo, acredito que o cartaz foi um erro.

Apesar do quadro-legal da adopção ter sido de facto alterado, assistimos mais uma vez, a um cenário de uma discriminação imensa em relação a estas matérias, e o Bloco, como principal defensor dos direitos LGBT, deve contribuir para a desmistificação destes estereótipos e não o contrário. E por isso, a polémica aqui exposta só veio reconfirmar o ainda longo trabalho que se apresenta à sua frente. No entanto, a utilização de uma propaganda que à partida irá provocar uma cisão na sociedade, não é de forma alguma o caminho mais acertado para promover a igualdade.

Apesar de toda a irreverência carismática que caracteriza o partido, a verdade é que, infelizmente, penso que toda esta polémica em nada contribuiu para a diminuição do preconceito, mas sim para a sedimentação do mesmo.

Portanto, a minha principal reflexão sobre este tema, é que foi possível verificar o vinco conservador que ainda existe em Portugal, nomeadamente na sua esfera católica. No fundo, demasiada polémica por um cartaz inofensivo que apenas reitera a ideia (não errada de todo) que Jesus teve dois pais.

O melhor é, sem qualquer margem de dúvida, criar financiamento para fazer avançar um estudo pormenorizado acerca da árvore genealógica de Jesus Cristo. Mas com todo o cuidado…ou corremos o risco de descobrir que algum descendente/familiar de Jesus (ou até o mesmo) era homossexual! (Blasfémias!!!)

 

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