Devaneios
CONVERSA COM DEUS (OU UMA FLOR)
(Eu) – Uns guerrilham pelas ideologias. Outros guerrilham pelo poder. Outros estão demasiado em dor para guerrilhar por algo.
Afinal, o que andamos aqui a fazer?
Queres dar-nos sentido? Ou iludir-nos de que esse sentido existe?
(Deus) –
(Eu) – O teu silêncio é ensurdecedor. Porque haveria de perpetuar este monólogo constante dos meus dias se tu, poderosíssimo infinito, nem te ousas pronunciar?
(Deus) –
(Eu) – Deixas-me só e em dor, quando mais necessito de ti. Como haverei de cultivar a minha fé, se aquilo que me pedem é que acredite no inexistente?
(Deus) –
(Eu)- Vê só… (suspira enquanto vislumbra uma flor, através do parapeito da janela) Mais atenção me presta esta flor do que tu, poderosíssimo infinito. Até uma flor, tão singela existência, se debruça sobre a minha dor como se a ela pertencesse. E tu, poderosíssimo infinito?
(Deus) –
(Eu) – Esta flor fala-me pelos sentidos. Diz-me, através das suas cores e aroma, que pelo menos aqui e agora, sou presenteado pela sua companhia. E tu, poderosíssimo infinito? Quando serei privilegiado da tua companhia?
(Deus) –
(Eu) – Esta flor fala-me pelas suas raízes e relembra-me o quão forte sou. Vê só, quão delicada mas tão firme! Revejo em ti flor, todo o meu ser!
E então, detém-se alongadamente na beleza da flor. Nos seus contornos, nuances, no seu balançar suave pelo vento, nos aromas difundidos pelo ar, na sua luz. Tudo se torna momentaneamente Uno. O Eu deixa de ser eu para se constituir como flor. A flor renuncia à sua forma para se tornar o Eu.
(Eu) – Sabes, agora entendo. Não me deixaste só. Não me respondeste com o silêncio. Afinal, todo este tempo, Tu eras a flor.
roberto ferreira
09/04/2016 at 15:49
Neste texto conseguimos extrair vários problemas da sociedade no global, onde autora consegue de forma fantástica questionar como é possível existir guerras ideológicas, guerras pelo poder, onde existe centenas de mortes de inocentes (crianças,mulheres, homens tentando salvar as suas famílias) e outros que nem sequer podem lutar devido a doenças. Invocando a questão “se divino existe o porquê destes erros da humanidade?”
A autora constrói monólogo há volta de uma flor espera de respostas sobre divino. Concluímos que a autora consegue encontrar a sua fé e crença proveniente da vitalidade da flor, e ao mesmo tempo da sua fragilidade.
Fantástico texto!
Deus
09/04/2016 at 17:36
Sou nada uma flor, pára com isso