Cultura
A GRANDEZA DE MASSIVE ATTACK & YOUNG FATHERS NO 2º DIA DO SUPER BOCK SUPER ROCK
Fosse fim de tarde ou já o fim da noite, os portugueses Pás de Problème tinham festa garantida no palco EDP ou, segundo os próprios, a “real pedrada”. São muitos aqueles que já viram e reviram o grupo atuar em diferentes contextos, os gritos e as corridas até ao palco o dizem. Outros, por curiosidade, deixam-se ficar o mais atrás possível sem querer interferir com quem, de algum modo, aproveita o concerto dos Pás de Problème. Já do outro lado do recinto, no palco Antena 3, os Basset Hounds lidam com um público ainda disperso. Coube aos PISTA puxar os festivaleiros até ao palco da “festa tuga” neste segundo dia. Puxa, tema mais conhecido da banda, foi o responsável pelos mosh e crowdsurfing que se tornaram constantes durante o resto do concerto. Para grande surpresa do público, sobe ao palco Alex D’Alva Teixeira, dos D’Alva, e em conjunto com os protagonistas em palco dão uma lição à música portuguesa.
Ainda no palco EDP passaram os artistas Petite Noir e Kwabs. O artista belga chegou em força ao Parque das Nações. “Lisbon, I’ve got you” foi o seu lema para este concerto. O público começou, pouco a pouco, a aderir e Petite Noir agarrou-se a essa atenção para um final de concerto que se revelou mais promissor que o início. A voz de Kwabs falou por si e por todos. A sua estreia em palcos nacionais tinha acontecido no dia anterior com os Disclosure. Na sua atuação trouxe uma versão inesperada da “Love Yourself” do Justin Bieber, recebida com entusiasmo pelo público. Foi com o tema pelo qual ficou conhecido, “Walk”, que se despediu do Super Bock Super Rock.
A noite no palco Super Bock começou com os renascidos Bloc Party. A expectativa era grande tal como a incerteza de como seria o concerto. O público esperava ansioso pelos grandes temas e mais conhecidos. “Banquet” e “Helicopter” transportaram o Meo Arena até aos tempos dos antigos Bloc Party. Os novos Bloc Party parecem ter seguido um caminho diferente do habitual. Arriscado, compreensível, mas talvez não o esperado. Foi com “Ratchet” que deixaram o palco Super Bock.
O lendário Iggy Pop subiu ao palco e mostrou o que não é para muitos ter 69 anos. Com uma energia ao estilo do mestre do rock e o seu famoso tronco nu, Iggy não conseguiu desfazer-se dos temas mais antigos como “Lust For Life” ou “The Passenger”. Foram poucos os temas novos que trouxe neste segundo dia quando, sem avisar, os portugueses Capitão Fausto e o canadiano Mac DeMarco lhe roubaram o público.
No palco Antena 3, os Capitães portugueses trouxeram uma setlist variada com os principais temas dos 3 álbuns até agora editados. O ambiente era o que se esperava e ao qual nos habituamos de Capitão Fausto: o público canta em coro enquanto o descontrolo assume lugar e se repetem os crowdsurfings. No palco EDP, Mac DeMarco não deixou em casa a sua energia e carisma habitual. Mas não é menos verdade que a sua presença em palco se deve muito também aos seus colegas que o partilham. Pelo menos foi essa a sensação com que grande parte do público ficou depois do seu concerto na 22ª edição do SBSR. Depois de guitarras nas costas, beijos nas barrigas de cada um, danças sem preconceitos e despreocupadas, o artista do Canadá pede a todo o público que suba para os ombros de amigos ou desconhecidos. É este tipo de energia que a mais ninguém associamos sem ser a Mac DeMarco. E o amor? “I’ve Been Waiting For Her”, entre outros temas, foi a prova viva que o artista não sabe só agitar um palco pela sua loucura. Há, de facto, um lado mais afectivo que preencheu e tornou ainda mais quente uma noite já de temperaturas altas.
O último momento da noite e talvez dos mais inexplicáveis do festival foi da responsabilidade dos Massive Attack em conjunto com os escoceses Young Fathers. O que fez da sua atuação tão poderoso e intenso foi a combinação precisa entre todos os sons, vozes, ecrãs e grafismos que envolveram o espetáculo, no seu todo, do início ao fim. O objetivo não era deixar em palco uma performance energética que levasse ao rubro o público, mas sim deixar uma mensagem, ou talvez um aviso, que levasse também o público ao extremo. Apenas com um propósito diferente. A necessidade de consciencializar a pequeníssima parte do mundo que se encontrava no MEO Arena foi o que movimentou a presença dos Massive Attack neste dia. De repente, as pessoas que esperavam ouvir apenas música, o mais básico e essencial dos festivais, levaram (ou queria a banda) com uma enxurrada de frases com cariz político que não eram nada mais do que críticas, nem sempre entendidas pelo público. Mas também a Luciana Abreu, a Kim Kardashian, a filha de Mourinho e a selecção portuguesa foram apontados entre outros títulos dos media.
O momento em que se recordou as vítimas do atentado em Nice foi o pico que não se esperava ser possível de alcançar neste momento, com tamanha grandeza que a marcar esta passagem dos Massive Attack por Portugal. Em conjunto, a banda regressou ao palco para um encore composto por frases do tipo “Je Suis Nice”, “Je Suis Baghdad” ou “Je Suis Istambul”. “Estamos Juntos” foi a frase com que se despediram do Meo Arena e de um público, esperavam eles, desolado e minimamente consciencializado. “Together” foi o tema com que Mac DeMarco terminou também o seu concerto no palco EDP. No fim de contas, a música resume-se a este poder irreversível de movimentar e consciencializar as massas, muitas vezes esquecido.