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Artigo de Opinião

CRIMINALIZAÇÃO DA POBREZA

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As gerações são assinaladas por acontecimentos históricos e contextuais que vão alterar complemente a vida daqueles que a constituem. Hoje em dia, estamos a passar por um fenómeno que muitas vezes passa despercebido, porque é mais específico de um contexto desfavorecido: a criminalização da pobreza.

Hoje em dia, sabemos que muitos filhos são retirados aos pais que têm dificuldades económicas e que são levados para instituições, pelas mais diversas razões (não falando das condições a que muitas vezes estas crianças são expostas nestas instituições). Trata-se de um fenómeno característico apenas de uma população, que é de classe socioeconómica baixa, o que abrange uma elevada percentagem de portugueses neste momento. Assim, os pais, para além de não terem dinheiro para cuidar de um filho, também não são dotados das melhores competências para o cuidar. De um momento para o outro, chegam pessoas estranhas ao seio familiar para retirar os filhos aos pais, sendo esta normalmente uma decisão baseada na falta de bens materiais, esquecendo o resto. Carecemos de medidas de educação parental, para ajudar a criar os filhos, mas também trazendo a benesse de tornar os pais melhores cidadãos. Não podemos olhar apenas aos meios materiais, mas também à bagagem de educação que cada um tem.

Indubitavelmente, o dever dos profissionais é educar os pais para educarem os filhos, não só nestes meios mais desfavorecidos, mas em todos, uma vez que educar um filho não é uma tarefa simples, já que se trata de uma vida que pode fazer muita diferença no Mundo. Contudo, esta retirada de filhos apenas se baseia nos critérios monetários, existindo muitas famílias de classe média e alta, onde os filhos também não passam nenhum tempo de qualidade com os pais, mas como são pessoas dotadas de dinheiro, ninguém “mete o bedelho”. De facto, na nossa sociedade ainda está muito enraizada a ideia de que educar é ter e fazer dinheiro. Educar um filho não é dar material. É dar e partilhar afeto. Educar a população neste sentido é chave para tornarmos esta geração mais educada, sustentada e com um futuro promissor para a mudança do mundo.

Um outro exemplo é também o mundo do crime, onde todos os jovens de classes socioeconómicas baixas, que cometem crimes, vão para a cadeia, e para além de não terem uma intervenção adequada neste meio, também são condenados pelo facto de serem pobres. É-lhes dito que fizeram aquele crime, porque são “pobres”, enquanto se for um jovem de uma classe social alta, já não lhes é apontado o dedo, e, inúmeras vezes, nem sequer vão ser julgados da mesma forma que os jovens de classe social baixa. A pobreza passa a definir a vida de um jovem, que ainda podia ser alterada, se a intervenção fosse a base da nossa sociedade.

Criminaliza-se a pobreza, em vez de lutarmos para que esta diminua. Acabar com a pobreza, não traz apenas o benefício monetário às pessoas e tira pessoas da rua. Traz muitos mais benefícios a longo prazo, nomeadamente a educação e uma sociedade mais equilibrada. Todas as pessoas baseadas nos mesmos direitos e deveres. Todos com a mesma igualdade de circunstâncias. Acabar com a pobreza, vai melhorar desde o ambiente, porque podereduzir-se o consumo de produtos menos amigos do ambiente, até as relações entre pares, o que diminui, consequentemente, a discriminação na escola, por exemplo.

Punir e criminalizar não é solução. Educar e intervir é.

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