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Crónica

O PENSAMENTO CRÍTICO NAS UNIVERSIDADES

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Frequentei durante três anos uma licenciatura e esta estadia em terrenos académicos deixou-me com algumas notas sobre o pensamento crítico. A universidade é vista por um estudante do ensino secundário como uma plataforma de impulsão do saber, onde se forma e se especializa cada um dos alunos. Tudo isto de acordo com o gosto, com o talento e o engenho destes mesmos. Foi com esta convicção que entrei no Ensino Superior, mesmo andando à toa com as escolhas a serem feitas na candidatura.

Tudo isto como um aparte prévio. No decorrer dos três anos que vivi num ambiente académico, senti que faltava algo. O pensamento crítico ficava-se pela rama do curso e do estudo. Será que se pensa a realidade de forma sistémica e autêntica? Foi esta a questão que dominou os meus dias de aulas e nem tanto a azáfama com os inúmeros trabalhos. Porque, para além de reconhecer no pensamento crítico uma forma de avaliar e de me posicionar, achei que era a grande valência que o ensino académico incute.

O que se visualizou foi um sem número de estudantes muito mais focados com o exigente e velocista mercado de trabalho. A importância de se garantir o trabalho e não tanto essa posição diferenciada e pouco automatizada. O que se perspetiva para esses, num prazo médio ou longo, é que, não obstante os êxitos profissionais que possam vir a colecionar, a mente não está treinada e rotinada para olhar para o seu redor. Ficam os conceitos meramente da área e a especificidade da sua formação profissional, para além das curtas experiências que se remeteram ao campo do lucro.

Outros privilegiam atividades extra-curriculares mas que expressam todo o amor e apreço pela academia e pelo seu curso mas que em pouco se revelam nas atitudes durante as aulas e os exercícios eventualmente estipulados. Tudo é feito como se de um frete se tratasse. As unidades curriculares são meramente destrutivas e disruptivas em relação ao jovem curioso e empenhado que dizem ser. Não se compreende a utilidade e a pertinência da oferta curricular porque os focos e os objetivos são outros. Aproveitar a eterna mocidade é o lema. No entanto, e numa visão de olhar para o mundo como contexto em constante mutação, o pensamento não chega muito longe nem engloba as temáticas mais urgentes. Desculpam-se com a expressão “politiquices” ou com o facto de não lhes dizer muito. No entanto, e quando se tenta incentivar o pensamento para além do comprazimento, erguem-se as vozes descontentes e pouco complacentes.

A geração dos atuais vintes será aquilo que quiser ser. Para isso, contribui o contexto académico. Uma enorme oportunidade de nos entregarmos ao mundo como sujeitos participantes e racionalmente integrantes. Temos todas as ferramentas nas nossas mãos para assumirmos posturas personalizadas e íntegras. O que corre no sistema circulatório da universidade é o conhecimento. Está à mão de semear. Todas as oportunidades que surgem, na forma tanto de disciplinas como de atividades complementares, não se remetem à vertente profissional mas muito à pessoal. À estima de cada um, ao desenvolvimento de uma ótica de intervenção numa realidade que a todos pertence.

O conselho que fica aos recém-chegados é o de aproveitar tudo aquilo que a universidade tem para oferecer. Não só as pessoas e as culturas mas também aos valores, aos livros, às experiências e a outros recursos que esta tem na sua génese. Uma nota para todos aqueles que foram, são ou serão estudantes universitários: a vida não se remete ao trabalho e ao ganha-pão mas sim a conhecer, a experienciar, a viver e a amar. Nunca se esqueçam de cultivar as vossas profundezas com o melhor que o mundo tem. Eis a nova face da universidade como promotora da felicidade.