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Sociedade

WOMEN SUMMIT: O QUE É SER MULHER NO SÉC. XXI?

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Negócios e Empreendorismo

Com início às 9h30, o primeiro painel do dia centrou-se nos Negócios e Empreendedorismo. Contou com a presença de três oradoras, Adriana Reis Pinto, fundadora da Barrigas de Freira; Isabel Canha, diretora da Executiva; Ondina Afonso, presidente do Clube de Produtores do Continente e Sandra Correira, empreendedora e shareholder da Novacortiça. A jornalista do Vida Económica, Teresa Silveira foi a moderadora deste primeiro debate.

Teresa Silveira iniciou a discussão apresentando algumas estatísticas internacionais relativas à mulher: em 7,3 milhões de posições de chefia, apenas 2,6 milhões são desempenhadas por mulheres, no entanto, metade da força de trabalho na União Europeia é feminina.

“Ser mulher, hoje, no cargo que ocupam, é um constrangimento ou uma vantagem competitiva?”

Foi a primeira questão lançada pela moderadora às oradoras em palco. Ondina Afonso foi imediata ao responder que, para si, representava uma vantagem competitiva. Referiu, ainda, o conceito mulher 4.0 – “A mulher 4.0 nas suas quatro dimensões de mãe, profissional, de filha e companheira, tem de corresponder a estes desafios.”

Sandra Correia abordou a questão de outra maneira, e começou por esclarecer que a indústria da cortiça é maioritariamente masculina, e que ao entrar neste mundo, nunca entrou por cima – “Entrei ao nível deles, para mostrar que era uma mulher de campo.” Referiu a importância de ser humilde naquilo que as mulheres fazem, mas a importância de não se sentirem inferiores apenas por serem mulheres. Por sua vez, Adriana Pinto concordou com Ondina. A oradora contou ainda uma peripécia em que lhe perguntaram se, sendo uma engenheira de sucesso, sabia cozinhar, defendendo que é possível fazerem-se as duas coisas. Por fim, Isabel Canha fez referências às suas experiências contraditórias enquanto jornalista: “Não senti que tenha sido uma dificuldade ser mulher.”

A segunda questão do painel centrou-se na mentalidade masculina, e na necessidade de uma mudança. Isabel Canha deu continuidade à sua intervenção afirmando a importância de uma rede de apoio, tanto por parte do marido ou companheiro, como dos restantes familiares. “A mulher precisa mais deste apoio do que o homem, quando em posições iguais, porque é vista como a cuidadora.” Já Adriana Pinto partilhou a dificuldade que sentiu ao tentar guiar uma equipa de homens moçambicanos durante a sua experiência de voluntariado universitário. “Achavam que a mulher tinha de estar em casa, a tratar dos filhos.”, contou a oradora.

O primeiro painel do dia terminou com um pequeno espaço para perguntas por parte do público. As oradoras destacaram uma pergunta sobre a maneira como constituem as suas equipas e se preferem contratar homens ou mulheres. Em resposta, Adriana Pinto referiu que tenta sempre olhar para o lado das competências da pessoa candidata. Já Isabel Canha explicou que a sua equipa era constituída com três mulheres e um homem, o que terá sido acidental, mas que no passado já fez questão de contratar um homem para obter um certo equilíbrio.

Ondina Afonso encerrou o debate, dirigindo-se ao público: “Tenham bom senso. Acreditem, não desistam. Sejam resilientes e vamos ter um mundo melhor.”

Política e Sociedade

O segundo painel, centrado na Política e Sociedade, contou com as oradoras Carmen Amando Mendes, professora de Relações Internacionais na Universidade de Coimbra; Guilhermina Rego, vice-presidente da Câmara Municipal do Porto; Mariana Santos, fundadora das Chicas Poderosas e Rosário Gambôa, presidente do Instituto Politécnico do Porto. A moderação do debate ficou a cargo de Catarina Carvalho, diretora da área de revistas da Global Media.

De forma a iniciar a conversa, a moderadora lançou às quatro oradoras a pergunta “ainda estamos 20 ou 30 anos atrasados?”. A vice-presidente da Câmara Municipal do Porto foi a primeira a responder, negando este atraso em Portugal. “Nos últimos 40 anos, Portugal evoluiu muito, a vários níveis”, afirmou Guilhermina. Por outro lado, e fazendo referência à igualdade descrita na Constituição Portuguesa, a oradora referiu a falta do escrupuloso cumprimento das leis no nosso país. Defendeu ainda a existência de iniciativas como a Women Summit, dizendo serem necessárias para alertar a sociedade.

Rosário Gambôa concordou com a evolução de Portugal, afirmando que “a realidade nacional melhorou muitíssimo”. Para a presidente do IPP a questão da educação é fundamental, pois as grandes alterações fazem-se na transmissão de valores – o central é mudar a consciência das pessoas. No entanto, Mariana Santos optou por referir o lado negativo de Portugal, criticando a falta de celebração do sucesso das mulheres. “Se continuarmos a ter só homens no poder, isto vai continuar”, apontou a oradora, fazendo referência ao efeito da bola de neve.

A fundadora das Chicas Poderosas explicou ao público o conceito de Feminicídio, bastante presente na América-Latina, onde 12 mulheres morrem por dia.

Dirigindo-se a Carmen Mendes, a moderadora do debate lançou a questão “qual a importância das role models?”, ao qual a professora universitária respondeu: “faz com que a mentalidade vá mudando”. O facto de haverem cada vez mais mulheres a frequentar o ensino superior é um fator que leva a oradora a afirmar que o caminho tem vindo a melhorar para as mulheres. “Os meus estudantes vêm raparigas de sucesso nas suas turmas, docentes mulheres e a diretora é uma mulher”, contou Carmen.

Quando questionadas sobre as responsabilidades pessoais que tomam na matéria discutida, Rosário Gambôa respondeu que “aquilo que faço é tentar que as condições sejam condignas em relação a cada um. O compromisso ético é não fazermos de conta.”

No espaço de perguntas aberto ao público, um dos participantes questionou a competitividade entre as mulheres.

“Porque é que as mulheres são tão duras com as mulheres?”

Carmen Mendes defendeu que as mulheres, no geral, preferem trabalhar com homens. “Há desculpa se for um homem a passar-me a frente e a conseguir o lugar”, afirmou a oradora. Já Rosário Gambôa diz que as mulheres são postas em competição umas com as outras, que funcionam quase como prateleiras de supermercado: “estamos lá para sermos escolhidas.”

Arte e Cultura

Depois de uma pausa para almoço, Ana Aragão, arquiteta e ilustradora; Carla Caramujo, cantora lírica e Cristina Rodrigues, arquiteta e artista plástica subiram ao palco para iniciar o terceiro painel do evento, Arte e Cultura. A moderação ficou a cargo de Francisca Carneiro Fernandes, presidente do CA do Teatro Nacional de São João.

“Sentem que na área da arte, a desigualdade está menos acentuada?”

Foi a questão com que Francisca Fernandes abriu o debate em palco. Carla Caramujo afirmou que as diferenças de género são um pouco mais subtis no mundo da arte e da cultura, no entanto, a questão da maternidade ainda é um longo caminho a percorrer. “É bastante difícil competir com as mulheres que não são mães”, defendeu a cantora. Por outro lado, Ana Aragão discorda e sente que no seu caso estas diferenças não são assim tão subtis. Fazendo referência à história da arte, a arquiteta alertou que, por exemplo, no Museu de Washington, apenas 3 a 5% dos trabalhos expostas são assinados por mulheres. Defende que “é uma caminhada que está a ser feita, e que precisa de ser feita.” Cristina Rodrigues falou da sua primeira grande obra, que funcionou como uma homenagem à mulher portuguesa. A artista recorreu ao uso do adufe, e fotografou mulheres entre os 50 e os 90 anos. “A mulher é a minha maior musa”, esclarece Cristina.

O painel de Arte e Cultura recebeu perguntas mais direcionadas para o estado da arte e da cultura em Portugal, fugindo um pouco à temática da mulher. À pergunta “O que precisamos fazer para afirmar Portugal na arte e cultura?”, Ana Aragão deu a sua opinião dizendo que existe um certo perigo na ideia de que os países têm de ser marcas e vender-se para o exterior. Deu o exemplo da perda de identidade do artesanato português, que agora é maioritariamente fabricado para o turismo, apenas.

Carla Caramujo é defensora da importância de educar para as artes e a cultura: “é fundamental construirmos uma sociedade educada na arte e cultura”.

Ciências e Tecnologias

O quarto, e mais pequeno painel do dia centrou-se nas Ciências e Tecnologias. Moderado pela Co-Fundadora da Gene PreDit, Joana Branco, contou com a presença de Catarina Selada, Diretora do City Lab-CEiiA; Elvira Fortunato, vice-presidente da Câmara Municipal do Porto e Isabel Veiga, Investigadora ICVS na Universidade do Minho.

A ausência de discriminação nesta área de trabalho foi unânime entre as três oradoras em palco.

“Na ciência aquilo que conta é o mérito científico. É uma área em que há menos barreiras.”

Esta é a opinião de Elvira Fortunato. No entanto, Isabel Veiga defende que a geração de mulheres na ciência ainda não predomina o suficiente.

A importância da educação foi ainda um ponto defendido pela vice-presidente da CMP, que referiu a necessidade de se passarem valores aos alunos e filhos. Para a oradora tudo é possível, “não devemos colocar barreiras a nós próprios.” Catarina Selada afirmou ter sentido alguma discriminação na sua área, mas devido ao estado de Portugal, e não ao facto de ser mulher. Defendeu que a celebração do dia da mulher é um trabalho contínuo, e que devemos continuar a lutar para que o passado não se repita.

O evento encerrou com a apresentação do diretor da ONEWORLD, José Marques da Silva, que agradeceu a presença de todos, e principalmente o trabalho da equipa de organização. Maria Martins, um dos membros da organização, recém-licenciada deixou uma mensagem otimista para todos os futuros trabalhadores: para Maria Martins afinal o futuro não está assim tão limitado como durante muitos anos a fizeram acreditar.