Cultura
CORPO + CIDADE: DAR VIDA AO PORTO (TERCEIRO E ÚLTIMO DIAS)
Terceiro dia (Dia 9)
Tal como no dia anterior, o local de encontro foi a Avenida dos Aliados, onde os alunos do Balleteatro interpretaram O Baile, de Ricardo Ambrósio. Esta performance abordou a dinâmica socio-cultural que existe nos diferentes tipos de “baile”. O Baile foi uma actuação vibrante e cheia de energia, onde o público não podia desviar o olhar, pois perderia alguma coisa, algum movimento, algum olhar. Assim, esta actuação explorou as “relações explícitas e encobertas em alguns dos nossos rituais sociais”.
O festival seguiu para a estação de metro da Trindade. Aqui, às 17 horas, Flávia Tapias e Gaétan Jamard executaram Abundância, parte 1. A performance teve como inspiração os 7 pecados capitais, como a gula e a preguiça que iniciam a performance, mas sempre trabalhando “a concepção muito, do abundante”. Às 19h, retomaram a segunda parte com Abundância, Que dia é hoje?, que “aborda de forma bem humorada uma visão do consumismo desenfreado, sejam produtos ou ideias.”, mas também a relação entre homem-mulher, o desejo mútuo, que sofreu mutações (“misturam conceitos e transformam a forma de os sexos se enxergarem um ao outro”). “Se você acha que já sabe o bastante… você está oficialmente morto”, lê-se na descrição.
Flávia Tapias explica que “o projeto Abundância surgiu de um desejo de rever os conceitos e as exigências da vida moderna em todos os sentidos, inclusive na relação Homem-Mulher” e também na procura de “novos questionamentos para a cena”. A coreógrafa explicou ainda que, como mora “entre o Rio [de Janeiro] e Paris” para a criação deste projeto, teve a “co-produção do Rencontre Essone Dance” e numa audição encontrou Gaétan, o “que foi um feliz encontro!”. Em relação à adesão do público, Flávia Tapias considera que “o público foi capturado” como na estreia do espetáculo, acrescentando que ficou “muito feliz com o resultado e a resposta do público”.
O terceiro dia do festival contou ainda com a peça de Flávio Rodrigues, Circle, interpretada pelos alunos do Balleteatro. A actuação decorreu também na estação de metro da Trindade e teve como base o ritual, “um conjunto de gestos, palavras e formalidades, geralmente imbuídos de um valor simbólico, cuja performance é, usualmente, prescrita e codificada por uma religião ou pelas tradições da comunidade. Fonte: wikipédia”.
Último dia (Dia 10)
O último dia deste festival de performance urbana começou na Praça dos Leões, onde Valter Fernandes ou, no mundo do bboying, Bboy Sak criou um universo a partir do primeiro poema do livro de poemas Dispersão, de Mário Sá Carneiro. Na alTura partiu de um trabalho a solo deste dançarino que escolheu um texto que “fala da altura, do chegar a algum lado e de alcançar” e isso foi o “mote”. O Bboy Sak explicou ainda que quis “ir buscar essa parte criativa e do chegar mais além, não estar preso a qualquer coisa”, transmitindo a ideia de que “temos de nos desprender dos dogmas, das coisas que não nos deixam evoluir”.
A Praça dos Leões continuou a ser invadida pela cultura urbana com a actuação dos Zoo Gang, crew do Bboy Sak. Os preparativos para a performance começaram mais de meia hora antes, acumulando pessoas à volta do “tapete” que delimitava o palco. Às 17 horas, começou o show. Num ambiente de battle, os vários membros desta crew mostraram a sua “essência”. “Somos um grupo de rua, não há nada forçado”, conta o Sak. Assim, durante 15 minutos, o grupo pretendeu transmitir a liberdade, o à vontade e a diversão que sentem com o seu estilo de vida, “chegar a um certo local, pousar o tapete e prendermos as pessoas nesse momento”.
Desta Copa saltam folhas foi o trabalho que deu seguimento ao festival. A conceção desta performance esteve a cargo de Bruno Silva e Pedro Rosa, com a coreografia deste último, e foi interpretada pelos alunos do primeiro ano de dança e teatro da escola organizadora. Esta intervenção esteve integrada nos quatro projetos do Mestrado em Arte e Design para o Espaço Público selecionados pela organização do festival. Partindo da ideia de que somos assolados pela ideia de rotina e que os espaços verdes são o único escape, a “ação performativa” tomou conta de um “espaço eminentemente mineral, planeado, controlado, contaminando-o, confrontando a dureza e escala da arquitetura com o persistente agitar dos corpos”.
O Jardim do Carregal foi o local escolhido para a intervenção Walking Trees, também integrada nas intervenções do Mestrado em Arte e Design para o Espaço Público. Os vários intérpretes deambularam pelo jardim, “entre o corpo vivo e móvel do ser humano e o corpo morto estático da pedra”. Assim, Walking Trees explorou o contraste entre o “espaço e o corpo das árvores, ao mesmo tempo móvel e fixo”, apenas preocupado em viver.
O festival Corpo+Cidade encerrou no Teatro Municipal do Campo Alegre com o filme Dido e Eneias, de Filipe Martins, e com And so… the end, de Mariana Tengner Barros. O primeiro, integrado na série “A cidade e as suas coreografias”, de Né Barros e Filipe Martins, teve como objetivo “documentar a cidade”, captando “apresentações quer videográficas quer performativas derivadas da tensão entre documento e ficção”. O segundo tem como mote “Ser Brilhante”. A autora explorou o tema, “tanto a nível literal, figurativo (glamour, as roupas brilhantes e excessivas, a festa, o mundo das “estrelas”, celebridades, etc.) como a nível do significado da expressão (ser-se extraordinário, bom, esperto, genial, ter sucesso naquilo que se faz, ofuscar, refletir, luz, etc)”.Para além disso, Mariana Tengner Barros analisou o outro lado do “Ser Brilhante”: A voz anuncia uma verdade, enquanto o corpo mantém uma mentira alicerçada na ilusão. Um excesso de um aparente entretenimento, ataca com investidas para adiar um fim, para manter tudo na mesma, para prolongar uma forma que já expirou.
Por fim, com as doze badaladas, deu-se a festa de encerramento da primeira edição do festival de performance urbana Corpo+Cidade.