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Cultura

Les Saint Armand: Navegar na Casa da Música

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Constituída por Tiago Correia e André Júlio, ambos na voz e guitarra clássica, António Parra na voz e variados instrumentos, Aníbal Beirão no contrabaixo e Alex Rodriguez-Lázaro na bateria e percussão, a banda, formada em 2007, lançou o seu primeiro EP oficial em novembro do ano passado.

Em entrevista à Porta 253, Tiago desvendou que esta demora para o lançamento de um primeiro (mini)álbum foi pela procura de estabilidade e disponibilidade.

Depois de uma tour no último trimestre de 2016 que teve o seu desfecho no Maus Hábitos, no Porto, os Les Saint Armand voltaram à estrada, percorrendo salas em diferentes pontos do país. Depois de Coimbra e Guarda, regressaram ao Porto, à Casa da Música, no sábado, 29 de abril, onde o JUP acompanhou o concerto:

Faltam 5 minutos para a hora anunciada do concerto. São 22h25 e os lugares sentados do café da Casa da Música estão todos ocupados. O público acumula-se atrás das mesas, em pé. A sala está cheia, e a audiência conversa enquanto come ou bebe um copo.

No palco, esperam pelos músicos a bateria, as guitarras clássicas, o cavaquinho e o contrabaixo. As luzes fundem o rosa e o roxo. Quando Tiago, António, Alex, André e Aníbal chegam, ocupam os seus devidos lugares e preparam os instrumentos. Tiago ocupa-se da guitarra. André de um teclado de sopro. António do cavaquinho. Alex prepara a bateria. Aníbal anima o contrabaixo.

Sem aviso prévio, num processo de mutação entre a afinação dos instrumentos e a criação de uma harmonia entre o som de cada um, iniciam o concerto com Barco. Ao som da música, o público mostra-se ainda um pouco hesitante, e só uma minoria acompanha a letra. Terminada a música, a banda, através de Tiago, dirige-se ao público pela primeira vez, com um agradecimento e um “Boa noite!”. Alguns elementos do público sentam-se no chão em frente ao palco, rejeitando a distância à banda e o desconforto de estar de pé.

Surge Impaciência e Tiago larga a guitarra e fica apenas com a sua voz grave. António troca o cavaquinho pela maraca. A sala fica mais composta à medida que mais pessoas entram para assistir ao concerto da banda que foi alvo de destaque pela Time Out Porto, como um dos dez projetos do norte do país a seguir em 2017.

“Alguém conhece o Nó?” Questiona Tiago. O público responde afirmativamente, mais com sorrisos e acenos do que com palavras. António, com mil e uma variações, substitui a maraca pelo acordeão, vermelho, e tem dificuldades em prendê-lo corretamente, o que é resolvido com descontração. Como single do EP, é o mais bem recebido até este momento, e mais são aqueles que o cantam.

Tiago e António dão um gole nos copos de vinho, e denotam-se alguns sorrisos quando surge o verso “Tragam-me um copo vazio e deixem-me adormecer”.

A funcionária percorre as mesas à procura de louça suja e de quem não quer um copo vazio. O ambiente na sala é descontraído. Á medida que a música cresce, também o entusiasmo do público. No fim, os aplausos são enérgicos.

Avançam para Estrela da tarde, uma adaptação musical do poema homónimo de Ary dos Santos.

Alex, o baterista, pega nas vassouras, e é percetível a sensibilidade com que percorre os diferentes elementos da bateria. Toca dentro do seu próprio mundo, e o som extrapola para o lado de fora. Junta-se aos sons dos outros instrumentos, até chegar ao público, que o recebe com contentamento.

A música afunila-se até ao silêncio. O momento de suspense é interrompido pelas vozes de Tiago, António e André a capella. Os instrumentos regressam a meio do verso, e o som adquire maior escala por ser comparado com o silêncio anteriormente sentido. A melodia termina em aplausos e reações calorosas.

Com Erro Belo, a bateria dita o crescimento sonoro. O público acompanha-o, acenando a cabeça e batendo o pé.

Passam à “(Sem Título)” e a letra que se inicia com “És a rainha do presente” é dedicada à Sara, a amiga que faz anos.

Após um intervalo de vinte minutos, a banda volta ao palco e prepara-se para dar início à segunda parte. António, divertido, anuncia que darão continuidade à apresentação do powerpoint. O público ri.

No seguimento musical, ouvem-se os versos “Mas quem te deu o direito de escrever a meu respeito?” e “Deixa de escrever”. A caneta que seguro treme numa gargalhada. Já António segura e toca o piano de sopro e escutam-se as vozes de André e Tiago, o último sem a guitarra.

Prosseguem com a Ficava aqui, e percebe-se na plateia que é das mais conhecidas. António regressa ao cavaquinho, assim como Tiago regressa à guitarra. Regressam também os aplausos agradados.

O EP que a banda lançou em novembro, Nó, tem apenas 6 músicas. Tiago garante que os Les Saint Armand têm 30 no reportório, mas « estamos a ver se rentabilizamos mais », ao que António replica “Rentabilizar o quê?”. Os dois membros arrancam risos do público, e denota-se o tom informal e descontraído do concerto, com mais uma intervenção de Tiago “A próxima música é a Matilha, chama-se Matilha e fala de uma matilha”.

E assim o é. Em Matilha relembram os “outros tempos”, numa composição alicerçada em nostalgia. Alex deixa cair uma das baquetas pelo meio, e desenvencilha-se com a mão, que percute no tambor coberto pela toalha, até a reaver.

23h45 e apresentam o Truque, “uma música nova, de 2008”. António, que é também ator, agarra num novo instrumento, o glockenspiel, com sons similares a sinos.

Anunciam a última música: A Flor. António pega novamente no acordeão vermelho e mal se ouvem os primeiros versos (“Chega de mentira, a vida é uma cantiga”), com uma separação silábica verbal acentuada, acompanhados apenas pelas cordas da guitarra, o entusiasmo do público é palpável. A música, como quase todo o repertório dos Les Saint Armand, sofre alterações rítmicas significantes. A abertura é calma, suave, grave, e desperta a atenção dos elementos da plateia. Depois, a atenção acumulada culmina num ritmo enérgico e cativante. Esta sequência e paralelismo repetem-se na música e por toda a coletânea musical da banda. A música converge até ao êxtase do público, que aplaude fervorosamente.

É meia-noite e o concerto aparenta estar terminado, com um agradecimento em forma de vénia dos elementos da banda.

Poucos minutos depois, Alex regressa ao palco e explica ao público que têm mais uma música e estavam “à espera que gritassem “só mais uma””. Novamente, suscita-se o riso na audiência, e é realizado o desejo da banda.

Posteriormente a uma apresentação dos cinco elementos da banda, terminam (agora sim) com Quem regressa.

A abertura e fechamento do concerto unem-se nas pontas, e formam um círculo completo. A primeira música, Barco, indica que “o barco já partiu”, e alia-se à última, que declara que “quem regressa traz o odor do mar”. A bateria mete o ponto final no concerto e o público reage com entusiasmo, desfazendo-se em aplausos, satisfeitos pela viagem marítima e sonora.

Os Les Saint Armand  dirigem-se agora para Lisboa (4 de maio, Teatro Ibérico), Aveiro (6 de maio, GRETUA) e Tomar (13 de maio, Cineteatro Paraíso). Regressam a Tomar para atuarem no festival Bons Sons, a 12 de agosto.

 

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