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Crónica

AS JUSTIÇAS DE UMA CIÊNCIA INJUSTIÇADA

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Desde cedo que os rótulos surgem em relação àqueles que se dedicam à atividade laboratorial e experimental. A muitos, chamam de “cromos” de secretária, profundamente presos e remetidos aos seus contextos de trabalho. É um preconceito que, como muitos outros, é erroneamente formulado e formatado, numa perspetiva de, para se ser bem-sucedido, importa granjear fama e uma aura social estimulada. Se a realidade se sustenta e se difunde a partir dos meios que temos à disposição, é a eles que devemos agradecer.

É a mesma ciência que é descartada na hora de apoiar e de alimentar, por mais oportunas e pertinentes que sejam as oportunidades de investigação e de estudo. É o mesmo que abdicar de apoiar a educação, o grande pilar da formação e do desenvolvimento ininterrupto das diferentes gerações sociais. Não existem obstáculos a serem impostos, tanto na perspetiva de distinção pessoal, como nas próprias paixões que cada um tem. A ciência é o colmatar de um percurso educacional natural e consciente das potencialidades que o mundo tem para dar. Tudo no intuito, mais do que descobrir e de revelar, de evoluir o e no planeta onde vivemos.

A física, a química, a astronomia, a (tão desdenhada) matemática, aplicada e desdobrada na geometria, na trigonometria, na álgebra. Sem álgebra, não havia computação. Todos os sistemas operativos que sustentam as tecnologias de informação e comunicação atuais passam pela álgebra, descendente direta da desconfiada matemática. A própria economia é resultante da estatística e aritmética geometria de variáveis, que conseguiam cruzar a ciência com a sociedade. As ciências naturais convidam, assim, ao surgimento de ciências sociais, capazes de aplicar o método para criar conhecimento, e contribuir com significado para uma sociedade inclusiva e progressiva.

É neste prisma que importa refletir sobre o desinvestimento e sobre os dedos que se apontam à ciência. Nem tudo é desporto, especialmente o futebol, que move dinheiros e fundos e investimentos sem fim. Por mais que entretenha, por mais que anime e mova, não é, nem de perto nem de longe, o mesmo do que a investigação científica, versada e apontada para abraçar projetos e indagações. Não se negue que o desporto também é evolução, reiteração, insistência e treino, em que ideias e conceções técnico-táticas balançam e pululam por via de novas visões e perceções. Também isto é ciência, também isto é arte e reflexo de uma sociedade ativa e proativa, crítica ao ponto de abalar abordagens predefinidas.

Pelo meio, as marcas. As indústrias, que movem mais o capital financeiro que o humano e o cognitivo. A ciência, por aqui, perde-se, ofuscando-se num submundo onde foi injustamente prefixado. A ciência sempre foi o mundo, sempre se debruçou em hipóteses confirmadas e refutadas sobre aquilo que o mundo levantava, e tornava exequível problematizar. Dos planetas e corpos cósmicos além, das células e átomos microscópicos, a sua importância é imprescindível e impossível de ser posta de parte de uma visão agregada e complementada. O sistema onde estão pessoas, valores, ideias, elementos, seres e estares pede a ciência, pede essa predisposição para aprender, fazer e refazer realidades, descobrir pormenores que se tornam “pormaiores”. Um investimento em gentes, em paixões, em descoberta de prazeres e de fazeres que acrescentem, mais do que mal remexerem.

A ciência sempre se notabilizou em meios académicos, mas foi de lá que partiram para a generalidade e para a familiaridade do mundo, que conheceu Darwin, Newton, Galileu, Einstein, Lavoisier, para além dos sociólogos e psicólogos que fizeram das tripas coração para se proclamarem ciência. De metodologias várias, até fundações civilizacionais, é neste meio que saúde, segurança, sociedade, sustentabilidade permanecem a crescer. O ambiente é ciência. A lei fundou-se em premissas cientificamente sociais. O desporto parte de metodologias e de modelos científicos. A arte interliga e torna virtuosa a reverência da ciência. Qualquer passo atrás em relação ao que se apoia a ciência, mais do que controlar e subjugar o seu potencial criativo e empreendedor, é crítico para a sociedade.

Uma sociedade que pugna pela justiça, como um dos mais essenciais valores da sua existência e autonomia, não pode descredibilizar a ciência. A mesma sociedade cessaria de existir sem ela, que permanece a redescobrir-se com distinção e coordenação. Por muito que os interesses não se prenunciem como “cientificamente provados”, estes só serão repelidos com a ciência no caminho da verdade, capaz de investigar a revelar, e de revelar a investigar. A dialética que não esquece a filosofia e a religião, tidas e cridas como as especulações pensadas e estruturadas mais queridas. Faça-se justiça à injustiça da ciência.