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Cultura

PORTO EM VIAGEM COM A MÚSICA DE LEIRIA

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Já passava das 22 horas quando os Whales subiram ao palco. A banda de Leiria trouxe, desde o início, a autenticidade de uma eletrónica variada que, numa noite, nos levou a espaços mágicos e a terrenos onde apenas se dança. O arranque foi quase que um empurrão para uma outra dimensão ou um outro estado. Foi assim que os Whales se apresentaram e se mantiveram durante aproximadamente uma hora, construindo caminho para os esperados First Breath After Coma, também de Leiria.

“Vamos lá pessoal, vamos nos divertir”, dizia o baterista dos Whales. O segundo tema lança uma guitarra elétrica, que escondida no início, orientou o público até um ambiente mais progressivo. O baterista, ainda insatisfeito, pede mais palmas. O público não só obedeceu como, do centro, surgem duas muletas no ar, o que mostra a dedicação da sala a quem está no palco.

A forma como as vozes ecoam no espaço é já uma preparação para a harmonia a que estamos habituados dos First Breath After Coma. Ainda assim, os Whales mostram, ao público, saber, também, a força de um instrumental bem conseguido. Então, o Hard Club arrancou rumo ao espaço intergalático, como que um lugar indefinido e desconhecido, e sente que, aos poucos, aproxima-se do auge. Imaginamos que, em simultâneo com a música, dois lados opostos se encontram face to face e, no fim, acabam por se unir, tudo fica neutralizado, e ouvimos, novamente, a voz do vocalista. Uma rapariga, de olhos fechados, encosta-se ao seu namorado e canta ao de leve a letra.

O baterista entra, de novo, em cena e diz como é bom, para eles, tocarem numa cidade tão bonita. Depois de conhecermos aquilo que poderia ser o universo, descemos até à terra e, até nós, trazem dança. Mas o concerto só continuaria se, a pedido da banda, o público conseguisse bater palmas, ainda com mais força. E assim o fizeram e assim os Whales tocaram até ao fim e conseguiram, durante algum tempo, arrancar a atenção de um público faminto pela banda principal da noite.

A sala fica escura. Os First Breath After Coma sobem ao palco e prendem o público com “Salty Eyes”, do segundo álbum. A harmonia que há pouco falava, não tarda em aparecer e mexer com o nosso coração. De Leiria, a música portuguesa começa a sobressair, cada vez mais. Os First Breath After Coma são exemplo disso. Dedicam-se ao que fazem e mostram-no em palco, de olhos fechados, lábios cerrados, enquanto o seu corpo balança quase como um corpo morto.

Seja calmo ou mais ritmado, os olhos de cada um estão postos neles. Se a musica cresce, nós também crescemos, se decresce, o mesmo. Nós acompanhamo-los e eles a nós. A relação é recíproca. O nosso olhar caminha por cada um deles: começamos numa ponta e vamos até à outra ou do meio passamos para uma das pontas. A banda são cinco pessoas e os cinco acrescentam um pouco de si ao projeto. Não se trata, apenas, da voz principal, da segunda voz ou até da terceira. Juntas, umas seguidas às outras, intercaladas entre si, roubam a respiração.

Os dois temas que se seguiram fazem jus a um livro que o Telmo, um dos cinco, trouxe. O vocalista convida o público a embarcar com eles numa viagem que vão tentar que se torne única. Do público, grita-se um obrigado. Todos na sala sentiram a potência do refrão. Relembra uma batalha, representada por cada nota, acorde e movimento.

Uma sexta feira de outubro dedicada à música de Leiria, apoiada pela Omnichord Records, que não é só First Breath After Coma, mas é também Whales e Surma, entre outros. A banda relembra os trabalhos dos artistas e congratula-os. Entretanto, já prontos para iniciar, o banco do baterista começa a fazer barulho e ele ri-se inocentemente para o público, mas a sua coordenação e atenção à música é máxima. Cada toque no bombo ou no prato é continuado pelo movimento dos seus braços.

O público não se cansa e grita mais um obrigado. Do vocalista sai um “de nada” humilde e envergonhado. O fim do concerto estava próximo. O dilema era real: o público aguentava uma noite inteira ao som de First Breath After Coma, mas a emoção já tinha sido toda arrancada pela música. A “Blup” marca a despedida, mas ninguém os parece querer largar. O público acompanha com palmas.

Estávamos enganados quando a banda entra, novamente em palco, para uma última música, “Almadraba” do primeiro álbum. Anunciam o terceiro álbum que vão começar a preparar no inverno. “E pronto foi só isto”, diz o vocalista enquanto acenam e saem do palco.

No final, na cabeça de todos, repete-se um obrigado geral, por, naquela noite, duas bandas mostrarem que a música portuguesa também emociona, arrepia, faz rir e chorar, põe os cabelos em pé, mas também acalma a alma.

A Tomorrow Comes Today é uma conferência que, anualmente, discute o passado, o presente e o futuro da indústria musical a nível internacional. No próximo ano, o evento chega ao Porto em outubro.

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