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Cultura

MUNDO DE STEVE MCCURRY ENCANTA OS PORTUENSES

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Visitámos a exposição “The World of Steve McCurry” num domingo de manhã. A sala, no andar superior do edifício da Alfândega, estava repleta de fotografias – ao todo, 250. Dispostas pela sala, as fotos como que caem do teto, presas por fios metálicos, muitas com telas pretas por trás, escondendo outras fotografias – e o público passeia no meio delas.

Muitas das fotografias são os trabalhos mais reconhecidos do fotógrafo – como a “Menina Afegã”, capa da National Geographic em 1985. Estão também em exposição algumas fotos não publicadas, incluindo umas a preto e branco,  da primeira reportagem que Steve McCurry fez no Afeganistão, entre 1979 e 1980.

Para além das fotos, podem ser  também ser vistos  dois documentários da National Geographic. Um deles fala da carreira fotográfica do artista, das inúmeras viagens que fez pelo mundo, e das suas peripécias que marcaram muitas delas. Numa sala mais pequena, ao lado da sala da exposição , pode ver-se o filme que relata o reencontro de Steve McCurry com Sharbat Gula, a famosa “Menina Afegã”, 17 anos depois de a ter fotografado pela primeira vez.

A exposição é complementada por áudio-guias, que, pela voz do próprio Steve McCurry, contam, na primeira pessoa, a história por detrás de muitas das fotografias, tiradas nos vários cantos do mundo – sobretudo no Médio Oriente, mas também África, Japão, Cuba ou Brasil.

Passeando pela sala, estavam entre 20 e 30 visitantes, de todas as idades  – alguns turistas, mas a grande maioria portugueses, sobretudo casais e famílias. Agarrados aos áudio-guias, observavam as fotografias, tecendo depois comentários entre si. Aqui e ali, iam-se ouvindo frases como: “Esta está espectacular!”, “aqui mostra mesmo a miséria…”, “olha as cores, olha as cores!”, ou “realmente a composição aqui está incrível”.

Falámos com um jovem casal, Sónia Teixeira e José Carlos Pereira, que admirava atentamente as fotografias. “Somos dois fãs do Steve McCurry”, diziam, e “dois fotógrafos amadores”. Ainda no início da visita, não escondiam as suas grandes expectativas em relação à exposição. “Sigo o trabalho dele desde que comecei a gostar de fotografia”, afirmou José Carlos – “É uma referência, sobretudo a nível de composição fotográfica”.

Junto a outra fotografia, encontrámos Cândida Palmeirão. Deslocou-se à Alfândega do Porto porque “já conhecia o Steve McCurry”, sobretudo as fotografias premiadas, e “queria ver mais trabalhos dele”. No entanto, deixou uma crítica à forma como a exposição está organizada: “Estou a gostar”, mas “estou um bocadinho perdida… tenho de passar várias vezes no mesmo sítio…! Isto é um labirinto, não há sequência… mas se calhar é essa a ideia!” Referiu ainda que, para se ver bem as fotografias todas, era “preciso ver a exposição com muito tempo.”

Bombaim, India, 1996. DR Steve McCurry

Susana Murteira, lisboeta, teve de vir ao Porto e, “já agora”, aproveitou para vir ver “The World of Steve McCurry”. “A exposição é imperdível”, comentava connosco. “É o testemunho de muitos acontecimentos no mundo, a expressão da beleza humana e da vida de pessoas do mundo, visto por Steve McCurry… de situações que ele viveu.” No entanto, confessava, “só é pena o preço, que nem todos poderão pagar”.

Pouco depois, ouvíamos Susana dirigir-se à mãe: “Mãe, anda cá ver este, está genial!” – referia-se a uma fotografia tirada em Bombaim, na Índia, em 1996, onde se veem pessoas a rezar, no chão, enquanto uma rapariga de vestes amarelas e verdes passa, carregando latas ao ombro.

Como afirmava Susana Murteira, a obra de Steve McCurry é um espelho do multiculturalismo, da “diversidade da vida humana” e da sua heterogeneidade. Uma fotografia em tons de terra mostra um rapaz indiano com uma cobra ao pescoço; um homem leva três cigarros à boca ao mesmo tempo; um rapaz exibe uma metralhadora de guerra; uma mulher posa com o filho à janela, num edifício pintado com a bandeira cubana…

A famosa fotografia da “Menina Afegã” não está no centro da exposição, ao contrário do que se poderia esperar. Dizia Steve no áudio-guia: “esta fotografia é, provavelmente, a mais importante da minha vida” – contando a história de como a tirou, numa escola de um campo de refugiados no Paquistão. A menina foi fotografada pela “primeira vez na vida”. Muito próxima, está a fotografia da “menina”, quando Steve a voltou a reencontrar, 17 anos depois.

"Afghan Girl", Paquistão, 1984. (DR Steve McCurry)

“Afghan Girl” – Paquistão, 1984. (DR Steve McCurry)

Quase ao lado, está outra fotografia bastante conhecida. É uma cena de rua, onde se veem sapatilhas penduradas  e várias mulheres muçulmanas, de burqa, de costas para o fotógrafo, a fazer compras. A propósito dessa foto, ouvíamos o autor dizer, no áudio-guia: “Gosto de sair à rua, de deixar os meus olhos guiarem-me (…); a capacidade de observação é a essência da fotografia”.

Cabul, Afganistão, 1992. (DR Steve McCurry)

“Women shoppers dressed in the traditional burqa” – Cabul, Afganistão, 1992. (DR Steve McCurry)

Comentando uma fotografia de pescadores sentados em postes, tirada no Sri Lanka, afirmava que, muitas vezes, foi preciso “esperar e ter paciência para finalmente obter a captura perfeita”.

Sri Lanka, 1995. (DR Steve McCurry)

“Stilt fishermen” – Weligama, Costa Sul do Sri Lanka, 1995. (DR Steve McCurry)

As fotografias em exposição contam 250 histórias diferentes, tendo como cenário os quatro cantos do mundo – mundo este, visto pelos olhos de Steve McCurry, e por ele narrado na primeira pessoa.

A exposição “The World of Steve McCurry” tem a curadoria de Biba Gianetti  e poderá ser visitada na Alfândega do Porto até ao fim do ano.

Steve McCurry estará, ele próprio, na Alfândega do Porto, a 25 de outubro, pelas 20 horas, para uma sessão de autógrafos – sujeita a marcação.

Está também prevista a realização de vários workshops de fotografia, no âmbito da exposição, em datas a anunciar.

 

 

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