Artigo de Opinião
A ERA DA “DESEUROPEIZAÇÃO”?
Domingo a Europa foi a votos. Digo a Europa mas, na verdade, deveria dizer meia Europa. Nem isso, pois de acordo com as notícias que encheram o universo mediático europeu no dia seguinte, apenas 43,1% dos eleitores europeus fez uso do seu direito de voto.
Em números aproximados, votaram 172 dos 400 milhões de eleitores. Permitam-me criar uma imagem: olhando à demografia actual dos países europeus, a população que votou este Domingo corresponde mais ou menos à população total da Alemanha, da França e do Reino Unido juntos. Não mais. Apenas 3 países, num total de 28.
Não considero, apesar disso, ser a taxa de abstenção europeia o problema mais grave que surge no rescaldo destas eleições, se a perspectivarmos globalmente. De facto, face a 2009, a participação nestas eleições até aumentou 0,1%. Grave é quando analisamos as taxas de abstenção país a país e retiramos daí algumas conclusões.
Onde se vota mais na Europa? Mais importante, onde se vota menos? As estatísticas provisórias destas eleições dizem que onde mais se votou foi na Bélgica e no Luxemburgo (90% de participação). Já a Eslováquia e a República Checa foram os países onde menos se votou (13 e 19,5% de participação, respectivamente), seguidas de perto pela Eslovénia (21%) e Polónia (22,7%). É portanto no bloco dos países do leste da Europa que encontramos, em geral, as maiores taxas de abstenção. Pelo contrário, são os países mais no “coração” da Europa onde mais se vota. Vemos assim o reflexo de onde se acredita na EU, ou onde se acha que, com a UE, vêm outros benefícios. Contudo, nem mesmo no leque dos países que mais beneficiam em ser membros da EU, os cidadãos acreditam realmente nesta. E dentro dos que acreditam, a maioria ficou em casa. Considerou que não valia a pena ir votar para o futuro da UE, o que, olhando bem as coisas, deixa a UE sem grande futuro.
Mais grave contudo, que os números, são as cores. E o peso crescente de partidos de extrema/radicais (à esquerda e à direita) em vários países da UE, que tomou esta semana uma proporção assustadora. Digo assustadora porque se tornou real. Na França, a Front National, partido de extrema-direita, ganhou as eleições. Na Grécia ganhou o Syriza, da extrema-esquerda. No Reino Unido ganhou o UKIP, partido pela independência. E vários outros países elegeram pela primeira vez deputados de partidos radicais.
O que têm todos estes partidos e deputados em comum? São anti-UE. Anti-União Europeia. Anti-euro. Anti-Europa. É irónico que se aceite no Parlamento Europeu alguém que defende o fim desse mesmo Parlamento. Esta é, todavia, uma realidade crescente, fruto de uma Europa sem rumo, fruto de medidas políticas ineficazes, da permissão do enriquecimento de alguns à custa do prejuízo de muitos outros. Este ponto que pode marcar o início de mudança política profunda por toda a Europa e, ao mesmo tempo, o fim da União Europeia como a conhecemos, é fruto de uma Europa que se esqueceu de si própria. Que se esqueceu que mais do que um gigantesco aparelho burocrático, mais do que uma aliança política entre estados, deveria ser uma aliança entre povos. Não uma união de um só povo, mas 28 povos que se entendessem, que se respeitassem, que trabalhassem em conjunto para o bem-estar desse mesmo conjunto. A utopia europeia.
Henri Malosse, o presidente do Comité Económico e Social Europeu, disse no rescaldo destas eleições que o resultado mostrava que “as grandes questões que preocupam os cidadãos europeus não foram abordadas”. Não podia estar mais de acordo. Há já algum tempo que a Europa não responde às questões, nem às necessidades dos seus cidadãos, nem tão pouco aos seus deveres enquanto organização internacional. A grande questão, contudo, que portugueses, eslovenos, croatas, franceses, alemães, enfim, todos os mais de 200 milhões de eleitores que se recusaram a votar este Domingo querem ver respondida, jamais o será em campanhas eleitorais: o que tem ainda a União Europeia a oferecer aos seus cidadãos?
Jorge Ferreira
05/06/2014 at 02:38
A U.E. não tem que oferecer nada aos seus cidadãos. Considero-me cidadão português, essa é a minha pátria, não a U.E.
“A minha pátria é a língua portuguesa”.
A U.E. é um projecto forçado, que subordina as culturas dos povos aos interesses económicos. Sim, porque a U.E. é, antes de tudo!, um interesse económico!
A cultura é muito mais importante. É a nossa vida.
Morra a U.E., morra! Pim.