Connect with us

Política

A DIPLOMACIA POR DETRÁS DO SUCESSO PORTUGUÊS

Published

on

“Num intervalo de dois anos, dois portugueses situaram-se na direção da União Europeia (José Durão Barroso, 2004-2014), e na direção das Nações Unidas (António Guterres, 2016), algo incompreensível se medirmos a dimensão do país, de apenas 10 milhões de habitantes. Mas o tamanho não importa.” Foi desta forma que o jornal espanhol El País reagiu à eleição de António Guterres para o cargo de Secretário Geral da ONU, optando por destacar o facto de Guterres ser originário de um país notoriamente pequeno.

O corpo diplomático português é a peça chave para que as nomeações se consumem, já que muitas das decisões são baseadas em negociações de bastidores para as quais a experiência, a paciência e a inteligência dos embaixadores são fundamentais.

Aquando da eleição de Guterres, Carlos Moedas, outro português em destaque na cena internacional ressalvou esta mesma realidade: “É também uma vitória da diplomacia portuguesa. Portugal tem uma diplomacia extraordinária, uma máquina diplomática capaz e isso é extraordinário para o país”, afirmou em declarações aos jornalistas.

Desta forma, relembramos alguns dos momentos altos da diplomacia nacional, que se manifestaram na eleição de portugueses para altos cargos internacionais.

Mário Centeno – Presidente do Eurogrupo:

Mário Centeno tornou-se o mais recente político português a assumir um cargo internacional quando assumiu o cargo de líder do Eurogrupo. A partir de dia 12 de janeiro, Centeno passou a ter o poder de decisão em termos de políticas monetárias europeias, ao mesmo tempo que tem a seu cargo a responsabilidade de gerar consensos no seio das reuniões mensais do organismo.

Para a sua eleição foi determinante a paciência e a espera pelo momento certo para avançar, já que o português não era desde o início o favorito da família socialista para o cargo, algo que a recuperação económica portuguesa veio alterar, juntamente com a desistência de outros potenciais candidatos.

António Guterres – Secretário Geral das Nações Unidas e Alto Comissário das Nações Unidas para os Refugiados:

O momento de maior relevância e notoriedade da diplomacia portuguesa até à data terá sido a eleição de António Guterres para Secretário Geral das Nações Unidas a 5 de outubro de 2016.

A forma como desempenhou o cargo de alto comissário das Nações Unidas para os Refugiados valeu-lhe inúmeros elogios – nomeadamente o de ser capaz de “impulsionar a paz de forma inédita” face às dificuldades que enfrentou durante o seu mandato: em nenhum outro período da história se registaram tantas pessoas deslocadas dos seus países de origem devido a conflitos.

Quando Guterres anunciou a sua candidatura, o antigo primeiro-ministro sabia que iria enfrentar um novo sistema de eleição promovido pela organização – que tinha como objetivo promover a transparência de todo o processo – e o desejo generalizado de que o novo secretário geral fosse originário da Europa Oriental e, sobretudo, que fosse uma mulher a assumir o cargo. Mesmo assim, as capacidades comunicativas e o discurso claro do português levaram a melhor.

Jorge Sampaio – Alto Representante das Nações Unidas para a Aliança das Civilizações:

Um ano depois de ter deixado o cargo de Presidente da República, Jorge Sampaio foi nomeado alto representante das Nações Unidas para a Aliança das Civilizações. Uma pasta que está intrinsecamente ligada às Nações Unidas e que tem como principal objetivo chegar a acordos entre as noções de modo a colocar um fim a conflitos religiosos e culturais.

Sampaio foi detentor da pasta até 2013 e na sua despedida deixou palavras de satisfação face ao desempenho do cargo e de ambição em relação ao futuro: “O que é preciso não é falar, é fazer. Chegou a hora de marcar uma nova agenda para combater a intolerância ou o extremismo”. O antigo chefe de Estado exerceu também funções de enviado especial do secretário-geral da ONU para a Luta contra a Tuberculose.

José Manuel Durão Barroso – Presidente da Comissão Europeia:

A liderança de Durão Barroso representa, até à data, o mais importante cargo ocupado por um português a nível europeu. No dia 22 de julho de 2004, o antigo chefe de governo reúne a unanimidade dos votos do Parlamento Europeu – 413 a favor, 251 contra, 44 abstenções e três nulos – e torna-se o 12º presidente da Comissão Europeia num mandato que viria a ser renovado 4 anos depois e que ficou marcado por inúmeras dificuldades, nomeadamente a vitória do “não” em França e na Holanda, aquando do referendo à Constituição Europeia.

Como ponto alto da sua governação pode apontar-se a assinatura do Tratado de Lisboa, 2007, através do qual foram introduzidas mudanças significativas no funcionamento das instituições europeias, algo que se reflete no aumento de poderes das respetivas instituições.

O período que se seguiu à passagem de Durão Barroso pela Comissão Europeia ficou marcado por uma série de acusações devido ao novo cargo do português: executivo e consultor do Goldman Sachs International.

O Comité de Ética da Comissão Europeia foi chamado a pronunciar-se em resposta ao atual presidente da Comissão, Jean-Claude Juncker, que requereu um parecer a este órgão. Juncker fez saber que Barroso “não demonstrou a sensatez que se poderia esperar de alguém que ocupou o cargo de presidente durante tantos anos”.