Política
Europa, ainda estás aí?
Em 1957, seis países europeus juntaram-se com uma ideia: cooperação internacional. Nasce, assim, uma organização que mais tarde viria a ser a União Europeia. A UE, como nós a conhecemos, foi criada segundo princípios basilares como a proteção das liberdades e dos direitos fundamentais, a garantia da igualdade, da segurança e o respeito pela democracia. Estes ideais sempre foram respeitados, no entanto, nos dias de hoje, a realidade é outra.
A Europa política têm sofrido alterações, em grande parte devido à crise económica. Entre essas alterações encontramos o surgimento de partidos populistas ou de extrema-direita e movimentos nacionalistas e independentistas. Esta onda de segregação começou em 2014, com a intensificação da crise dos refugiados. A União Europeia aceitou recebê-los, mas houve países que recusaram, inclusive, em 2017, a UE iniciou um processo contra a Hungria, Polónia e Budapeste pela sua recusa em participar no programa. O avançar destas políticas anti-imigração expandiu-se num contexto de desemprego e conflito social, deixando o caminho livre para a propagação de ideologias extremas como o neofascismo, nacionalismo exacerbado e a xenofobia.
Na Polónia, cartazes a apelar uma “Europa branca ou então desabitada” invadiram Varsóvia, em novembro do ano passado, numa manifestação que contou com 60.000 polacos. Todavia, estes ideais não se manifestam apenas nas ruas, mas também no governo: o partido populista Lei e Justiça regressou ao poder com o lema “Os polacos primeiro”. Lema este que remete para um dos slogans de Donald Trump, conhecido pela sua postura radical para com os imigrantes e pessoas de outras etnias e raças.
Outro caso alarmante é a Hungria. Pela terceira vez, Fidesz, o partido de direita, ganhou as eleições legislativas com uma maioria esmagadora. Viktor Órban fez alterações à constituição que o permitiram concorrer uma terceira vez ao cargo de primeiro-ministro. Defensor da “herança cristã”, Órban sustentou a sua campanha com políticas anti-semitas e nacionalistas. Foi, ainda, congratulado por vários líderes de partidos de extrema-direita da Europa, como Marine Le Pen, da França, Geert Wilders, da Holanda e Mateusz Morawiecki, primeiro ministro polaco, que partilham estas mesmas ideias. Também na Áustria, Itália e nos países do norte da Europa as forças conservadoras ganham peso político. No entanto, este avanço não se verifica apenas no plano interno mas também a nível internacional. No Parlamento Europeu conta-se um grupo parlamentar de extrema-direita, o Europa da Liberdade e da Democracia, composto por 31 eurodeputados.
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Ainda assim, esta onda de conservadorismo não veio sozinha. Cada vez mais surgem movimentos independentistas. O que uma vez foi um ideal europeu, agora a ‘união’ perde significado a cada hora que passa. Os estados multinacionais sofrem com o desejo de independência das várias nações que abrigam. Um dos mais antigos exemplos é o caso da Escócia, que quer a independência do Reino Unido. Às portas da Europa, o autodenominado Curdistão Iraquiano, quer a separação das duas nações: curda e iraquiana, e mais recentemente, a Catalunha, que tem enfrentado grandes obstáculos na procura da sua liberdade
Desde a Segunda Guerra Mundial que não se registava um tão grande avanço das ideias de extrema-direita. Este clima de segregação e espírito individualista está a criar uma “nova Europa”, estranha aos seus príncipios basilares. Levanta-se a questão: será possivel a história repetir-se?