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Cultura

MILHÕES DE FESTA: A FESTA ACABOU EM SILÊNCIO APÓS UKAEA BENZER O PÚBLICO

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Passou rápido mas ficará, certamente, na memória. A 11ª edição do Milhões de Festa terminou de forma tão intensa quanto começou. A programação para o último dia do festival deixava adivinhar várias surpresas. Desde as percussões enigmáticas de Paisiel, até ao psicadelismo exótico dos The Heliocentrics, era de esperar mais um dia de divergências rítmicas e experimentalismos performáticos. João Pais Filipe e Julius Gabriel (Paisiel) criavam o ambiente de ambiguidade sonora, enquanto a piscina se enchia de pessoas. Não houve dúvida, os festivaleiros queriam aproveitar o último dia de mergulhos. De seguida, Tajak abanava as cabeças do público com sonoridades vindas do fim-do-mundo. Os mexicanos escureceram o Palco Piscina, fazendo chegar aos banhistas a vibe psicadélica. Para equilibrar os ânimos, o coletivo Suave Geração partiu o melão ‘bem partidinho’ e colocou-o ao dispor de quem quisesse.

Ultimavam-se os preparativos para os hipnotizantes Pharaoh Overlord – composta por três elementos dos Circle – quando, no Palco Taina, começava a rave. A Festa da Abelha Gorda – da curadoria FAT OUT – recriou, numa tarde, as festas de Manchester. Com GSY!PA, Marilyn Misandry, Queen Bee Supergroup e Croww, o coletivo levou o público numa viagem alucinante. No início, havia glitter a ser distribuído pelos corpos da plateia. Entretanto, tecidos amarelos e pretos foram colocados entre os postes do Taina. Figurinos desconexos, make-up colorida e uma white fairy a distribuir pins da festa deixavam adivinhar momentos inesquecíveis. E foi durante a performance de Queen Bee Supergroup que o público aqueceu. Explosões de glitter e encruzilhadas de corpos e tecido ao som experimentálico de instrumentos artesanais e gemidos penetrantes vindos do palco.

A rave continuou no Taina até à abertura do Palco Milhões com The Heliocentrics. O grupo londrino elevou o público numa mistura de referências musicais intensa, acompanhados de visuals flutuantes que intensificavam a experiência. Seguiu-se uma das mais aguardadas performances. Mouse on Mars abriu o Palco Lovers e, entre disparos atordoantes e suspensões abismais, fizeram um espetáculo audiovisual que imperou na imprevisibilidade das frequências. Outro grande momento da noite aconteceu com Os Tubarões. A relevância histórica e política da banda faz de cada concerto uma rememoração emocionante, mas é a energia da música que quebra a resistência ao género musical e põe a plateia toda a mexer.

Chegou o momento de UKAEA, também parte da curadoria FAT OUT. No início, apenas se avistavam duas pessoas no palco, com a projeção de uma imagem que aludia à estética de figuras religiosas. De forma imprevisível, surge uma procissão que se dirige ao palco. Túnicas brancas, um andor de madeira e um corpo que atravessa o recinto de pé, no andor. Interartística e participativa, a performance envolveu o público num ritual hipnotizante com a plateia a seguir os indivíduos de branco. A criação artística desconstruiu códigos associáveis ao culto e à religião – incluindo momentos ligados à já referida procissão e, até, à bênção – criando, assim, um sentido de unidade entre os presentes. A sonoridade foi progredindo do espiritual ao frenético e, pelo final, já o público estava rendido ao United Kult of Animist Endgame Apostles.

Depois da experiência imersiva, o fecho foi dado em silêncio no Taina. Silent Disco foi o projeto escolhido para encerrar o festival, pondo toda a gente a dançar em silêncio. Influências turcas chegavam dos discos de Anadolu Ekspres, a dupla que – em canais diferentes – chegava aos phones do público. Este só tinha de escolher o Dj que queria ouvir e dançar em ‘silêncio’.

Em retrospetiva, o festival cumpriu com a promessa de divergência de estilos e contou com a adesão de um público flexível e interessado em experiências diversas. Resta aguardar pela 12ª edição do festival.