Crónica
19 RESOLUÇÕES PARA 2019 BY JUP
2018 terminou. Gente nasceu, gente morreu, gente sentiu-se ofendida. Hoje é tudo assédio, violação, trendy, vintage, influencer.
A vitória da diversidade e da inclusão tem sido cantada aos ventos de um terrorismo intelectual do politicamente correto que espreita a cada tweet de João Quadros. A gritaria histérica, acrítica, generalizada e banalizada é, a meu ver, a grande marca de 2018. O ruído na voz dos que exigem mudanças tem, ironicamente, sido um obstáculo às mesmas mudanças, pela dificuldade enorme de filtragem entre a luta genuína e a autopromoção e vitimização amplamente lucrativas.
Mas deixemos estas filosofias de merceeiro para os life coaches desta vida, que entraram nas livrarias como Cristiano Ronaldo entrou em Kathryn Mayorga: sem ninguém dar por isso e de forma não consensual. 2019 chegou e, lamentavelmente, as resoluções de ano novo também. À falta de resoluções pessoais efetivas para o ano que agora começa (para além de um muito português “para o ano é que é”), e à provável falta de interesse do leitore (com “e” para ser mais inclusivo) em saber as minhas resoluções, deixo, em nome do JUP (ou então talvez não, para não comprometer duas dignidades), 19 resoluções que gostaria de ver concretizadas em 2019:
- Propor em Assembleia da República a abolição de piadas sobre já não ver alguém desde o ano passado
- Descobrir o que se passou em Tancos
2.1 Parar de fazer reportagens sobre o que não se descobriu sobre Tancos
- Começar a combater seriamente o terrorismo em Portugal, a começar pelas Capazes
- Colocar os youtubers a limpar as matas, matando dois coelhos de uma cajadada. Ou juntando o útil ao agradável, caso o leitor seja simpatizante do PAN
- Criar o rendimento de inserção social pós-reality shows
- Fundar uma comissão de acompanhamento indumentário para os novos alternos se pararem de vestir como os velhos mitras
- Reivindicar um subsídio para a compra de máquinas fotográficas profissionais para jovens compreendidos entre os 13 e os 30 anos, para fazer face às duras exigências da rede social Instagram
- Realizar um workshop de civilidade para os que acham uma vergonha que as greves efetivamente prejudiquem os cidadãos
- Deixar de ser a NOS a fazer a instalação e manutenção dos equipamentos de comunicação do SIRESP e do VAR
- Repensar a validade dos penteados à Rui Rio/Pedro Santana Lopes
- Para evitar violências coercivas, passarmos a cumprimentar os nossos avós do seguinte modo (a partir do minuto 1:40)
- Atualizar o jogo “Onde está Wally?” para uma versão mais apelativa, chamada “Onde está o deputado?”
- Mais “Último’s a Sair”, menos “Casados à Primeira Vista” (tentei)
- Mais restaurantes cujo principal ponto de interesse é a comida e não a decoração de interiores
- Mais falos em museus, e mais entendidos em falos a comentar falos em museus
- Que Donald Trump acabe de construir o muro que cerca os Estados Unidos do resto do mundo
- A alteração do nome do festival Primavera Sound para Primavera Reggaetrap
- Que fiquem em 2018 as dietas paleo e sem glúten, as camisas havaianas, os automobilistas que param o trânsito para ver o acidente da faixa contrária, bem como as pessoas que jogam Fortnite e dizem “mêmo top” – passe a redundância
- E por fim, para salvaguardar a quota de seriedade e de politicamente correto desta lista, enquanto rookie jupiano, desejo um ano de 2019 com muita intervenção académica e social nos temas relevantes, seja pela via da palhaçada, seja por outros meios menos dignos
Margarida Alpuim, jornalista do Sapo 24, deixou um repto para este ano: “que em 2019 sejamos capazes de nos demorar mais onde temos passado a correr”. Como nota final, acrescento: que em 2019 façamos um scroll bem a correr no ruído superficial, para que sejamos capazes de tocar uma sinfonia calma e profunda. E inclusiva, claro.
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#Deusnocomando
#Nopainnogain
Artigo de João Pedro Mendes. Revisto por Adriana Peixoto.