Artigo de Opinião
RIZOMA
Para os que pensam que cidades são círculos desenhadas nos mapas, aconselha-se verificarem esta cartografia onde o branco representa vias e edifícios, e o vermelho, auto-estradas, vias rápidas, aeroporto e portos.
Entre A-Ver-o-Mar e Paramos ou entre o Atlântico e Penafiel não saberíamos dizer onde é que começa e acaba o que quer que seja – o Grande Porto não é um sistema planetário com um círculo central (o Porto) e outros girando à sua volta (Matosinhos, Maia, Gondomar, Valongo, Gaia…); as “cidades” com suas morfologias e limites supostamente definidos, diluíram-se neste inextricável rizoma ou novelo onde as redes se enredam.
Esta é a questão: perdida a clareza da dicotomia cidade/campo, não se sabe que outra coisa chamar a este artefacto territorial. Para os que teimam em chamar e identificar coisas novas com nomes velhos, isto seria um mosaico de centros, periferias, subúrbios, espaços verdes, auto-estradas, loteamentos…, insistindo que a urbanização cresce em “mancha de óleo” a partir de um centro (o Porto, claro) e por aí adiante. Pode que não seja.
Imaginemos por momentos que cidade é uma palavra vazia de sentido por excesso de sentidos, e que urbanização ou urbano dispensa uma abordagem a partir da forma. Por defeito, urbanização é tudo o que acontece desde que a agricultura passou a ser uma actividade residual em termos de criação de riqueza e emprego (não chegará a 3% do Produto Interno Bruto nacional). É o desenho das infraestruturas que mais no esclarece acerca deste facto. Os diversos sistemas e redes infraestruturais – água, saneamento, electricidade, gaz, telecomunicações, estradas, portos, aeroportos, caminhos-de-ferro,… -, constituem imensos e complexos sistemas de próteses sócio-técnicas que constituem o suporte e a viabilização da territorialização da sociedade e das suas actividades. Em cada lugar do território existe uma infinitude de situações – vantagens e desvantagens – que permitem combinar estilos de vida, oportunidades, relações, ambiências.
Na medicina, as próteses repõem, complementam, substituem ou expandem as funcionalidades do corpo e do espírito. As próteses infraestruturais possibilitam funcionalidades e usos; definem posições, proximidades, distanciamentos, encravamentos, etc. O território será, por isso, a resultante de um sistema de equações onde as infraestruturas contam cada vez mais, acrescentando novas dimensões e possibilidades. Haja uma auto-estrada, uma fibra óptica ou uma rede sem fios, uma rede eléctrica… e ver-se-á o que é que pode acontecer que antes não acontecia. É a vida.