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Cultura

PAULO PINTO, DEDICAR A VIDA À CULTURA HIP HOP

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O início do mês de Julho veio com a triste notícia de que a Vicious Events vai parar por tempo indefinido. O Big Boss do Hip Hop tuga promete voltar assim que possa, mas, enquanto isso não acontece, deixou esta entrevista, uma verdadeira demonstração de que é incrível conseguir trabalhar naquilo que se gosta. Entre risos e nachos, Paulo Pinto contou ao JUP um pouco do que o move e, claro, do que move a Vicious Events.

Qual a tua ligação com a cultura Hip Hop?

A minha ligação com a cultura Hip Hop já vem há mais de 20 anos.

Tudo começou no extinto Comix, na Rua de Cedofeita, ao qual eu era assíduo nas quintas-feiras, nas Infamous Vibes, onde estava o DJ Serial, dos Mind Da Gap. Ou seja, nós éramos todos fãs de Hip Hop, nenhum estava ali porque era um “artista”. Eles hoje são os maiores, graças a Deus, e eu conheço-os desde aí. Do Comix passamos para o Hard Club antigo, criou-se a história ali e fomos subindo.

Eles hoje vão aos festivais de Verão, vão a tudo e eu acompanhei sempre como braço direito porque eu não sou “ninguém” no Hip Hop. Não canto, não danço, não faço o pino, não sei pintar, nada. Basicamente, a minha ligação ao Hip Hop é a amizade pura das pessoas, de Norte a Sul do país.

Como surgiu a ideia e criar a Vicious Events?

A ideia não foi minha. Tudo começou, infelizmente, com o projeto Ser Humano. O filho de um amigo meu tem um problema e o nosso Estado português não ajuda e, em conjunto com amigos e a falarmos uns com os outros, decidimos fazer um concerto, que era a arma que tínhamos na mão, para ajudar o nosso amigo a ter dinheiro para financiar os tratamentos do filho.

Aquilo correu tão bem que toda a gente começou a dizer “devias fazer isto, devias fazer aquilo”. O que é certo é que fizemos o primeiro Ser Humano em 30 dias e aquilo foi o que foi. Sem saber nada do que era uma festa, juntamos toda a gente. A partir dali foi músicos e público a mandar mensagens.

Água mole em pedra dura… Lá surgiu a Vicious.

O que distingue os eventos da Vicous Events dos do Ser Humano?

Tudo!

A Vicious Events é uma empresa, o Ser Humano é um grupo de amigos a ajudar uma causa. Há o Paulo Pinto da Vicious Events e há o Tio Paulo do Ser Humano.

Qual a missão da Vicious Events?

Se é uma empresa tem de ser autossustentável. A segunda missão principal é elevar o Hip Hop ao ponto que ele merece.

Basta ver os cartazes de festivais de Verão. Todo o tipo de palco do país conta com Hip Hop português, o que é muito bom. Para a Vicious, é um orgulho porque fomos os primeiros a pôr somente Hip Hop português num coliseu. Podíamos optar por Hip Hop estrangeiro, mas eu sou português, não nasci lá fora.

O que caracteriza a Vicious Events enquanto organizadora de eventos?

Todos os que lá entram têm de sair de sorrisos nos lábios. Toda a gente tem que sair contente e feliz da vida, senão não vale a pena. E todas as pessoas que trabalharam comigo saem amigos.

Nós somos muito profissionais no que fazemos, mas num ambiente familiar. É uma família.

Como surgiu a escolha do Hard Club para local, uma vez que conseguiram elevar este espaço para catedral do Hip Hop?

Eu falo com artistas de todo o país e noto que vir tocar ao Hard Club é uma meta atingida. Ficam com aquele brilhozinho nos olhos de estarem no palco do Hard Club.

A casa em si tem uma certa mítica, o público do Porto, que não é só do Porto, é de todo o lado (mas chegam ao Porto e transformam-se)… Aquilo fica incrível!

A própria casa é das mais bem equipadas do país, o staff da casa é fabuloso. Não vejo nada a trabalhar como no Hard Club!

Críamos a Meca lá! Não só a Vicious, mas todas as promotoras de Hip Hop.

Não sei… é o Optimus Alive do Hip Hop, algo assim! (risos)

Como são escolhidos os artistas?

Primeiro critério de todos, eu tenho que gostar.

A partir daí, analiso muitas coisas. Há artistas que são fortes na área deles. Tivemos o caso do Sacik. Eu gosto muito do Sacik, mas o Sacik no Porto não tem muita procura. Falei com ele e ele ficou contente, eu fiquei contente e o público ficou contente. E como ele há muitos!

Qual o momento mais marcante de toda esta caminhada?

Apesar de não ter tido o sucesso que a gente esperava, foi o Coliseu do Porto. Foi uma noite memorável em todos os aspetos! Tivemos um cartaz… conseguimos juntar Micro novamente, estavam separados há anos. Foi tudo perfeito! Se calhar foi um erro termos avançado logo para o Coliseu. Devíamos ter plantado primeiro o nome da Vicious e depois ido ao Coliseu e aí o público vinha em massa, mas a gente aprende com erros.

Trouxemos o Valete, ninguém trazia o Valete ao Porto. Saiu daqui “Isto é incrível. Nunca vi público como este!”

A apresentação do álbum dos Dealema, foi brutal.

E o nosso segundo festival de dois dias. Nós só tínhamos cabeças de cartaz, nunca vi.

Temos feito um bocadinho para todos os gostos. E tentamos sempre abrir uma porta a projetos novos que tenham qualidade e que queiramos apostar.

Há algum artista ou grupo que consideres especial teres conseguido trazer a um evento da Vicious Events?

Por palavras dele, eu sou o único que consegue por Sam The Kid a tocar a solo. (risos)

Mas é aquela situação de quando se fala em Hard Club, qualquer artista, independentemente do calibre que ele tenha, gosta sempre de cá vir. Não é difícil fazer as coisas acontecerem. Não há artistas inatingíveis, há cachés negociáveis. (risos)

Como caracterizas a situação do Hip Hop em Portugal?

Está cada vez melhor!

Cada vez aparecem mais jovens com escritas brutais, há bons rappers. Os novos estão a aparecer muitos fortes, o que eleva a fasquia para os mais “anciãos”.

E os jovens interessam-se desde novos. Puxa por tudo, não só no rap, mas também no breakdance, no graffiti. Temos artistas a fazerem jams de graffitis mundiais, como o caso do Mr. Dheo no Dubai; os Momentum [Crew] que foram dançar ao Rock In Rio; o Vhils que é conhecido em todo o mundo pelo “graffiti esculpido”; temos muito produtores portugueses a vender beats para o estrangeiro…

Há muita qualidade em Portugal, é preciso haver alguém ir buscá-la e nós na Vicious temos feito um bocadinho isso. Acho que temos feito muito e apoiado um bocadinho de tudo, porque há coisas muito boas neste país.

Prevejo um bom futuro para o Hip Hop em Portugal. Já houve, há 10 anos atrás, um boom no HipHop, mas conforme nasceu, morreu. Se calhar, nos últimos 3/4 anos renasceu. Agora cabe-nos a nós tentar empurrá-lo para cima e não “meter-lhe” os pés em cima e mandá-lo para baixo outra vez, senão nunca saímos daqui.

Como é que vês a entrada do rap nos concursos televisivos?

Sou completamente a favor e fico contente com isso.

O caso mais mediático é o D8. Mas graças ao D8, 3, 4 ou 5 milhões de pessoas que viam o programa em prime time às 20h ou 21h de domingo, hoje sabem o que é rap. Não quer dizer que seja só aquilo, mas é uma base de pesquisa. As pessoas podem criticar, mas eu vejo isso de boa maneira.

Eu até comentei no Facebook que, durante o zapping, a Casa dos Segredos estava a dar Dealema e Jimmy P. Tu hoje ouves rádio e ouves rap português e isso foi também graças ao fenómeno do D8 e outros que tal.

Apesar do espaço que o Hip Hop tem vindo a conquistar, esta cultura ainda continua um pouco marginalizada. Porque achas que isso acontece?

Já foi pior!

É uma questão de analisar as músicas cronologicamente: há 10 anos atrás, ouvia-se o Hip Hop basicamente de Lisboa e falava-se muita da vida no gueto; aqui no Porto era “eu sou o durão e tenho que fugir à polícia”. Ainda há isso, o gangsta rap ainda está presente, mas há uma vertente mais forte. Já falam do quotidiano, já há canções de amor de Hip Hop… Cada vez mais o Hip Hop abrange todo o tipo de situações.

Antigamente, via-se as notícias: “fugiu um homem da prisão” e, como banda sonora, estava a dar rap; uma vida no gueto e dava rap. Hoje não, já é “a Mariazinha casou com X” e está a dar “O que é que sentes? Borboletas.” Ou seja, os próprios media já estão a mudar a opinião. E é bom!

 

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