Cultura
YANN TIERSEN: O EXPERIMENTAL É PARA TODOS
Às 21h15, as longas filas à porta do Coliseu despertaram a curiosidade de transeuntes e turistas, denunciando a farta (e heterogénea) plateia que assistiu à apresentação do mais recente trabalho do compositor e multi-instrumentista Yann Tiersen. All, lançado em fevereiro deste ano, foi gravado numa antiga discoteca convertida por Tiersen num estúdio de música, na ilha francesa de Ushant, onde atualmente reside.
O duo alemão GEYSIR ficou encarregue da primeira parte do concerto (21h30), oferecendo meia hora de uma batida eclética – algures entre o rock e a eletrónica – num ambiente que nos teletransportou para uma qualquer noite de sexta no Plano B, em plena segunda-feira no Coliseu.
O concerto propriamente dito iniciou-se às 22h12, com uma récita, às escuras, de um poema alusivo à natureza. Tiersen apareceu minutos depois, sentou-se ao piano e, envolto num cone de luz e fumo na escuridão, pôs as mãos à tecla e deu início a uma odisseia de 1h45, alternando entre músicas do novo álbum e temas antigos.
Cerca de meia hora após o início do concerto, juntaram-se a Tiersen três músicos, engrossando a multi-sonoridade do espetáculo. O piano minimalista-melancólico, imagem de marca de Tiersen, ocupou somente uma pequena parcela do espetáculo, o que deixou bastante espaço para outras composições mais criativas, pautadas pelo experimentalismo vocal e instrumental.
Como não podia deixar de ser, “Comptine d’ un autre été” e outros temas de O fabuloso destino de Amélie Poulain (2001) – filme que colocou Tiersen no Panteão das bandas sonoras – foram revisitados ao longo do concerto no piano, cravo, acordeão e melódica.
A certa altura, Tiersen agradeceu ao público portuense e mencionou a odisseia ciclável que tem vindo a realizar nos últimos anos e o contacto com a natureza que esta lhe permitiu. O ambientalismo é bandeira na obra de Tiersen, e All, tal como EUSA (2016), centra-se exatamente na problemática ecológica (essa mesma que trouxe às ruas da Invicta milhares de estudantes a semana passada).
Pelas 23h50, Tiersen acabaria o concerto; mas com o público a pedir um encore, o compositor cedeu gentilmente, terminando o concerto só por volta da meia noite.
Yann Tiersen mostrou-se mais uma vez digno da fidelidade do público português, e, com o minimalismo e profundidade que lhe são próprios, proporcionou um concerto-viagem memorável no Coliseu do Porto.
Artigo da autoria de Inês Anjos