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Cultura

ALCEU VALENÇA: UMA EXPERIÊNCIA POÉTICA AO SOM DA ORQUESTRA OURO PRETO

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Em celebração dos 40 anos de carreira do músico pernambucano, a setlist de Valencianas II contou com sucessos de Alceu Valença que não  entraram na primeira edição do concerto. A Casa da Música estava decorada com balões de papel típicos da festividade nordestina brasileira.

Em pleno inverno, quando os corriqueiros casacos cinzentos combinam com o clima, a Sala Suggia estava, surpreendentemente, um mar de cores. Conterrâneos por todos os lados exibiam as mais variadas estampas tropicais nas suas roupas e a colorida bandeira do estado de Pernambuco podia ser vista em peso no meio do público.

Alceu surgiu com um fato alaranjado. A harmonia dos seus tons terrosos com o ouro nas paredes no auditório lembravam a cor da terra do sertão pernambucano, lugar simbólico e originário de Alceu. “Boa noite, Porto! P da Paixão” foi a sua saudação ao público, que posteriormente ficou a saber que esta era o nome de uma das músicas tocadas no espetáculo. O próprio Alceu afirmou que “Paixão” foi iniciada na cidade de Porto Alegre, no Brasil, contudo finalizada cá na cidade do Porto.

O concerto propunha uma estilização das músicas de Alceu – frequentemente tocadas com sanfonas, triângulos e guitarras elétricas – agora acompanhas por violinos e um maestro. Olhares de admiração foram trocados durante todo o concerto pelo maestro Rodrigo Toffolo e Alceu – que, sempre irreverente, se divertia enquanto cantava e com as mão imitava os movimentos dos violinos, a rir e a imitar os sons.

O espetáculo trouxe suavidade e leveza aos olhos e ouvidos dos presentes, quase que um carinho vindo diretamente do Nordeste, lugar de um povo caloroso e rico de cultura. Como se diz nesta região, Alceu deu um “xêro” em cada um dos presentes ao cantar canções tão bonitas com um sotaque arrastado que abraça a alma.

Foi uma experiência poética ao som de uma orquestra. Alceu contava e cantava as suas histórias emocionantes. Cantorias regionais que levaram o público ao delírio logo nas primeiras músicas. Chegou a tocar duas vezes a primeira música devido a uma falha no áudio do seu violão. Perguntou ao público “posso tocar de novo? Gostaram?”, que respondeu num uníssono “sim!” e Alceu brincou “sou assim mesmo, viu? Cada vez que eu não gostar, vou tocar de novo pra vocês!”. No fim de toda a música, Alceu, de 73 anos, ria e pedia mais aplausos ao levantar as mãos.

Esta segunda edição de Valencianas trouxe canções que ficaram fora na primeira e sucessos como “Táxi Lunar” relembraram os velhos tempos de Alceu.

A quinta música tocada na noite foi “Samba do Tempo” e trouxe toda uma áurea que remetia ao Rio de Janeiro com sua bossa e samba, ao som do pandeiro. Era possível observar os lábios do maestro a cantar também os versos, inaudivelmente. Os espectadores batucavam os seus dedos nas pernas e balançavam os pés ao ritmo gostoso do samba brasileiro.

A música seguinte – “Pelas Ruas Que Andei” – trouxe um ritmo de xaxado e um bater de palmas da plateia a acompanhar com um animado coro de “lê lê lê”, mesmo sendo tocada em violinos e instrumentos de música clássica.

Durante todo o concerto a plateia estava completamente imersa na experiência – a bater palmas, cantar e repetir sons – todos fixados na energia e animação de Alceu. Esta sintonia proporcionou uma experiência inesquecível ao comemorar os 40 anos de carreira do artista.

Numa das músicas Alceu declarou “tô inventando isso agora, desculpa maestro mas vamo ver…” e ensinou o público que, em coro, cantou os versos de “Vou Fazer Você Voar”, a sua nova canção.

No fim do concerto, Alceu fez um bis e ainda cantou mais algumas músicas: “a gente pode ficar aqui repetindo até amanhã!”, disse. Terminou, então, com a sua mais emblemática: “vocês querem Anunciação, é? Isso foi de Valencianas I, viu?!”. A plateia delirou e cantou a música toda em alto tom, e aplaudiu de pé no fim.