Crónica
POR FAVOR GOSTEM DE MIM
No outro dia perguntaram-me se me considero engraçada, e eu realmente não soube o que responder. É claro que eu me acho engraçada, eu tenho exatamente o meu sentido de humor. A meu ver sou a pessoa mais hilariante que conheço. O que deveriam perguntar é se as outras pessoas me acham engraçada. Mas importa a perceção dos outros sobre nós? Quero dizer que não, mas passo demasiado do meu tempo preocupada com isso mesmo.
Qual tem mais peso, a forma como eu me vejo, ou a forma como os outros me veem? Deveria ser a primeira, mas eu sou só uma, e os outros são muitos.
Gostamos de pensar que só importa a nossa opinião, e como nós nos vemos, mas e se essa opinião for negativa? Se disser que não me considero uma rapariga bonita, pelo menos não no sentido mais convencional do termo, tenho imediatamente uma matilha de amigas preocupadas com a minha autoestima a mandar-me calar porque a seus olhos sou-o. E acredito. É uma dualidade estranha, ao mesmo tempo que não me considero nada de especial, tenho a perfeita noção que isso não se aplica necessariamente aos olhos de terceiros, porque beleza é relativa, há gostos para tudo e honestamente há pessoas que gostam de todo o tipo de merda.
Mas então essa lógica aplica-se a todas as minhas características: eu posso considerar-me engraçada, mas humor também é algo relativo pelo que as pessoas à minha volta podem achar-me tão divertida como uma colher. Aí o que outros pensam deixa de interessar outra vez. Ou seja, não importa se me acho feia se terceiros me considerarem bonita, mas por mais hilariante que me considere isso também não importa se mais ninguém me achar piada. Preferia ser considerada engraçada.
Se a maioria tem de considerar algo para ser verdade, fico com esta necessidade de forçar a minha imagem de modo a que a perceção dos outros sobre mim se enquadre naquilo que eu quero. É como se toda a minha existência fosse uma atuação para uma audiência que não quer saber, porque todos os membros da plateia estão demasiado ocupados com aquilo que vão apresentar na sua vez de atuar.
Sinto-me frustada quando assumem algo falso sobre mim, mas depois gasto uma quantidade ridícula da minha energia a transmitir toda uma persona minha que não é necessariamente real, ou talvez seja real, mas preocupo-me tanto que seja passada da forma correta que perco o traço da minha verdadeira identidade.
Será que tudo isto é apenas uma medida de auto proteção? Se calhar mostramos ao público estas versões de nós mesmos não só por uma necessidade intrínseca de que gostem de nós, mas principalmente porque apresentarmos-nos tal como somos mete medo. Se não gostarem da minha persona de hoje, amanhã crio outra. Mas se apenas não gostarem de mim, se eu, tal como sou, apenas não for suficiente, faço o quê?
Quero que me achem engraçada mas não um palhaço, quero parecer confiante mas não convencida, bonita mas não superficial, culta mas não pretensiosa, quero caminhar a linha da rapariga cool e despreocupada que impressiona todos sem tentar, tudo enquanto tenho a perfeita noção que quem tem estas preocupações é tudo menos cool e despreocupada. Quero atenção e validação, e enquanto abomino ser o centro das atenções, tenho pavor à ideia que ninguém repare em mim. E acima de tudo queria apenas poder existir sem nada disto me passar pela cabeça, porque é francamente exaustivo.
Gostava de terminar numa nota positiva e dizer que me apercebo o quão ridículo tudo isto é, e que a partir de agora vou deixar de me preocupar com opiniões alheias. Mas a verdade é que estou em pânico para que gostem deste texto.