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Ciência e Saúde

COVID-19: Será o fecho de escolas uma solução para o abrandamento da nova pandemia?

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Em Portugal, poderá estar iminente o fecho de todas as escolas no país como medida preventiva para evitar a propagação da pandemia de COVID-19. Algumas instituições de ensino superior já encerraram ou suspenderam as atividades letivas, tendo começado com o fecho do complexo da Faculdade de Farmácia da Universidade do Porto (FFUP) e Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar (ICBAS), como medida reativa.

Como medida pró-ativa, acaba de ser decretado pela Universidade do Porto que a aulas presenciais encontram-se suspensas “com efeitos a partir de 12 de março de 2020 e por tempo indeterminado”, assim como a suspensão do funcionamento de bibliotecas e salas de estudo e a suspensão de eventos e atividades desportivas e culturais nas instalações da Universidade do Porto. Gradualmente, estas medidas, reativas ou pró-ativas, têm-se estendido ao resto do país.

Pelo mundo, escolas no Japão, Itália e partes da China foram encerradas. A pergunta que muitos levantam é: será uma porta fechada a solução que permite o entrave à disseminação do vírus responsável por COVID-19?

As escolas podem adotar, e têm vindo a fazê-lo, medidas que visam o abrandamento da pandemia de COVID-19, entre as quais incentivo à higiene ou o total ou parcial encerramento das atividades letivas e instalações. As razões que levam à primeira medida são autoexplicativas. No caso do encerramento de escolas é preciso perceber que as razões podem partir de objetivos reativos, isto é, no caso do aparecimento de um caso confirmado como positivo no seio do estabelecimento de ensino – uma decisão que é geralmente consensual.

Existem estudos (entre os quais um da Nature publicado em 2006) que usam modelos matemáticos para prever a propagação de uma epidemia gripal e que abordam medidas reativas. Os resultados são indicativos de que, face a organismos patogénicos com transmissão moderada, existe uma diminuição cumulativa da taxa de infeção em 25% e um atraso do pico de disseminação, na região, de até duas semanas.

Além disso, de notar que o coronavírus (SARS-CoV-2) que causa a doença designada de COVID-19 tem um período de incubação que pode estender-se até 14 dias, o que significa que muito antes do aparecimento de sintomas que levem o doente a ser submetido a um teste de diagnóstico, podem ter sido já infetadas dezenas de pessoas. Assim, casos indicados como adquiridos em comunidade são razão suficiente para justificar o encerramento de uma escola.

Relativamente ao encerramento pró-ativo, este baseia-se na diminuição do aglomerado de pessoas. Num estabelecimento de ensino podemos ter pais a deixar as crianças na escola, corpo docente e funcionários envolvidos, isto é, uma comunidade muito mais extensa para além de um alargado conjunto de estudantes. Mais, faculdades com ligação direta a estabelecimentos de saúde, como faculdades de medicina, têm riscos associados que não devem ser ignorados. Assim, a decisão de encerramento como medida pró-ativa pretende diminuir o contacto social, bem como reduzir o risco de uma propagação ativa para um patogénico de fácil transmissão.

Numa entrevista publicada ontem na revista Science, Nicholas Christakis, investigador na Universidade de Yale, explica que “o encerramento pró-ativo de escolas, ou seja fechar antes que seja identificado um caso, foi demonstrado ser uma das intervenções, não farmacêuticas, mais poderosas que podem ser aplicadas”.

De facto, todos os tipos de eventos com grande afluência têm sido cancelados como medida pró-ativa no decorrer desta semana no Porto. A Universidade de Lisboa e a Universidade de Coimbra foram exemplo da adoção de medidas pró-ativas de suspensão das aulas presenciais. A Universidade do Porto junta-se assim hoje a uma lista que tem vindo a aumentar progressivamente.

Há ainda estabelecimentos de ensino a serem encerrados pelo tempo necessário à realização de uma desinfeção das instalações. No entanto, não há ainda suficientes evidencias científicas sobre a eficácia desta medida.

Assim, face à falta de tratamento específico e dirigido, a prevenção da transmissão deve ser uma prioridade. Uma quarentena deve ser respeitada e, mesmo na sua ausência, devem ser mantidas as recomendações de etiqueta respiratória e higiene das mãos.

 

Artigo elaborado por Carina Baptista. Revisto por Mariana Miranda.