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Artigo de Opinião

O fim do projeto europeu?

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Com o passar dos dias de quarentena e à medida que somos bombardeados com o mais recente “update” relativamente à COVID-19, as coisas tornam-se cada vez mais confusas e parecemos ganhar cada vez mais a apetência para nos focarmos naquilo que está mesmo à nossa frente, ignorando as grandes mudanças a ocorrer em torno de nós.

O número de mortos e infectados não para de subir, o petróleo e as ações descem, os prejuízos acumulam-se e saúde “pós-Covid” preocupa com o desemprego a prometer aumentar exponencialmente. Com isto a União Europeia parece perdida, inexperiente, em certas instâncias até, e, assim, por esta Europa fora são milhares os que manifestam desagrado contra esta ação (ou falta dela), pelas redes sociais já vemos as bandeiras da Itália ou da França não a par com a da União Europeia, mas sozinhas consigo mesmas, e os aplausos a tal atitude multiplicam-se.

Não podemos ser injustos, a abertura que a União Europeia possibilita aos países foi muito importante para Portugal e tem, nos últimos dias, permitido grandes avanços na luta contra o vírus pura e simplesmente por ser uma peça vital em tornar o mundo mais ligado e facilitar a articulação entre países. Não obstante, a tendência da União Europeia de se complicar a si mesma constantemente piorou severamente esta situação. Primeiro porque devido à situação do espaço Schengen, teimou-se em não se pôr restrições à circulação desde cedo de pessoas e segundo porque sentiu-se e sente-se, especialmente na Itália, um abandono por parte desta estrutura, enquanto que pseudo-democracias como a Rússia ou a China exercem influência, oferecendo material hospitalar e os serviços dos seus médicos, constituindo possíveis perigos à democracia no futuro.

Em seguida, temos de olhar para o “pós-Covid” e para as intenções da União em termos económicos. Primeiro a declarações do primeiro-ministro holandês que, não caindo bem, trazem à tona uma questão importante que é: sendo esta uma união em que entre estados membros há certos fatores comuns, nomeadamente diversos preceitos legais ou normas/padrões de qualidade e que no sul da Europa temos países altamente endividados porque é que não há uma política económica comum no que toca à aplicação dos excedentes orçamentais.

Evidentemente que os países dentro da União não podem ser deixados à sua sorte e por isso esperava-se uma resposta rápida numa crise que preve-se muito pior do que a da Troika, pois irá expor todo um conjunto de deficiências já existentes, bem como pelo facto de originar numa paragem quase total da economia mundial seguida duma desconfiança que afetará vários setores, muitos deles importantíssimos para Portugal. Posto isto pedia-se uma resposta concreta do BCE, fossem Coronabonds ou outro mecanismo, esta é uma indefinição que não pode durar muito mais, ficando os estados-membros resumidos a respostas mínimas.

É ainda importante olhar para as possíveis nacionalizações de certo setores. Aqui não está presente qualquer preceito ideológico subjacente que eu queira acusar, mas antes questionar se mais uma vez iremos lidar com uma crise da forma errada (desta vez duma nova maneira), quando por oposto olhamos para os Estados Unidos que com grandes pacotes de ajuda à economia parece ter um plano delineado e preparado para repetir uma fórmula que na crise de 2007/2008 parece ter resultado (ressalvando naturalmente as diferenças para agora).

Na altura do Brexit enquanto muitos debatiam em que escala ia isso ser mau para o Reino Unido perguntava: E se correr bem, o que é a seguir? Com o já sentimento de erosão da identidade nacional por parte de muitos cidadãos europeus, com a crise de refugiados e migrantes mal lidada que trouxe a muitos países insegurança e agora com um universo onde a COVID-19 é uma realidade, será que devemos começar a pensar em quais heróis nacionais vamos incluir nos novos escudos ou será que ainda há esperança para a União Europeia se reinventar?