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Opinião

As relações humanas em tempos de isolamento social

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Após algumas semanas de confinamento, começam a notar-se impactos diretos sobre os relacionamentos no meio de um período tão excecional. É facto que o isolamento trouxe transformações sociais, visto que grandes acontecimentos históricos como este trazem reflexões sobre a vida e o que realmente importa – ou agravam comportamentos violentos e desigualdades pré-existentes, antes velados sob o quotidiano acelerado da sociedade.

As notícias alertam sobre o aumento da violência doméstica, e cada vez mais países adotam medidas para auxiliar as vítimas a denunciar seus agressores e receber assistência. Em Portugal, por exemplo, o Governo criou um serviço de mensagens gratuitas para o número 3060 na receção de denúncias durante a epidemia.

Já a experiência da China demonstra que o tempo de confinamento em família pode ser demasiado intenso. Registou-se um recorde no número de pedidos de divórcio nas últimas semanas. A reportagem da BBC reforça que é cedo para entender este fenómeno, ou se se repetirá em outros países que adotaram medidas de confinamento. Mas é um facto a transformação que o confinamento trouxe para os relacionamentos.

Esse momento traz a possibilidade de repensar como nos relacionamos, seja em família, com amigos ou connosco. E a criatividade se torna fundamental para nutrir e proteger os relacionamentos, seja da saudade que a distância traz ou do desgaste de um convívio intensivo.

Reajustar as rotinas entre incertezas e angústias também significa debater a conciliação do trabalho doméstico, normalmente atribuído às mulheres. A divisão de tarefas entre os coabitantes de uma residência permite que a mulher não fique sobrecarregada física e mentalmente. Transformar o trabalho não remunerado em um momento de partilha das responsabilidades proporciona uma nova perspetiva sobre a casa como um organismo vivo que exige cuidado e atenção.

Paciência é a palavra de ordem. No meio de uma pandemia, pessoas reagem de diferentes formas, e o estado de alerta constante pode trazer ainda mais stress. Nesta convivência, a atenção aos próprios sentimentos e espaço necessário (metafórico e literal) é uma forma de evitarmos conflitos extremos.

Por outro lado, para aqueles que se encontram sozinhos durante todo esse período, a solidão é um risco, e reconhecê-lo é essencial para exercitar o bem-estar. Muitos estamos utilizando as redes sociais e encontros virtuais para ficar juntos, seja para tomar um copo, conversar ou namorar. Em tempos de isolamento, esses instrumentos podem ser utilizados com criatividade para momentos de descontração ou como uma ponte para unir pontos geográficos distantes. Recriar jogos de tabuleiro online com amigos e família, elaborados com carinho para aliviar a distância, não tem preço.

Por fim, é normal sentir todos os tipos de sentimentos, refletir, decidir para depois mudar de ideia sobre o futuro dentro de um contexto tão incomum. Mas é uma escolha diária fazer o melhor uso possível dos nossos privilégios – diante de tanta desigualdade – para sobreviver e resistir. Que seja um tempo de mudança.