COVID-19: Entre tantas, há boas notícias

Descrita por alguns líderes mundiais como uma das maiores crises de saúde pública desta geração, a COVID-19 se tornou o foco de textos jornalísticos e conversas virtuais. Entre as medidas de confinamento, pacotes económicos e atualizações diárias sobre o sistema de saúde e infetados, parte considerável das informações tenta acompanhar os fatos num ritmo frenético de atualizações. Adiciona-se a esse contexto a multiplicação de fake news distribuídas por redes sociais, ou mesmo em veículos de comunicação sem verificação de factos.

A recomendação da Organização Mundial de Saúde (OMS) para aqueles que estejam sofrendo de transtornos de ansiedade é que minimizem o tempo diante dos sites de notícias, jornais ou qualquer veículo de informação. O JUP selecionou então algumas notícias atuais – não necessariamente relacionadas – que possuem dois pontos em comum: o carácter mais positivo e a veracidade.

Da sociedade

Entre preocupações e discussões sobre o rendimento básico universal, direitos do trabalho e segurança social, o sentimento de solidariedade e coletividade se manifesta como esforço para responder às necessidades básicas. A temporalidade das políticas públicas e ação do Estado, apesar de fundamental para a manutenção da qualidade de vida, por vezes é lenta, e pode levar semanas até sua efetividade. Entretanto, são os esforços coletivos que proporcionam auxílios imediatos. E atualmente são muitas as iniciativas solidárias.

Em Lisboa, comerciantes oferecem descontos em bens essenciais ou modificam suas produções para atender às principais demandas da população. Ao Público os comerciantes explicam que, sensibilizados com a perda de rendimentos das famílias, oferecem descontos em vestuário hospitalar, reduzem o preço de refeições e doam pão.

No Porto, uma empresa que gere apartamentos turísticos oferece alojamento gratuito para profissionais da saúde em serviço na linha da frente do combate à pandemia. O Diário de Notícias revela que nas primeiras 24 horas em que anunciou que estava de portas abertas, já havia 70 candidatos, e agora já há lista de espera. A ajuda aos profissionais de saúde também está na área da alimentação. Há cadeias de restaurantes a unir-se para distribuir gratuitamente as refeições a quem está a trabalhar nos hospitais.

A intenção de ajudar multiplicou-se, como prova a plataforma portuguesa #tech4COVID19, que promove o desenvolvimento de soluções tecnológicas e organiza projetos que ajudem a população a ultrapassar o desafio do COVID-19.

No outro lado do Atlântico, no Brasil, moradores de territórios mais vulneráveis precisam se organizar para o combate ao vírus, e isso provocou exemplos de participação social e planeamento popular. Uma das maiores favelas de São Paulo, Paraisópolis, se tornou exemplo de ações populares para o controle e informação da doença. São cerca de 100 mil moradores entre casas pequenas e ruas estreitas. A comunidade se organizou em “presidentes de rua”, responsáveis por monitorizar cerca de 50 casas cada. À Globo explicam que identificam casos suspeitos, oferecem informação e monitorizam os moradores que tiveram quebra de rendimentos. Além de manter três ambulâncias e profissionais de prontidão, a rede comunitária prepara alimentos para distribuir àqueles em maior fragilidade.

Do ambiente

Nos últimos dois meses, a diminuição dos transportes, consumo e produção teve grande impacto nas economias nacionais e nos orçamentos familiares. Neste sentido, há o debate ético em celebrar a recuperação do ambiente diante dos impactos sociais decorrentes da crise atual. No entanto, a saúde ambiental é parte da saúde pública e traz reflexões sobre o modelo económico e social em que estamos inseridos, visto que o ambiente precisa de tempo e espaço para se regenerar.

Em janeiro, foi publicado um estudo realizado por cientistas na região de Fukushima, que sofreu com grandes quantidades de material radioativo libertadas após o tsunami no Japão em 2011. Os pesquisadores acompanharam entre 2016 e 2017, através de câmaras, a dinâmica de populações de vida silvestre. A partir da evacuação de quase 100 mil pessoas, a vida selvagem na área prosperou, mesmo diante da exposição à radiação.

Imagem: Agência Espacial Europeia

Em torno da crise do coronavírus, a Agência Espacial Europeia (ESA) observou uma diminuição das partículas em suspensão, apontando para a possibilidade de “uma redução de cerca de 20 a 30%” destes poluentes atmosféricos em grande parte da China, comparados ao mesmo período no ano passado. Já em Nova Iorque, cientistas da Universidade de Columbia apontavam para uma queda do monóxido de carbono, produzido sobretudo pelos veículos automóveis, de 50% em alguns dias desta semana, havendo uma diminuição de CO2 entre 5 e 10%.

Apesar das dúvidas sobre o futuro das políticas ambientais e energéticas, a recuperação desta crise se apresenta como uma alternativa para os governos agirem de acordo com novos paradigmas de sustentabilidade.

Da ciência

A Universidade de Navarra, na Espanha, anunciou em 28 de fevereiro o desenvolvimento de uma vacina contra a disenteria bacteriana, causada pela bactéria Shigella. A BBC explica que, de acordo com o Centro de Controle e Prevenção de Doenças dos Estados Unidos (CDC, na sigla em inglês), os casos em todo o mundo somam entre 80 e 165 milhões, com cerca de 600 mil óbitos, anualmente.

Essa doença, transmitida através do consumo de água e alimentos contaminados, é um problema de saúde pública, considerada prioridade pela OMS. O projeto foi testado em ratos, com resultados muito promissores, para novos meios de administração em substituição às tradicionais vacinas intravenosas. Desta forma, serão possíveis a vacinação em massa e a redução de resíduos biológicos. As próximas etapas incluem mais testes, inclusive em humanos, para confirmar sua segurança e eficácia.

Inúmeras notícias sobre avanços no combate à COVID-19 são sinais positivos da importância da ciência para o desenvolvimento humano. No entanto, é preciso cautela para evitar falsas soluções, e investimentos públicos para fortalecer o papel dos pesquisadores e cientistas neste desafio.