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Crónica

Talvez Mudar

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“Talvez seja um tudo ou nada”. É um dos versos de uma das minhas músicas de eleição para estes últimos tempos. Gosto tanto destas seis palavrinhas juntas, porque conseguem cumprir a árdua tarefa de nos definir, pelo menos na minha perspetiva. Definir pessoas, conhecê-las, compreendê-las e por último, vivê-las. Soa bem, utópico de acontecer.

Pessoas num mundo onde julgamos saber quem o outro é, onde julgar é tão mais simples do que dar a mão. Partimos para a mudança. Temos de mudar o outro para que a vida corra na perfeição e por perfeição entende-se como nós queremos que seja, à nossa semelhança. No entanto, sabemos tão bem que ninguém muda ninguém. Ainda há por aí alguém que no seu íntimo duvide que as pessoas são a soma de tudo o que vivem e sentem? Ainda acreditamos que as pessoas são máquinas? Um reset, seguido da equação da nossa perfeição e voilà, temos o que queremos (ou o que achamos querer).

E nós fazemos isto vezes e vezes sem conta, na sociedade, no trabalho, na família, nas amizades, no amor. Andamos sempre nisto, os outros é que têm de mudar, temos de os mudar. Estão errados, nos atos, nos pensamentos, nos sentimentos. Estão errados, porque nós estamos certos.

Pessoas. É mais fácil enfrentá-las como tábuas rasas, com os olhos já moldados por aquilo que queremos que elas sejam. Compreendo o pragmatismo disto, compreendo o porquê de não aprendermos com os romances que não são cinematizados, compreendo porque a realidade dói e os finais felizes nem sempre se assemelham àquilo que achávamos que seriam.

E depois, como sempre, a vida adora irritar-nos, testar a nossa paciência, virar-nos do avesso, e encontramos finais felizes onde nunca pensaríamos encontrar, no que achávamos ser errado, no que tanto lutávamos para mudar. Encontramos nas pessoas mundos. Mundos cheios de desertos e oceanos, de tudo e de nada.

Como se finais felizes inesperados não nos chateassem o suficiente, ainda levamos com a oportunidade de tornar os finais em recomeços. E é aí que nos cai tudo, afinal nós é que estávamos errados, as tábuas rasas e os ignorantes éramos nós. Estávamos a perder um mundo porque achávamos que só o nosso existia.

E, no final da história, de tanto querermos mudar alguém, quem acabou por mudar fomos nós.

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