Devaneios
Agouro de mãe
Véu branco ondulado nos suspiros
Entre os medos da sístole
E as parcas esperanças da diástole
Bate, mas não sente
Corre, mas não anda
Olha para um tempo que não volta
Nem virá
Onde tinha nariz e ombros
Emproados
Barco, caravela, nau
Hoje e aqui são só escombros
Sonhos que não mais se sonham
Sonhos que mais se sonham,
E não são dela
São de um coração
Patético, Helenista, Carpideiro
Com dó de dor
Desgraçada desgraça
Em pequena teve a parca sentença
Veste o vestido de noiva da mãe
E terá mil anos de sólida penitência
A espera é eterna
Ela sabe que o amor não vem
Nem virá
Sabe quem tem
De pagar pelo mau agouro de mãe
E ainda assim espera
espera
E mordaça o tempo
Como se fosse um sentimento
A quem está só nada mais
Catarina Janeiro