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Sociedade

Re-Coffee: Da chávena para o calçado

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O tema da sustentabilidade está na ordem do dia já que o nosso consumo é mais rápido do que a regeneração dos  recursos de que nos servimos, tornando-se estes, quase sempre, resíduos-lixo nefastos para o planeta. O JUP descobriu  a Re-Coffe, uma empresa que surgiu com um mote especial: recolher o que sobra do consumo de café e incorporar isso em algo útil, no caso, sapatilhas. Procurar soluções saudáveis para o meio-ambiente é possível, e com estilo!

O que é a Re-Coffee?

É uma empresa que transforma e recicla borras de café fazendo produtos de valor acrescentado com a mesma. Esses produtos podem ser vários, mas estamos mais focados nas sapatilhas

Como surgiu a ideia de usar borras de café como matéria-prima?

Parece um cliché, mas surgiu quando estava a tomar café e me lembrei de perguntar ao dono do café quantos quilos fazia por dia. Ele respondeu-me entre seis a sete quilos, dependendo do movimento. Comecei então a pensar que se recolhesse 7 quilos num estabelecimento, 7 quilos num outro e por aí adiante, conseguia ter uma matéria-prima para reciclar e dando uma nova vida a essa matéria-prima

Dentro de tantas aplicabilidades como decidiste pelas sapatilhas?

Eu comecei na Universidade a fazer vasos biodegradáveis  que acompanhavam a vida do que fosse plantado e ajudavam na fertilização e crescimento da planta. Essa foi a minha primeira ideia mas em termos de custos era impraticável. Enquanto os produtores pagavam meio cêntimo por um vaso de plástico que só tinha uma utilização, neste caso, íamos ter  €4,5 por cada vaso, era um custo muito grande para os produtores. Pensei também em hastes de óculos, mas não tinha maquinaria para as produzir, não tinha uma forma correta para chegar a isso e acabei por abandonar, dessa forma. Mais tarde, comecei a procurar de quem me ajudasse a produzir componentes de calçado e há cerca de um ano para cá foi se desenvolvendo a linha Kaffa que hoje vendemos.

A empresa Bolflex, apesar de não ter investido monetariamente, deu-me um emprego, ensinou-me o know-how e conferiu-me máquinas para produzir e desenvolver o meu produto. Só tenho a agradecer!

Quantas sapatilhas diferentes podemos encontrar?

O modelo Kaffa foi o primeiro idealizado pela Re-Coffee, é uma sapatilha unissexo, intemporal e adapta-se a vários estilos. Temos sete cores, de momento, e todas elas têm ligação ao café.

As primeiras foram as cores de café, depois temos as Caramel, as Matcha-que são verdes- as Dark Coffee (pela necessidade de termos uma cor mais escura), as Latte Pingato, Latte Makiato e as Red Velvet (vermelhas como a planta do café).

Qual o processo capaz de transformar as borras de café em material passível de fazer sapatilhas?

O processo é bastante simples, na verdade. A borra de café, depois de recolhida, tem de passar por um processo de secagem e esterilização para se transformar numa substância inerte de modo a evitar bolor, humidade, etc. Depois é feita uma mistura com borracha reciclada e através dessa mistura conseguimos criar dois produtos: um deles é a sola eco-coffee que tem 30% de borra de café na sua constituição e o restante é borracha reciclada e a coffee-lether (pele de café) tem na sua constituição 50% de borras de café e 50% de borracha reciclada.

Depois, a montagem dos sapatos é feita por uma fábrica sub-contratada que os consegue montar de acordo com as nossas preferências e os nossos modelos.

Que mais é possível de fazer com a reutilização do que sobra do café?

Existe um mundo de possibilidades, existem várias formas e produtos.

Um dos produtos que estou a idealizar é a reciclagem dos desperdícios que são produzidos na construção das sapatilhas. Tudo o que não seja utilizado, que seja cortado e sejam aparas inúteis, porque não é 100% da borra, da pele de café, que é utilizado para a sapatilhas. Conseguia reciclar esse resíduo para produção de revestimento de paredes, de revestimento para fazer piso.

Também tenho pensado em tinta do interior e de exterior, hastes de óculos, estou a tentar agora uma parceria com tecido com borra de café para uma linha de roupa, ou seja, as possibilidades são quase infinitas aqui.

Quais as vantagens de algo feito assim?

Em relação às sapatilhas, a vantagem da utilização de borras de café está inerente, em primeiro lugar, ao design, porque conseguimos perceber que são feitas de borras de café, conseguem-se ver as partículas de café reciclado e tem o aroma característico de café acabado de fazer, que perdura durante muito tempo. Essas são as características principais e visuais, o que se percebe logo à primeira vista ou ao primeiro cheiro.

Depois há características associadas à borra de café em conjunto com a borracha que são características mais técnicas. Uma delas é a capacidade de anti-oxidação que faz com que a borracha não envelheça tão rapidamente como uma borracha normal e as propriedades UV que fazem com que, mesmo sendo esta uma sapatilha que pode ser equiparada a uma sapatilha de pele, ela não aqueça tanto porque a borra de café tem esta propriedade que melhora o produto.

Há mais algum projeto que se sirva de borras de café para transformar algo?

Há outros projetos pontuais e, desde que comecei a pesquisar e a trabalhar mais a fundo nisto, fui descobrindo que outras pessoas tinham tido a minha ideia de usar borras de café em produtos de valor acrescentado, mas não para o mesmo fim.

Em Londres, há uma empresa que faz Bio-diesel e pellets para aquecimento; na Alemanha há uma outra que faz chávenas de café. Vão havendo projetos aqui e ali mas nada com a envergadura que nós queremos dar, com todas as coisas diferentes que queremos fazer com a borra de café, nesse aspeto, somos um projeto único.

Que quantidade precisam de recolher para fazer um par de sapatilhas?

São precisos trinta e três cafés expresso para fazer um par de sapatilhas.

Em termos numéricos, o que se poupa ao ambiente?

A borra de café em aterro – quando é deitada ao lixo-produz monóxido de carbono, um dos principais gases responsáveis pelo efeito de estufa. Ao estarmos a utilizar essa matéria-prima, estamos a evitar a produção desse gás para a atmosfera. Neste momento, não conseguimos dizer quanto estamos a ajudar o ambiente, mas com o aumento do nosso impacto, isso será significativo.

A produção de café está inerente a um problema muito grave: a quantidade de lixo que se produz até chegar à borra de café. Só 0,2 % do café é que acaba por passar para a chávena, quando se recolhe o fruto, logo à partida, 85% em peso é deitado fora ( a polpa e a casca são queimadas e por isso é que se tornam lixo) e o que se usa é o caroço do fruto. Nós, como Re-Coffee, queremos fechar o ciclo da indústria do café e evitar que mais lixo vá para aterros e provoque estes problemas.

 

 

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