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Política

Europa de Leste: Esquerda nacionalista sobe ao poder no Kosovo após vitória esmagadora

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Albin Kurti discursa em novembro de 2020. Foto: Site oficial do Vetëvendosje!

No dia 14 de fevereiro, o partido de esquerda nacionalista Vetëvendosje! (Movimento da Autodeterminação), liderado por Albin Kurti, venceu as Eleições Legislativas do Kosovo.  Apesar de se situar à esquerda no espetro político, Kurti fez campanha junto da Presidente Interina do Kosovo, Vjosa Osmani, uma figura da direita kosovar. 

Vetëvendosje! obteve 48% dos votos e ficou muito perto dos 61% necessários para ser a única força partidária no governo

Foi a sexta eleição Legislativa em 14 anos e foi marcada pela forte crise económica e pela pandemia da COVID-19. Apesar de proibido pelo Tribunal Constitucional em 2020 de se candidatar a deputado por ter sido condenado por um crime há menos de 3 anos, Albin Kurti pode ser nomeado para Primeiro Ministro.

Vetëvendosje! obteve 48% dos votos e ficou muito perto dos 61% necessários para ser a única força partidária no governo. Kurti classificou a vitória eleitoral como uma vitória “no referendo pela justiça e pelo emprego, contra a corrupção”. Assumiu que as prioridades do próximo governo passarão sobretudo pela justiça e pela recuperação económica do país.

As origens do Movimento

 De acordo com a France24, o partido começou como um movimento de rua, na década de 2000, ainda antes da independência do Kosovo em 2008, investindo na oposição às elites e influências externas no Kosovo. A partir de 2011, ganhou participação política oficial e assumiu posições anti-sistema, acusando os líderes do Kosovo nos primeiros anos de independência do país de gestão nacional danosa perante o sofrimento das pessoas comuns.

Albin Kurti é uma figura mais conhecida por tentar vaporizar, em 2015, ministros e deputados do governo no Parlamento como forma de protesto pelo tratado de normalização das relações com a Sérvia, decisão que levou mesmo à libertação de gás lacrimogéneo na Assembleia kosovar.

Os nacionalistas saíram já vencedores das duas últimas eleições Legislativas, mas a constituição parlamentar mostrou-se adversa à afirmação do partido. Em 2019, Albin Kurti ocupou o cargo de Primeiro Ministro por 50 dias, mas a coligação com o Partido Democrático do Kosovo (PDK) caiu.

O resultado eleitoral

O Vetvendosje obteve entre 53 e 55 lugares parlamentares (o total é de 120) com os dois rivais diretos, o PDK e a Liga Democrática do Kosovo, a obter 20 e 15 assentos, respetivamente.  O partido representante da etnia sérvia no Kosovo obteve 10 lugares. Kurti já assumiu que não irá fazer coligação com nenhum dos dois partidos tradicionais.

Este resultado demonstra um aumento da “consciência do eleitorado” e o fim do “conforto dos partidos tradicionais”, afirma Donika Emini, diretora da CIVIKOS

Donika Emini, diretora da plataforma CIVIKOS  disse à Balkan Investigative Reporting Network que este resultado demonstra um aumento da “consciência do eleitorado” e o fim do “conforto dos partidos tradicionais” que Emini afirma terem concebido no período pós-guerra com a Sérvia e Albânia, um sistema em que “nenhum partido conseguiria dominar a esfera política”.

Isa Mustafa, líder histórico da LDK abandonou a posição que ocupou por mais de 10 anos e Enver Hoxhaj, candidato a Primeiro Ministro do PDK, admitiu que o resultado enviou uma “mensagem clara” ao partido. 

Parlamento do Kosovo. Foto: Atdhe Mulla/Balkan Insight

Mudança de prioridades externas

A política externa do Kosovo tem tudo para sofrer alterações. Logo no dia da eleição, Albin Kurti admitiu que as conversações com a Sérvia não são uma prioridade para o seu governo uma vez que “em todos os inquéritos públicos, o diálogo com a Sérvia é apenas a sétima ou sexta questão” mais abordada. As potências do Ocidente, como os EUA e a União Europeia trabalharam para que este diálogo avançasse, o que parecia estar a acontecer até à demissão do Presidente do Kosovo, Hashim Thaçi, acusado de crimes de guerra.

Kurti salientou que gostaria de concretizar uma federação de Estados com a Albânia ou com a União Europeia. Por outro lado, as conversações com a Sérvia não são uma prioridade para o seu governo

Kurti está mais virado para a questão da Albânia. Salientou numa entrevista à Euronews que gostaria de concretizar uma federação de Estados com a Albânia ou com a União Europeia. Contudo, a constituição não o permite, pelo que Kurti sugere a realização de um referendo tanto na Albânia como no Kosovo, para garantir as alterações constitucionais necessárias à criação de um novo Estado Federal. Os kosovares de etnia albanesa constituem cerca de 90% da população do Kosovo. 

O impacto nas Presidenciais

Vjosa Osmani, Presidente Interina do Kosovo e candidata a Presidente incumbente. Foto: Opinion.al

A demissão de Hashim Thaçi levou à nomeação de Vjosa Osmani como Presidente Interina do Kosovo. Osmani é uma figura de centro-direita e ocupa também o cargo de Presidente do Parlamento do Kosovo. Participou ativamente na campanha de Kurti e manifestou apoio claro ao Vetëvendosje! e ao combate à corrupção.

A vitória significativa da esquerda nacionalista é um bom indicador da eleição de Osmani para ocupar de forma efetiva o cargo de Presidente do Kosovo, cuja eleição é indireta, pelos deputados kosovares neste mês de março.

Artigo da autoria de Filipe Pereira. Revisto por Marco Matos e José Diogo Milheiro.