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Devaneios

(tens olho de egípcio)

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Tens olho de egípcio
e lábios de deus grego
sabes dos clássicos
e cantas amor com a pele
canto amor ao teu ouvido
mar revolto perto da cidade
praia onde me sento na areia
cantas amor com a pele
e finjo dormir no teu regaço
teus dedos brincando
se o amor bate como a onda
este lugar é meu
onde te leio as palavras
que me dedicas
quase inocentemente
teu rosto assimétrico e belo
em sangue sob a sua maçã
eu cantei amor
enquanto falávamos
de Pessoa
de Proust
de Cesariny
de Safo
tu cantas amor com a pele
imaculada de desejos
dias que parecem horas a teu lado
nesse regaço que te desenho
somos iguais e temos quase tudo
sorris ao dizer meu nome
sorris adulterando-o
em felicidade tranquila
arrancas-me o sangue em jato
só de me declamares poesia
seja ela em ato ou em frase longa
demoras-te em mim
pois temos quase tudo

Só me falta ser homem.

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