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Artigo de Opinião

Vozes abafadas

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 Segundo a APAV, o assédio sexual é todo o comportamento indesejado de caráter sexual, sob forma verbal, não verbal ou física, com o objetivo ou o efeito de perturbar ou constranger a pessoa, afetar a sua dignidade, ou criar um ambiente intimidativo, hostil, degradante, humilhante e desestabilizador.

Basicamente, o assédio sexual é mais uma forma de diminuir, sobretudo as mulheres, colocando-as numa posição de inferioridade em relação aos homens, permitindo que sejam vistas e tratadas como um mero objeto e esquecendo as qualidades intelectuais e físicas; esquecendo o seu valor individual e social; esquecendo que o respeito é assexuado.

Todas as raparigas, normalmente a partir do início da adolescência, começam a aprender tudo o que têm de fazer para se protegerem quando andam na rua sozinhas – algumas atitudes são ensinadas, outras são intuitivas, mas não há nenhuma mulher que possa dizer que vive sem um bloco de notas mental sobre o que fazer quando está a andar na rua e se aproxima de um homem com um olhar abusador. Habituamo-nos, como se de uma sobrevivência se tratasse; começa a fazer parte do nosso dia-a-dia esta defesa e proteção necessárias. Evitar contacto visual, manter uma certa distância, tentar manter sempre uma cara sisuda e tentar ignorar os olhares sórdidos, alheios a cortesias ou seduções agradáveis –  tudo para marcar um terreno que não está «aberto ao público».

«A culpa não morre solteira», sempre se disse que a voz do povo acusa a vítima quando desabafa estes sentimentos humilhantes e desprestigiantes – «O que fizeste para provocar isso?».

Nada! Simplesmente nada! Apenas acreditamos na liberdade que respeita a liberdade de escolha do outro.

Não aceitamos limites – somos capazes, somos iguais, intelectualmente preparadas, fisicamente fortes o suficiente para singrar em tarefas, em compromissos pessoais ou laborais que nos projetam para um holofote temido por quem dominou a praça pública durante séculos.

A sabedoria, o «sexto sentido», se assim o quiserem chamar, mostra-nos que há medo, medo de ultrapassagem, medo de uma capacidade multifuncional em diferentes esferas das nossas vidas.

E é fechados nesse medo que enviam piropos, toques dissimulados, mas invasivos de um espaço pessoal que não foi aberto ao transeunte.

Falemos, não deixemos que o som das nossas vozes incomodadas, ofendidas, magoadas, se fechem no receio de não sermos valorizadas. Não temos outra escolha senão lidar, enfrentar este desafio de validar a nossa capacidade laboral, social e individual.

Eles não sabem, não querem saber, não da forma que precisam de saber, como é visto o mundo deste lado balizado por identidade sexual. Vão continuar a viver dentro da ilusão que os ensina há gerações que a mulher é um ser repleto de emoções e dramatismos.

Longe da pretensão de mudar o mundo, deixo o meu «grito» certa de que amanhã tudo estará igual porque a mudança é um percurso arrastado, enredado em políticas convenientes e idílicas que só mudarão se acreditarmos na mudança.

 

Artigo da autoria de Bárbara Pires

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