Política
Da imigração ao papel da UE no mundo: uma viagem com Rui Rio pela política, a bordo do “Política a Triplicar”
O presidente do PSD chegou à FEP um pouco depois das 18h para ser recebido por um grupo da comunicação social. Apressado, dirigiu-se rapidamente ao edifício, não prestando declarações à imprensa. Uma vez dentro, aproveitou para colocar a conversa em dia com os alunos e para relembrar o edifício onde, anos antes, estudou. Voltaria a recordar esses anos uma vez sentado, antes de iniciar a ronda das perguntas. Para uma plateia cheia, dentro dos limites impostos pelas restrições devidas à pandemia, fez um parecer sucinto sobre o estado lamentável do país, colocando-se à disposição para responder às questões daqueles que, concordando com ele ou não, se questionavam sobre que rumo pode, nos próximos anos, Portugal tomar.
União Europeia: Gaza, imigração e competitividade empresarial
A ronda de perguntas foi iniciada por uma referência ao papel que Portugal deve ou não ter no conflito na Faixa de Gaza, que ressurgiu nos últimos tempos com toda a sua potestade. Rui Rio, relevando a pertinência da pergunta, começou por confessar que o possível papel de Portugal na manutenção do conflito teria de passar sempre pela sua posição como presidente do Conselho Europeu, onde este pode ter efeitos na política internacional. Segundo o mesmo, um conflito como o da Faixa de Gaza apenas pode ser travado por “uma potência como a União Europeia como um todo, em conjunto com os Estados Unidos da América”. Não querendo responsabilizar ninguém pela destruição no Médio oriente, referindo que se trata de um “conflito complexo”, reiterou que, ao contrário da esquerda, não via Israel como a única culpada na ordem dos factos.
Um conflito como o da Faixa de Gaza apenas pode ser travado por “uma potência como a União Europeia como um todo, em conjunto com os Estados Unidos da América”
A questão sobre os conflitos no Médio Oriente levou rapidamente a um debate sobre a recente crise de refugiados que avassalou a Europa. Tomando em conta os efeitos das políticas referentes a essa questão, um aluno aproveitou para perguntar ao político qual era a sua visão face ao ceticismo instalado no que concerne a União Europeia. Rui Rio alongou-se na questão, começando por realçar os variados problemas na UE, para além dos refugiados, como o do decréscimo abismal da natalidade. Colocou então que a imigração se processa como “um negócio”, sendo uma boa cura para este problema. Quando bem conseguida, deve beneficiar em simultâneo o imigrante e o Estado recetor, sendo conseguida dentro de um cenário de criação de emprego e de condições sociais para os trabalhadores recebidos.
Na mesma ordem de ideias, referiu que ter as fronteiras abertas a todos, indiscriminadamente, constituía um “perigo social”, sendo que muitos dos imigrantes que entram em Portugal acabam por viver em condições precárias e isoladas da sociedade, fomentando preconceitos xenófobos na população. Ainda sobre o mesmo tópico, realçou ser muito mais fácil integrar imigrantes vindos dos Açores e de Moçambique, por exemplo, devido à sua proximidade histórica, cultural e social com Portugal. “Manda o bom-senso que se controlem as fronteiras”, rematou.
Se várias mãos na sala pediam uma mudança de rumo na conversa, a sessão teve ainda direito a mais uma pergunta sobre a UE. Interpelando Rui Rio, um dos alunos presentes questionou o líder sobre o que se poderia fazer para que Portugal ganhasse vantagem na União Europeia. Rui Rio, emitindo um esgar, começou por elencar os problemas estruturais de Portugal, referindo a panóplia de empresas descapitalizadas e a pesada carga fiscal sobre o tecido empresarial. Realçou então que, apesar disto, Portugal possui uma classe empresarial com capacidade, excetuando certos casos como, por exemplo, o do Novo Banco. Aliando tudo isso, concluiu dizendo que a competitividade portuguesa poderia ser alcançada com uma verdadeira reforma na segurança social.
Quanto ao complexo tópico da imigração, “manda o bom-senso que se controlem as fronteiras”.
Portugal: O Porto, a desacreditação política, a descentralização e os jovens na política
Foi falando-se da Segurança Social que se voltou a Portugal e, especialmente, à política portuguesa. Um dos presentes na sala revelou-se preocupado com a desacreditação da política, suscitando então a dúvida de como, nesta conjetura, se poderia atrair os melhores para a governação. Rui Rio, sorrindo, começou por dizer que esta era uma excelente pergunta. Segundo o social-democrata, a desacreditação da política em Portugal é expectável, sendo que a sociedade portuguesa mudou muito desde a implementação democrática em 1976, enquanto as instituições e mantêm quase inalteráveis, estando desajustadas da realidade. Também a comunicação social é hoje um motor de desacreditação, difundindo fake news que denigrem a democracia e as suas instituições. “Daquilo que chega ate vós sobre mim, mais de 50% está deturpado”, referiu. A mudança, salientou Rui Rio, passaria por aqueles que estão no poder, os únicos que podem reformar a democracia a partir de dentro. “Mas uma escassa minoria de grupos de interesse vai cada vez mais dificultando esta situação”, acabou por referir.
Se a política se esvazia de bons gestores e empresários, também os jovens parecem cada vez mais não se acercar das instituições. Assim, um dos participantes mostrou interesse em saber quais os conselhos de Rui Rio para que um jovem pudesse ingressar na política à direita. O social-democrata começou por clarificar que nem ele nem o PSD eram de direita ou esquerda. “Nós temos é uma ideia fabricada de que tudo à direita do Partido Socialista é de direita”, acrescentou. A direita, segundo o mesmo, seria constituída pelo CDS-PP, Iniciativa Liberal e pelo Chega, sendo o aparecimento dos últimos dois um fenómeno natural num país que, tendo forças dispersas à esquerda, não as possuía no eixo contrário.
Respondendo ao pedido feito, aconselhou quatro passos para a entrada na política: participação em associações juvenis como a APA; entrar para um partido; ser coerente uma vez dentro deste; e aprender enquanto se faz participação cívica.
A mudança na desacreditação política passaria por aqueles que estão no poder reformarem a democracia. “Mas uma escassa minoria de grupos de interesse vai cada vez mais dificultando esta situação”, acabou por referir.
Se as perguntas se centralizavam na participação política, um dos participantes decidiu descentralizar a discussão, perguntando ao líder social-democrata quais poderiam ser os poderes a se regionalizar em Portugal. Como na anterior questão, a primeira parte da resposta foi dedicada a algumas clarificações. Para Rui Rio, existe uma grande diferença entre concentração e centralização. Em Portugal, o problema é que tudo se encontra concentrado num sítio só: em Lisboa. Na Alemanha, por exemplo, o Banco de Portugal não estaria em Lisboa ou no Porto, mas sim em Viseu. Quanto à regionalização, Rui Rio realçou que “quando existe proximidade os efeitos são sempre melhores”. Assim, tudo que se puder concretizar a menor escala deve ser incentivado, passando-se então depois a escalões superiores, e assim sucessivamente.
Não fosse Rui Rio falar do Porto, um dos alunos interpelou-o com um pedido mais nostálgico: de que mais se orgulhava de ter feito aquando da sua presidência na autarquia do Porto? O social-democrata, mostrando orgulho nos anos de governação traçados, começou por dizer que colocou três prioridades nos seus mandatos, cumprindo todas elas: Reabilitar a habitação social e os bairros sociais; Reabilitar a Baixa do Porto; e viabilizar a mobilidade e o turismo. Acabou por realçar que o seu maior orgulho foi ter conseguido baixar a criminalidade em bairros do Porto, fomentando a segurança e o bem-estar social na cidade.
Rui Rio aconselhou os estudantes a terem primeiro uma carreira antes de se entregarem à política, de modo a “poderem ir à política com mais liberdade”.
Para finalizar a questão, o auditório voltou a discutir o papel dos jovens na política. Do fundo da sala, um aluno questionou Rui Rio sobre se este achava que os jovens deveriam ir para a política ganhar experiência ou se deviam consegui-la primeiro e só depois entrar na política. O social-democrata respondeu que “o ideal não é adquirir a experiência fora e depois entrar, nem adquirir a experiência por dentro”. Aconselhou os estudantes a terem primeiro uma carreira antes de se entregarem à política, de modo a “poderem ir à política com mais liberdade”. Deu, para tal, o exemplo da sua carreira como economista, realçando que, tal chão económico, reduz a sua preocupação com o resultado das autárquicas, pois terá mais que fazer para lá da política.
Uma última pergunta do JUP: Le Pen e o populismo francês
Já no final da sessão, num ambiente de maior proximidade com o líder social-democrata, o JUP, como media partner da APA, teve a oportunidade de questionar o político sobre um tópico enquadrado na sessão. O JUP tentou assim saber qual seria a opinião de Rui Rio sobre os possíveis efeitos que uma vitória de Marine Le Pen na França teria na União Europeia. O político, após questionado, ficou alguns segundos a pensar sobre a pergunta, dizendo que essa era “uma das complicadas”. Respondeu, então, que a vitória de Le Pen poderia trazer efeitos negativos e positivos à UE. Se os efeitos negativos se mostrariam facilmente e seriam evidentes, os efeitos da vitória da populista francesa poderiam fazer com que, a médio-longo prazo, se impedisse a escalada de outros movimentos semelhantes na Europa, sendo assim “um mal que veio por bem”. No entanto, considerou que acreditava que tal não aconteceria num futuro próximo, mas que era inevitável a subida dos radicalismos de direita na Europa em qualquer momento.
Quanto ao Chega, disse ainda não ser um partido perigoso e com uma espinha dorsal assente, constituindo-se apenas por um deputado “a berrar no parlamento”
No seguimento da resposta, clarificou ainda que a maior preocupação que advém do partido de Le Pen é o facto de ter uma base ideológica já muito assente, tal como o VOX na Espanha. Quanto ao Chega, em Portugal, disse ainda não ser um partido perigoso e com uma espinha dorsal assente, menorizando a sua expressão eleitoral, confessando achar que o novo partido de direita português se constituía apenas por um deputado “a berrar no parlamento”.
Artigo da autoria de Marco Matos. Revisto por José Diogo Milheiro.