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Cultura

Casa da Música “delira” com Concerto Grosso italiano

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A Orquestra Barroca Casa da Música inicia o espetáculo, com direção do maestro  e cravista Laurence Cummings, tocando quatro peças, com destaque para o Concerto Grosso “La Follia” e uma Sinfonia da ópera “L’incoronazione di Dario”. No entanto, o maior destaque desta primeira parte foi a paixão que se percebia que existia pela parte dos músicos. Durante cada apresentação não estavam apenas limitados a tocar a sua parte: eles dançavam ao som das obras e conseguiam ao mesmo tempo fazer com que o público vibrasse com a sua energia contagiante.

A certo ponto, deixou de parecer um concerto barroco, passando a assemelhar-se a uma discussão entre os dois violinos principais.

Após um curto intervalo, deu entrada a Orquestra Sinfónica do Porto Casa da Música, sob a direção de Christian Zacharias, a interpretar, num tom mais formal e clássico, um Concerto Grosso de Georg Friedich Händel, antes de dar lugar ao que se poderia chamar de “ato principal”: o Concerto em Dó Maior para violoncelo e orquestra – da autoria de Joseph Haydn, que foi descoberto apenas em meados da década de 60, cerca de 200 anos após a sua criação, e 150 depois da morte do seu autor. Entra também o intérprete principal, o violoncelista holandês Pieter Wispelwey, cuja marca no mundo da música é cada vez mais notável.

Apesar do caráter mais clássico e sóbrio desta segunda parte do concerto, a verdade é que Pieter sempre se manteve energético durante a atuação, nunca deixando de apreciar a música que ele e a orquestra faziam, ouvindo os seus colegas músicos com a mesma emoção e paixão com que tangia o seu violoncelo. O solo a meio da peça demonstrava a mesma imponência tanto na sua composição, como no efeito que teve na sala Suggia: um silêncio expectante e atento, apreciador da obra que encantava o ambiente.

A Orquestra Sinfónica do Porto Casa da Música, com Pieter Wispelwey (fotografia: Casa da Música)

Um ponto de vista diferente: pelos olhos do músico

No final do concerto, no bar da Casa da Música, o violoncelista Pieter Wispelwey  respondeu a algumas perguntas do JUP sobre a peça que tocou, a sua vida como músico e as futuras gerações de músicos, num clima mais leve e divertido, demonstrando-se sempre uma pessoa acessível e calorosa para com os admiradores da sua arte. Quando questionado sobre a obra de Haydn, em que foi o solista principal, ficamos a saber que não é a primeira vez que Pieter a toca. Na verdade, já há décadas que vive com a mesma.

“Uma peça destas torna-se como um amigo pessoal”

Apesar do tempo com que tem convivido com a mesma, a verdade é que o violoncelista tenta sempre que seja uma experiência nova de cada vez que a interpreta. Os gestos, as expressões, sentir a própria energia da música são coisas essenciais para se manter fresco e comunicar com o ouvinte tudo o que a música tem para oferecer.

A sua paixão pela música começou quando tinha apenas dois anos. Na altura, ouvia o seu pai, um violinista amador, tocar todas as semanas com um grupo de amigos, num quarteto de cordas. Os ensaios eram o local predileto onde reinava a música, e foi onde Pieter se aproximou desta arte e daquilo que ela iria trazer para a sua vida.

“O instrumento que eu achava mais impressionante era o violoncelo. Eu era tão pequeno, e o violoncelo era muito grande! Eu sou uma vítima daquela criança! E não me importo!”

Falou também sobre o que prefere na música, se ouvir, ou tocar. Com clareza na voz, a resposta foi inequívoca: tocar o seu instrumento! No entanto, não retira a importância da audição na sua própria experiência.

“Quando tocamos em orquestra, ouvimos a orquestra, quando tocamos música de câmara, ouvimos os nossos colegas. Claro, se isso se tornar a tua vida – ser um músico – tens de ter a habilidade de ouvir enquanto tocas”.

Por último, e em tom conclusivo, dirigiu uma palavra de encorajamento para todos os violoncelistas da nova geração, que se fizeram presentes no concerto para ter um vislumbre da técnica de Pieter.

“O violoncelo é a nova guitarra, está a tornar-se cada vez mais popular, e é porque é um instrumento universal! Podemos ir tão alto como o violino, e podemos fingir que somos um contrabaixo. Podemos tocar como um clarinete, podemos tocar como uma flauta! Podemos tocar como qualquer coisa!”

Artigo da autoria de David Sousa Pinto