Artigo de Opinião
Um partido político não é um clube de futebol
É ok se votavas Bloco de Esquerda e agora apoias a Iniciativa Liberal, ou vice-versa. Não é assim tão absurdo… Um partido político não é um clube de futebol. Não é um símbolo que tens de carregar para o resto da vida e permanecer fiel, no matter what. No futebol, faz sentido. Trata-se de emoção. É um apego especial a uma cor e uma equipa que, apesar de os jogadores mudarem todos os anos, continua e não se explica com argumentos lógicos. Entendes como é ridículo aplicar o mesmo à política, que tem tudo a ver com pensamento, espírito crítico e lógica?
Política não é religião. Não é fé. São mesmo convicções.
Política é a discussão de ideias e, ao discutir essas ideias, é provável que ganhes uma visão maior da realidade e definas melhor os teus pontos de vista. Inevitavelmente, vais perceber que concordas com uns partidos em alguns aspetos e com outros noutros temas.
Sobretudo nos jovens, faz todo o sentido procurar conhecer os propósitos de cada partido, a forma como votam e os planos que têm para o país, sem amarras a um partido que começaram por simpatizar ou ideias pré-concebidas. Tens o direito de te envolver politicamente num lado, tal como tens o direito de, no dia seguinte, saltar para o outro e concordar genuinamente também. Não nascemos ensinados, tão-pouco nascemos a ser conhecedores o suficiente de tudo para saber o que apoiamos. É um caminho que se vai fazendo…
A menos que sejas o fundador do partido, não tens te identificar com todas as formas como o partido se posiciona.
Nada te impede de continuar a concordar com um partido nuns aspetos, concordar com outros noutros, ou até achar que um diz umas verdades mas nunca votarias nele. Para isso, é importante ires lendo os programas eleitorais, que por alguma razão são feitos especialmente para cada eleição. Os próprios partidos mudam e adaptam-se a cada desafio (ou pelo menos, devem).
Apoiar um partido também não significa que queres esse partido a cargo da governação total do país. Por isso é que existe o Parlamento e estão lá vários partidos e várias ideologias representadas. Podes dar mais força a um partido que sintas que neste momento faça mais falta ao país. Do mesmo modo, podes já ter votado num partido que veio a ganhar poder suficiente para se sentir neste momento demasiado confortável ao ponto de não se esforçar para merecer o teu voto.
“Momento”. Tem tudo a ver com o momento e o futuro que queremos para os próximos quatro anos. Se são as Eleições Legislativas 2022, não faz sentido pensar como era o estado do país em 2015. As problemáticas mudam. Surgem novos obstáculos. Os contextos sociopolítico e económico são outros. Há uns dias, disseram-me que iam votar no Partido Socialista porque nos “salvou da ditadura e nos deu o 25 de abril” (1974…).
Vamos votar com mais consciência da atualidade. Vamos apoiar um partido pelo que diz hoje sobre o que se passa hoje. Não podemos prever o futuro, mas podemos votar com base na visão de futuro e na adaptabilidade dos partidos às mudanças globais. E vamos votar sabendo que nas próximas eleições temos o direito de votar num quadrado completamente oposto.
Artigo da autoria de Bruno de Azevedo