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Artigo de Opinião

Quem está mais ao centro?

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A meras horas das eleições, as sondagens oscilam, as estratégias mudam e ninguém sabe quem irá sair a ganhar das eleições mais imprevisíveis de sempre. O debate entre António Costa e Rui Rio, os líderes dos dois maiores partidos, marcou o passo para o que veio a tornar-se numa campanha completamente efervescente.

No confronto entre os dois, Rio afirmou o que já tive a oportunidade de aqui escrever. A esquerda que chumbou o Orçamento do Estado é a mesma esquerda que agora admite e suplica por um novo entendimento, quando António Costa exibe um conjunto de folhas, como se fosse uma Bíblia, que em pouco deve diferir do mesmo Orçamento apresentado há poucos meses. O que mudou deste então? Porquê agora a facilidade de entendimento? Uma incoerência absurda. Costa agarra-se ao OE2022, com orgulho e determinação, como se aquele documento não resumisse a razão pela qual vamos agora para eleições. Se é aquilo que tem a apresentar ao país e ao parlamento, como o vai aprovar? E todo este compasso para eleições segue pelo cano abaixo.

Da esquerda à direita, a estratégia tem sido uma: a completa diabolização do líder do Partido Socialista. Nada que se possa considerar uma surpresa quando Costa roga por uma maioria absoluta. O caminho, contudo, é sinuoso. O cenário em que o PS não ganha as eleições é difícil de imaginar e por alguma razão Costa afirma, de forma tão descontraída, que abandona o cargo se perder no domingo. Porque sabe que tal dificilmente acontecerá. Nas legislativas de 2019, a direita sentou 86 deputados no parlamento. Para hoje chegar a uma maioria, precisava de roubar 30 lugares à sua esquerda. Um cenário difícil, mas não impossível. 2022 pode trazer uma surpresa no cenário político nacional. Rui Rio, com a vitória do PSD, pode ser essa surpresa.

António Costa, ainda antes de ser eleito primeiro-ministro, integrou diversos outros governos, com Guterres e Sócrates, foi deputado e eurodeputado e ainda presidiu à Câmara de Lisboa. Começa-se a notar um certo cansaço nos eleitores e o próprio político também já o revela quando diz que sai do cargo se perder. Fazer oposição também é lutar pelo país e pela democracia. Recusar esse posto, tendo como condição indispensável a vitória, é desonroso para a profissão.

Rio não é um negociador nato como Costa. Mas é 1) um contabilista, um homem das contas certas, e os portugueses gostam de ter as contas certas e a casa arrumada; é 2) uma pessoa extremamente frontal e honesta (pecando até por excesso de sinceridade) e é ainda 3) um político que se posicionou ao centro e que reposicionou o partido ao centro. É no centro que estão os votos. Como os portugueses têm demonstrado em todos os atos eleitorais, a grande escolha é a moderação.

Alerto que, ao contrário do que muitos querem fazer parecer, as sondagens não terão sempre a mesma falta de fiabilidade como tiveram no caso das eleições para a Câmara Municipal de Lisboa. Moedas ganhou por uma margem mínima e Medina foi extremamente prejudicado por diversos casos polémicos e graves, nomeadamente pelas questões da ciclovia, pela falta de soluções para o problema da habitação na cidade e principalmente pelo chamado Russiagate.

Na campanha, Rio adotou uma certa postura e têm-na mantido. Este ar de descontração (com camisas abertas e com a gravata na gaveta), de sentido de humor constante e de ataques oportunos tem-se revelado muito mais certeiro do que o de António Costa, que parece perdido – tanto pede a maioria absoluta como admite conversar com todos. Do líder do PSD, apesar das inúmeras críticas que deixo agora de lado, destaco o sentido de Estado. O apoio que deu ao Governo durante o combate à pandemia, a abertura para o diálogo e o seu posicionamento como alternância, e não alternativa, são condições raras na classe política, que adora aguardar pacientemente, tal qual abutres, pela morte política de alguns.

Depois de uma pausa atípica e tempestuosa como esta e com todos os sinais negativos vindos do exterior, o país precisa de um governo estável urgentemente. Não consigo afirmar com certezas quem irá ganhar estas eleições, mas posso afirmar, sem qualquer margem para dúvidas, que a grande escolha vai voltar a ser a abstenção.

Artigo da autoria de João Paulo Amorim