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Ciência e Saúde

Lítio e a exploração em Portugal

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A exploração em Portugal

São realizadas explorações de lítio em Portugal há décadas, sendo que  a maioria dos recursos minérios reverte para a indústria da cerâmica e da produção de vidro. Contudo, a indústria energética sofreu alterações nos últimos anos e o lítio surgiu neste panorama como uma alternativa, tendo consequências diretas na procura e no valor do mesmo.

Em 2018, foi apresentada em Conselho de Ministros uma resolução que defende e promove a exploração de Lítio no Centro e no Norte do país. Isto foi motivado pelas vastas reservas de lítio de Portugal e pela crescente importância deste em indústrias, como a dos carros elétricos.

Os novos projetos que vão surgindo neste âmbito são apoiados pela União Europeia e encontram-se sempre pendentes de viabilidade económica e ambiental.

O caso mais mediático é o da freguesia de Covas do Barroso em Boticas, distrito de Vila Real. Um projeto em parceria com a empresa britânica Savannah Resources avançou com o objetivo de explorar a mina do Barroso, que é potencialmente a mina mais rica em lítio na Europa ocidental. Esta empresa propõe-se ainda a analisar a viabilidade de fazer o tratamento de lítio no país.

O projeto está em andamento apesar dos múltiplos protestos por parte da população de Covas do Barroco e dos pareceres negativos apresentados por associações ambientalistas como a ZERO e a GEOTA.

Como ocorre a exploração e o que há a ter em conta?

A exploração do lítio ocorre em minas a céu aberto, sendo removidos blocos de material e extraídos os minerais de lítio, como é o caso da espodumena (principal fonte de lítio em Portugal).

Por sua vez, estes minerais são tratados física e quimicamente com o objetivo final de isolar o lítio presente e, finalmente, armazená-lo sob a forma de, por exemplo, hidróxido de lítio, um composto mais estável.

Este é o caso de Portugal, podendo o método de obtenção do lítio variar de país para país. No Chile, por exemplo, o processo ocorre em salinas, havendo um tratamento posterior dos sais obtidos, de forma a isolar o lítio.

De seguida, este é distribuído pelas diversas indústrias, nomeadamente a da produção de baterias, de cerâmicas, de vidros e de fármacos. A indústria que se destaca é a do armazenamento de energia, já que mais de metade do lítio minerado se destina para a mesma. Esse valor, que tem aumentado ao longo dos últimos anos, deve-se, em grande parte, ao crescimento do uso e produção de carros elétricos, cujas fontes de energia são precisamente baterias de lítio.

Para além disso, as baterias de lítio são especialmente importantes na ideia de sustentabilidade energética, tendo a capacidade de armazenar a eletricidade produzida a partir de fontes renováveis, algo que, até ao momento, era apontado como fragilidade deste tipo de energia. Verifica-se, portanto, um crescimento da eficiência energética de países ricos em fontes de energias renováveis, como é o caso de Portugal. Consequentemente, o impacto da exploração do Lítio é também positivo a nível europeu. Por um lado, o fenómeno de eficiência energética a uma escala europeia é promovido, evitando a importação de tantos recursos energéticos a países exteriores à União Europeia. Por outro lado, desempenha um papel importante no processo de descarbonização e no cumprimento das respetivas metas estabelecidas pela UE.

Outros aspetos positivos seriam a criação de emprego e o desenvolvimento da economia da região e do país, fazendo de Portugal um membro ativo no fenómeno da transição energética.

Contudo, a exploração deste recurso natural levanta sérias questões ambientais, nomeadamente o risco de contaminação das águas subterrâneas e dos solos com resíduos industriais. Sendo importante assinalar a profunda alteração na morfologia da região , situação que está diretamente ligada às implicações sociais da exploração do lítio. Como por exemplo, a perda dos recursos e das atividades que previamente ocorriam nestas zonas (agricultura, floresta, etc) e a perda de qualidade de vida por parte dos habitantes das zonas mais afetadas pelas minas.

Outra questão é a viabilidade económica destas investidas promovidas pelo Governo, uma vez que os custos de exploração são muito elevados e o valor do lítio tem sofrido quebras ao longo dos últimos anos. Isto deve-se à vasta oferta, justificada não só pela presença do lítio ao longo de toda a crusta terrestre, mas também pela existência de outros produtores capazes de oferecer preços mais competitivos. Como é o caso dos países sul americanos: Argentina, Bolívia e Chile, que têm a maior reserva mundial de lítio e conseguem ter mão de obra mais barata. Para além destes países destacam-se ainda outras duas potências na indústria do lítio, a Austrália e a China.

Mas como funciona uma bateria de Lítio?

O lítio surge tipicamente associado a baterias recarregáveis, que podem ser, por exemplo, uma pilha. Uma típica bateria de lítio baseia-se numa estrutura que envolve um cátodo (polo positivo), um ânodo (polo negativo) e um eletrólito (solução que permite passagem de corrente elétrica) entre os dois polos. Considerando a bateria carregada, temos no polo negativo átomos de lítio intercalados com camadas de grafeno (estrutura de carbono muito estável). Por sua vez, o lítio é altamente instável como átomo e tende a perder o eletrão da sua órbita mais exterior, e passa, desta forma, à configuração de um ião de lítio positivamente carregado. Estas cargas induzem uma diferença de potencial entre os polos, resultando num movimento dos eletrões para o polo positivo através de uma ligação externa, como um cabo elétrico. Por fim, os iões de lítio juntam-se ao cátodo através do eletrólito, permitindo o equilíbrio de cargas nas reações químicas ocorridas. O carregamento da bateria é descrito pelo processo inverso.

Alguns dos benefícios apresentados por esta tecnologia face às anteriores, nomeadamente às baterias de Níquel, são a elevada eficiência; pouco tempo necessário para carregar; cargas mais duradouras; menos perdas de energia quando não estão em funcionamento; longa vida útil; serem recarregáveis e; a bateria não viciar, uma vez que estas não possuem memória. As baterias de lítio destacam-se ainda por serem recicláveis, porém os elevados custos desse processo têm mantido as taxas de reciclagem muito baixas.

A indústria de produção de baterias de lítio é fortemente dominada pela China sendo seguida por outros países asiáticos (Japão e Coreia do Sul) e pelos Estados Unidos.

O caso de Portugal é promissor aos olhos da União Europeia que ambiciona passar a ser um dos principais produtores mundiais de baterias de lítio. O governo português está fortemente convencido de que estas explorações terão êxito, deixando sempre clara a preocupação com a região de Trás-os-Montes, ao prometer uma minimização eficiente e inteligente dos efeitos laterais nocivos.

Texto por Martim Lousado. Revisto por Maria Teresa Martins.

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