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Artigo de Opinião

INDECISO OU IMPENETRÁVEL, UM CORAÇÃO SERÁ SEMPRE UM CORAÇÃO

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João Portugal Barbosa

João Portugal Barbosa

Desenganem-se aqueles que pensam que homens não amam. Só é homem quem amar e tiver coragem de admitir isso, ponto. Tudo bem que este ceticismo masculino no que toca a sentimentos é parte do que nos caracteriza enquanto inspiração para símbolos fálicos, e que a indiferença com que vivemos estas coisas é algo idiossincrático. Contudo, uma coisa é certa: somos vulneráveis à experiência certa. E até existem flow-charts para saber em que fase estamos.

Começa como outra ocasião qualquer de interesse, em que somos chamados a atenção por ela. O perfume, a maneira como se veste, o “charme” – essa maravilha indefinível – (ou tudo junto), empurra-nos para a borda da nossa realidade, até cairmos na de todos os outros. E o nosso olhar ganha uma nova âncora. Ficamos irritados, sobretudo por percebermos o que se passa e, simultaneamente, por não sabermos o que fazer com o que sentimos. E, quando decidimos encher-nos de coragem, não entendemos o porquê de gaguejarmos tanto, porque, afinal de contas, nunca foi assim. Para nós, que sempre foi leve, torna-se um tormento de indecisões, pela dificuldade, invocada por Bernardo Soares, de transmitirmos o que sentimos. E, de repente, tudo é melhor do que a situação em que estamos. Morar em Gaza soa-nos a paraíso.

A partir daqui, o nosso maior desejo não nos parece tão grande assim: só queremos que ela sinta o mesmo que nós. E prometemos que ela nunca irá conhecer o nosso mau feitio. O desktop na nossa cabeça tem uma imagem dela como fundo, e só pensamos em maneiras de conseguir transmitir o quanto a queremos na nossa vida, e como Oscar Wilde tinha razão! Nessa altura, a nossa existência veste-se de contradições, como quando a impaciência por estarmos com essa pessoa vence o cansaço de um dia cheio e teima em nos impedir de dormir, ou quando os desejados instantes de silêncio se tornam penosos. E (cereja no topo do bolo) ainda somos capazes de dizer “obrigado por existires”.

Talvez seja temporal. A indiferença pode trazer-nos o que queremos até determinada altura, mas sabemos que, a partir daí, convém deixarmo-nos de fitas, ou ninguém nos atura. Porque sim, uma relação verdadeira é um dos melhores negócios que alguma vez teremos: pagamos exatamente o que ela vale, e compensa como mais nada neste mundo. Além de toda a peculiaridade da coisa. Afinal de contas, o cenário que achamos idílico é a única coisa capaz de nos fazer atribuir, a isso mesmo, o direito de existir. Aquilo que consideramos o desejo de muitos e a sorte de poucos.

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