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Cultura

Restos do vento: a violência geracional perpetuada nas tradições e “a falta de espaço para fragilidade no mundo”

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Os bilhetes para a sessão no pequeno auditório de cinema do Teatro Municipal do Porto esgotaram esta terça-feira. Horas antes, passou também “Coisa Ruim”, a primeira longa-metragem do realizador. No final da sessão, Tiago Guedes e parte do elenco conversaram com os espectadores sobre o processo e as intenções deste filme, as questões da culpa, do medo do que é estranho e principalmente sobre “a falta de espaço para a fragilidade no mundo”.

A nova longa-metragem, do realizador de ‘A Herdade’ e da primeira série portuguesa da Netflix ‘Glória’, integrou a Seleção Oficial – Special Screenings da 75ª edição do festival de Cannes, onde um realizador português já não subia as escadas vermelhas há 16 anos.

O argumento, desenvolvido com Tiago Rodrigues, constrói uma realidade através de fragmentos de diversas tradições pagãs de toda a Europa, num ambiente rural e com uma comunidade isolada. É através deste ritual – que não foi uma tradição portuguesa, porque isso, segundo Tiago Guedes, iria centrar a discussão num caso específico – que o filme reflete “sobre esta violência que se vai perpetuando e passando de geração em geração”.

Desenvolvendo-se, anos mais tarde, em volta das consequências de uma agressão, “Restos do vento” não procura decifrar a fórmula de como travar a circularidade da opressão, mas sim lançar a questão e abrir o diálogo para esta perpetuação de valores tradicionais dentro das comunidades, sem existir uma discussão sobre as questões morais dos mesmos.

A freguesia de Meimão, enquadrada por Mark Bliss, diretor de fotografia, ganha vida através de atores como Albano Jerónimo, Nuno Lopes, Gonçalo Waddington, João Pedro Vaz e Isabel Abreu. Que por entre os sopros do vento exploram as relações entre si e com o espaço, que interpreta um personagem em si próprio.

O filme vai poder ser visto no Porto ao longo desta semana no Cine-Estúdio do Teatro Campo Alegre e no Cinema Trindade, com duas sessões diárias.

Artigo da autoria de Renata Mendes. Fotografia da autoria de Bárbara Pedrosa.