Connect with us

Ciência e Saúde

Burnout em estudantes universitários

Published

on

A exigência do ensino superior está intrinsecamente associada a situações de stress que representam inúmeros desafios. A falta de recursos para enfrentar estas exigências poderá conduzir ao burnout. Este problema, muitas vezes negligenciado, pode comprometer tanto o sucesso académico, como a saúde e a qualidade de vida.

stress é cada vez mais frequente nos estudantes universitários. Exames, entrega de trabalhos e prazos curtos para cumprir, tem criado uma elevada carga cognitiva sobre os alunos do ensino superior.

Descrito pela primeira vez em 1974, pelo norte-americano Herbert Freudenberger, o conceito de burnout tem vindo a sofrer alterações. Atualmente, é consensual que burnout consiste numa condição grave associada a vários sintomas de sofrimento físico e psicológico, que pode surgir como resposta à exposição de stress crónico, perante a qual o indivíduo sente que esgotou todos os recursos e que não possui estratégias adaptativas para lidar com a situação.

A Organização Mundial de Saúde (OMS) incluiu, desde 2019, o burnout na Classificação Internacional de Doenças (CID) como uma doença ocupacional. No entanto, não o considera como uma “condição médica”, descreve-o como “uma síndrome resultante de stress crónico no trabalho que não foi gerido com êxito”. (Maslach et al., 2001; Teixeira, 2002)

Nos estudantes, burnout compreende uma tríade de exaustão emocional, despersonalização e sentimentos de ineficácia ou de baixa realização. A exaustão emocional está relacionada com a superação dos recursos emocionais devidos às exigências do estudo.  A despersonalização refere-se a uma atitude negativa, insensível ou resposta excessivamente distanciada ao estudo, colegas e professores. Por sua vez, os sentimentos de ineficácia expressam-se num desempenho académico reduzido, como um declínio nos sentimentos de competência, êxito e de realização como estudante. Estudos sobre a prevalência da síndrome de burnout em estudantes universitários apresentaram estimativas de 55,4% para exaustão emocional, 31,6% para despersonalização e 30,9% para eficácia acadêmica.

As elevadas exigências cognitivas que ocorrem sob pressão de tempo conduzem à experienciação pelos alunos de stress crónico que, quando prolongado, pode conduzir a sintomas compatíveis com a síndrome de burnout.

Um estudo, divulgado no início de 2020 (período pré-pandemia COVID-19), “Envolvimento e burnout no ensino superior em Portugal” pelo Professor Doutor João Marôco, do Instituto Superior de Psicologia Aplicada (ISPA), mostrou que metade dos alunos que frequentavam o ensino superior estavam em situação de burnout. Este estudo mostrou ainda que é nos distritos do litoral centro e norte de Portugal, que correspondem também a zonas de maior densidade populacional, que os níveis médios de burnout são mais elevados. Relativamente às áreas de estudo, a áreas das ciências biológicas e das ciências exatas são as que apresentam níveis mais elevados de burnout.

Outro estudo, “Utilização de medicamentos em estudantes universitários com burnout”, em que participaram 1 067 estudantes portugueses do ensino superior, revelou que um em cada três estudantes do ensino superior toma algum tipo de medicação para o alívio de sintomas de ansiedade, melhoria de desempenho cognitivo, problemas com o sono e sintomas depressivos, devido aos estudos.

Baixo rendimento cognitivo, abandono escolar, baixo rendimento académico, sintomas depressivos e até mesmo ideações suicidas têm associado os estudantes universitários a esta síndrome.

A tendência da subida destes números tem vindo a aumentar. A pandemia devida ao COVID-19, o confinamento e consequente ausência de socialização, a incerteza em relação ao mercado de trabalho e dificuldades económicas têm agravado ainda mais esta situação.

Estudo da Universidade Católica, ”Ansiedade, depressão e stress em estudantes universitários: o impacto da COVID-19” comparou os níveis de ansiedade, depressão e stress em estudantes universitários portugueses em período pré-pandémico (2018 e 2019) e período pandêmico (entre a suspensão das aulas e a decretação do estado de emergência em Portugal). Este estudo revelou que os estudantes que integraram o estudo no período pandémico apresentaram níveis mais elevados de depressão, ansiedade e stress. Os resultados apontam para um impacto psicológico negativo da pandemia nos estudantes.

Apesar de já existente na maioria das universidades, a pandemia COVID-19, veio reforçar ainda mais a necessidade da existência de assegurar respostas no âmbito da saúde mental. As universidades dispõem de serviços de apoio a esse nível, por vezes mesmo consultas de psicologia clínica. Para além disso, é sempre importante relembrar que outras entidades, como hospitais, autarquias, associações e escolas disponibilizam plataformas e linhas telefónicas de apoio psicológico e psiquiátrico.

Texto por Diana Cunha. Revisto por Maria Teresa Martins.