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Devaneios

A Sabedoria da Amizade

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Todos decerto já escutámos louvores à verdadeira amizade; e talvez aqueles de entre nós mais dados à leitura tenham até já lido histórias antigas sobre os grandes feitos da amizade. Quem quer que já tenha lido O Senhor dos Anéis, por exemplo, (ou sequer visto os filmes) não poderá deixar de se sentir tocado por aquelas amizades: Gimli e Legolas, Frodo e Sam, e uma lista nada breve de outros exemplos. E que diremos d’Os Três Mosqueteiros, ou dos nobres Cavaleiros da Tábula Redonda? É impossível ser culto e não se ter deparado com uma história sobre uma amizade que vence o mundo.

Dito isto, claro, não é preciso ser culto – e pode até ser-se analfabeto – para ter provado a doçura da amizade. A “verdadeira amizade” (o que equivale a dizer “a amizade”) divide as tristezas e duplica as alegrias; mas, clichés à parte, e navegando águas muito mais profundas, uma amizade (basta uma) tem o inacreditável poder de não mudar nada, mas ainda assim deixar tudo diferente: o problema continua lá, mas já não nos preocupa, ou a escuridão que já não nos assusta, ou o medo que já não nos vence. E, claro, a anedota que partilhamos, a memória quê se atualiza, a risada que ecoa…

Para saber o que é a amizade, dizia eu, “não é preciso ser culto”. E digo mais: para saborear uma amizade, não chega ser culto – é preciso ser sábio. É preciso ser sábio (essa espécie de gente que tanto nos falta!) para ver a amizade desde as suas últimas folhas até às suas primeiras raízes. É preciso ser sábio para entrar dentro da amizade, para se deixar embeber por ela, para se deixar transformar. É assim com outras áreas da vida – qualquer palerma bebe vinho, mas requer maturação para distinguir aromas; qualquer idiota lê Camões, mas só a experiência nos poderá fazer interpretá-lo. De igual modo, qualquer criancinha tem amigos, mas só uma sabedoria prática, adquirida no terreno, nos permitirá levar essa amizade até às últimas consequências.

E as últimas consequências de uma amizade são estas: transformar o mundo que nos rodeia. Foi isso que fizeram Frodo e Sam, Aragorn e Gandalf, Gimli e Legolas; foi isso que fizeram Athos, Aramis e Porthos; foi isso que fizeram Artur, Lancelot, Gawain e os outros. Foi isso que fizeram Cristo e os apóstolos. Foi isso que fizeram Inácio de Loiola, Francisco de Xavier e Pedro Fabro. Foi isso que fizeram C. S. Lewis, J. R. R. Tolkien, O. Barfield e C. Williams. É isso que faz todo e qualquer verdadeiro casal, que não se une para ter prazer, mas porque se ama verdadeiramente.

É isso que poderemos todos fazer, se soubermos percorrer o caminho da cultura dos livros à simplicidade das avós, e da simplicidade das avós à Sabedoria que faz a própria vida. E que assim seja, porque mudaremos o mundo e nasceremos de novo!

Artigo da autoria de Gonçalo Costa

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