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Cultura

Her Loss: um retrocesso para o hip hop

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Drake e 21 Savage não são uma dupla de agora. Os dois já colaboraram em várias músicas, como os hitsMr. Right Now” e “Knife Talk“, mas a mais aclamada é “Jimmy Cooks“. Vinda diretamente do álbum anterior de Drake, Honestly, Nevermind, acabou por ser a faixa mais bem-sucedida do disco de junho deste ano. O sucesso inesperado desta canção pode ter sido o trigger que faltava para uma colaboração maior.

Her Loss foi lançado no dia 4 de novembro, após ter sido adiado por uma semana, devido ao falecimento do rapper Takeoff. É composto por dezasseis faixas e mostra um lado que muitos consideravam já estar mais evoluído no mundo do hip hop: misoginia.

O título já indicava a amargura com que o álbum se iria revestir, um contraste com trabalhos anteriores de Drake. A maioria das letras giram em torno da objetificação das mulheres, assim como o mal dizer das anteriores paixões. Embora as batidas deste disco tenham sido produzidas por grandes nomes como Tay Keith, Lil Yachty e Metro Boomin, o desrespeito e arrogância das letras transporta Her Loss para uma década atrás de avanços na robustez e significado das letras do hip hop.

A única colaboração presente neste álbum é na música “Pussy & Millions”, com o rapper Travis Scott. Outra surpresa foi a icónica canção “One More Time” dos Daft Punk ter sido usada como sample na nona faixa de Her Loss, intitulada de “Circo Loco”. Essa mesma música, uma das mais polémicas do disco, faz referência à polémica de 2020 em que, alegadamente, o rapper Tory Lanez disparou contra a rapper Megan Thee Stallion. Numa posição claramente a favor de Tory, Drake acusa Megan de ter mentido e inventado toda a situação.

Após o lançamento do álbum, vários fãs começaram a juntar peças e criaram uma conexão com títulos dos discos de Drake. Certified Lover Boy foi lançado em 2021, após uma pausa de três anos na discografia do canadiano, apresentado o seu lado mais romântico. Foi seguido de Honestly, Nevermind, um disco com influências de house, e, agora, Her Loss, com letras que demonstram claramente que Drake não está virado para o amor. Juntando os nomes e as sonoridades/letras destes três, os fãs acreditam que uma possível trilogia foi encerrada com a colaboração com 21 Savage:

“Drake was a Certified Lover Boy but Honestly, Nevermind, that’s Her Loss”

Com menos de um mês, este disco já bateu recordes. As dezasseis canções estrearam-se no Top 100 da Billboard até à quadragésima posição. Oito destas faixas encontram-se posicionadas no Top 10 deste Hot 100, sendo que não conseguiram destronar Anti-Hero de Taylor Swift, no primeiro lugar. Her Loss alcançou, também, o número 1 no Top 200 de álbuns da Billboard, sendo o décimo segundo disco de Drake a conquistar este feito.

Her Loss é, sem dúvida, um marco positivo na carreira de 21 Savage. Permitiu-o catapultar para um público mais comercial, parte inequívoca da audiência de Drake. Além dos fãs, conseguiu, também, aumentar as suas músicas no Top 5 da Billboard de três para oito. Em múltiplas músicas, sobretudo em “3AM on Glenwood”, mostrou a sua vulnerabilidade ao escrever sobre a violência que já enfrentou e o impacto que tal teve na sua vida.

Quanto a Drake, a inesperada mudança não foi bem recebida por muitos, quer sejam fãs ou críticos. A transição de um apaixonado incurável para um bad boy que liberta o seu ego a desrespeitar mulheres nas suas canções é um step back na globalidade da sua imagem pública. Além disso, as letras vazias de significado e repletas de misoginia são as maiores culpadas do falhanço deste novo álbum colaborativo, com enorme potencial na sua raiz, se tornar num clássico. Her Loss não é uma falha de produção, mas uma falha de criatividade e, sobretudo, moralidade.

Artigo escrito por Amália Cunha