Cultura
Rush! – A internacionalização dos Måneskin
Não é novidade que a Eurovisão tem uma palavra a dizer no que toca atualmente nas nossas playlists. Mais do que perita em catapultar talentos europeus para o resto do mundo, o Festival já se tornou numa referência no panorama musical. Exemplos disso são os incontornáveis ABBA, Loreen com a poderosa “Euphoria” e Duncan Laurence com a melódica “Arcade”.
Com uma paragem em 2020 devido à pandemia da Covid-19, a Eurovisão regressou em força em 2021 – e que força. A rebeldia dos italianos Måneskin, aliada ao talento inegável, valeu-lhes o primeiro lugar e o rock e trouxe uma lufada de ar fresco à competição. Desde então, a banda com nome dinamarquês tem estado nas bocas de todo o mundo, com hits como “I Wanna Be Your Slave” e uma versão de “Beggin”.
A inquietação para o lançamento deste álbum foi criada com o lançamento do single “Mammamia”, três meses antes do lançamento do disco. A música não desiludiu os fãs por se manter no registo do hit “I Wanna Be Your Slave”, mas levantou dúvidas sobre o rumo linguístico da banda. O álbum anterior, Teatro d’ira: Vol. I, apenas tinha uma música em inglês, mas a internacionalização da banda poderia fazer com que Damiano, Victoria, Thomas e Ethan enveredassem por outro caminho.
Rush! foi lançado no dia 20 de janeiro e é composto por dezassete faixas, sendo que apenas três destas são em italiano. Todo o álbum explora o rock alternativo que tanto sucesso lhes trouxe, trazendo ao de cima uma excentricidade frenética e juvenil que tanto os caracteriza. O disco não tem qualquer colaboração, à semelhança dos dois álbuns da banda, e são poucas as baladas nele presentes. O grupo foca-se nas batidas rock, de modo a afirmar e consolidar o seu lugar no género.
“The Loneliest” é uma viagem entre momentos quase acústicos, num sussurro demorado e triste de Damiano com suaves acordes de guitarra, e momentos de um baixo e bateria fortes e a sua voz ríspida quase a gritar. É a dualidade de um coração partido e a raiva, ambos coexistentes na amálgama que é o amor.
Se, por um lado, este disco conseguiu reafirmar um dos motes dos Måneskin – o rock pode e deve ser divertido e inclusivo- por outro fez com que a banda perdesse o cunho de autenticidade italiana. Em relação a esta temática, que em muito foi criticado pelos fãs, Damiano, o vocalista, preferiu focar-se na presença da língua materna:
“(…) A música italiana é uma parte muito importante para nós, para a nossa cultura e para mostrar de onde viemos. Nós não queríamos que a música italiana ficasse aqui e ali em algum momento na lista de faixas. Nós queríamos criar um bloco que representasse a fundação onde construímos tudo em volta.”
A opção de americanizar a sua música pode não ter compensado em termos de continuar a espalhar a cultura e língua italiana pelo mundo, mas compensou em termos de reconhecimento. Nos Estados Unidos da América, Rush! alcançou o primeiro lugar no Top Alternative Albums da Billboard e o quarto no Top Rock Albums também da Billboard. No seu país berço, o disco alcançou o certificado de Ouro.
Do X Factor italiano para a Eurovisão e agora nos palcos dos quatro cantos do mundo, os Måneskin são a prova viva de que é possível começar do zero. Os olhos esfumados, as roupas de cabedal e as batidas eletrizantes são apenas alguns dos fatores que tanto os caracterizam e que o quarteto decidiu manter em Rush!. Com quase vinte canções rock, este disco veio cimentar aquilo que as suas músicas anteriores já haviam conseguido – reavivar (ou até mesmo dar a conhecer) o rock para a geração Z.
Por Amália Cunha