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Artigo de Opinião

VOLUNTARIADO DE FACHADA

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João Paulo

João Paulo

Vivemos, não é de hoje, daquilo que os outros vêm em nós e não daquilo que somos de facto. Trabalhamos uma imagem que projetamos aos olhos dos demais. Desejamos que nos vejam solícitos, voluntários de causas nobres e, por isso, posamos para aquela foto que vai mostrar a todos que estávamos lá.

Veja-se, por exemplo, alguns tipos de marchas como a da ABRAÇO. Mesmo antes da partida lá estavam os colunáveis, as chamadas figuras públicas, que fazem declarações sentidas sobre a matéria e a razão nobre que as leva a estar ali. Depois, a marcha começa e aqueles sentimentos entram nas suas viaturas particulares e lá zarpam uns para o local do fim dessa marcha, outros em direção, quem sabe, a um lanchinho. Espera, agora tem outro nome. Chama-se brunch ou vão mesmo é para casa. Os que aguardam pela marcha lá posam uma vez mais para a foto, batem palmas e lançam balões. Eu vi, ninguém me contou!
Mas há ainda os que são membros voluntários desta ou daquela associação porque “é bem” estar-se ligado a uma qualquer entidade, principalmente se a causa for uma daquelas que sensibiliza a maioria, coisas do tipo sem-abrigo, pobreza ou deficientes. Ou, ainda, alguma outra que uma qualquer figura pública declarou apoio. Ou, ainda, como está na moda, tomar um banho público em nome de.

Fazemos parte, consta o nosso nome, das listas organizativas, mas depois a nossa vida é um turbilhão de eventos e “trabalhos”. Tantos, demasiados que justificamos com isso a nossa não comparência nas iniciativas associativas. No entanto, depois postamos idas ao cinema, à praia, o aniversário do cão da vizinha, entre outras atividades de elevadíssima importância.
Entre uns e outros, há ainda aqueles que usam a sua pretensa a essas entidades associativas e/ ou solidárias para através destas se autopromoverem, angariar fundos para o seu cofre, alegadamente associativo e solidário. Absorvem, acumulam títulos e cargos para dar o ar, mas, na verdade, o único cargo do qual são realmente titulares é de larápios narcísicos.
Enquanto uns e outros se digladiam pelos flashs de uma suposta ribalta efémera, por trás das luzes padecem seres, mais esfomeados de companhia do que de alimento. Seres que necessitam apenas de um abraço, uma palavra amiga, um olhar sem julgamento.

Viva os voluntários do mundo que fazem a vida dos demais menos penosa. Viva a vossa dedicação, porque também os há de coração e honestos.

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