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Cultura

“Toda a Beleza e a Carnificina”: onde a arte se cruza com o ativismo

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A reputação de Laura Poitras no cinema documental, resultante em parte do Óscar de Melhor Documentário de Longa Metragem arrecadado em 2015 por “Citizenfour” – relativo ao caso de Edward Snowden -, aliou-se à maestria da renomada fotógrafa e ativista Nan Goldin no seu mais recente trabalho.

Nan Goldin não é o arquétipo da perfeição social. Basta, para sustentar esse facto, referir que se trata de uma mulher desde cedo aliada às comunidades marginalizadas, com um histórico de prostituição e vício em opioides.

Porém, a artista é muito mais do que os rótulos que lhe são atribuídos, e é aí que começa o trabalho de Poitras, que nos apresenta num documentário de duas horas uma visão bifurcada da vida de Goldin.

A primeira vertente, com um caráter biográfico, retrata uma infância oprimida e marcada pelo suicídio da irmã mais velha, os anos libertadores que se sucederam em escolas de artes, a sua ascensão enquanto artista e o relato cru e arrebatador na primeira pessoa da crise da SIDA, da desconsideração desta pelo Governo e da perda do seu círculo de amigos para as estatísticas de óbitos.

A segunda vertente acompanha o trabalho de Goldin enquanto ativista, na tentativa de derrubar a reputação da família Sackler e da Purdue Pharma, que comercializaram Oxycontin (fármaco opioide analgésico) como um medicamento milagroso que não causava vício, levando a uma crise de dependência química nos Estados Unicos com repercurssão na vida de milhares de norte-americanos e da qual derivaram mais de 500.000 mortes

As duas linhas do documentário não se separam, entrelaçando-se de forma bem polida e moldada com todos os créditos para Laura Poitras.

A montagem do filme conta com inúmeros registos fotográficos do arquivo de Nan Goldin, sempre relacionados de forma coerente com o relato de fundo, servindo como base narrativa para o mergulho na vida noturna americana dos anos 70, sem tabus – com representações de violência, drogas e sexo sem censura, registados pela artista na famosa coleção “Balada da Dependência Sexual”.

Para além das fotografias, o filme serve-se de filmagens atuais que acompanham Goldin em manifestações e reuniões do P.A.I.N (Prescription Addiction Intervention Now), grupo ativista criado pela mesma, filmagens estas que trazem uma certa tensão à película.

A tensão nunca resulta no medo, nem poderia, ou não estaríamos a falar de Nan Goldin, que se sagra vitoriosa no combate à limpeza de imagem levada a cabo durante anos pela família Sackler feita a partir de doações para os mais importantes museus e universidades.

O título do documentário, retirado de um registo médico da falecida irmã de Goldin, representa tudo o que podíamos esperar desta película – uma porta aberta para conhecermos uma das grandes artistas da atualidade, com toda a beleza e a carnificina que poderíamos esperar.

Estreado em Portugal a 30 de março, “Toda a Beleza e a Carnificina” encontra-se atualmente em exibição nos cinemas.

Artigo por Beatriz Magalhães

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