Artigo de Opinião
A carteira do G7
O, apelidado, G7 (grupo dos 7 países mais industrializados do mundo: Japão, Itália, Estados Unidos, França, Reino Unido, Alemanha, Canadá e representação da União Europeia) reúne-se na sua habitual sessão política, desta vez na cidade de Hiroshima, no Japão, de 19 a 21 de maio, afirmando que os tópicos do seu encontro teriam como foco principal a guerra na Ucrânia, o avanço da China no panorama económico (usando como pretexto as tensões com a ilha de Taiwan), a crise global, as alterações climáticas e a proliferação de armamento nuclear. Quando olhamos para estes tópicos quase que caímos na tentação de acreditar que os países do G7 são os super-heróis que o nosso mundo precisa, e vêm resolver tudo na sua esfera de poderes altíssima. Mas a verdade é que os encontros deste clube privado e exclusivo, que se reúne esporadicamente, não passa de grandes negociações para ver quem sai mais beneficiado do azar dos pobres. Ao mesmo tempo, servem para responder ao assustador, vermelho, “inimigo” económico, a Rússia e a China, que ameaçam as políticas dos perfeitos e civilizados países ocidentais e os seus respetivos parceiros. Estas cimeiras são a epítome do jogo político. (Introspetiva a meio do texto: parece um pouco aqueles textos das teorias da conspiração)
Até agora nenhuma grande novidade. Onde de facto entram as novidades (ironia que eu sublinho) é na aplicação das ajudas monetárias aos problemas globais. Reconhecendo efetivamente o problema da guerra na Ucrânia, o G7 continua a investir na morte, em vez de investir na vida. Já se fala de crise global há vários anos, a fome já está presente no nosso mundo desde que as sociedades começaram, a guerra na Ucrânia (se formos mais atrás) inicia-se em 2014, tendo uma forte erupção no início do ano passado 2022 com a invasão Russa. Ora, pelos meus cálculos há problemas que subsistem no nosso mundo há demasiado tempo, e mesmo assim, os grandes poderes não têm interesse em resolver… mas porquê? Esta é daquelas perguntas que se sabe a resposta imediatamente, o que dá dinheiro é a guerra. Tratar dos refugiados? Da fome mundial? Das comunidades afetadas pelas mudanças climáticas? Não!! Isso não gera dinheiro… e o que os “nossos” políticos querem é dinheiro, não é satisfação pessoal e consciência ética e humana. Compensa evidentemente mais aos Estados Unidos, à França e ao Reino Unido venderem armas aos ucranianos (entre outros países em conflitos, porque SIM! há mais conflitos no mundo para além da guerra na Ucrânia) do que ajudar o sul global a sair da sua longa, duradoura e (atrevo-me a exagerar) infinita crise social. Estamos há anos no mesmo panorama e não muda porque não queremos que mude. Tal como Max Lawson, porta-voz da Oxfam International, diz: “Podem gastar milhões em guerras, mas não podem dar nem metade do que a ONU precisa para as crises humanitárias mais graves”. Aqui esta a ironia do nosso mundo, a valorização de determinadas vidas em detrimento de outras.
Para termos a noção, e não acharmos que é tudo uma teoria da conspiração, os EUA no dia 20 de março de 2023 anunciaram um pacote militar para a Ucrânia no valor de 350 milhões de dólares. O valor de ajuda do G7 para as crises mundiais foi de 21 milhões de dólares (19,4 milhões de euros). O Reino Unido enviou em 2022 um pacote de ajuda militar no valor de 2,65 mil milhões de euros (2,3 mil milhões de libras). O valor de ajuda do G7 para as crises mundiais foi de 21 milhões de dólares (19,4 milhões de euros). Devo continuar, ou já há dinheiro suficiente em cima da mesa para ajudar as crises mundiais? Não é falta de dinheiro, é falta de interesse, falta de ética, de moralidade, são querelas políticas, e vontades particulares… tudo isto move o nosso mundo no sentido contrário.
Esperemos pelo fim da cimeira, mas não esperamos convencidos que algo mudará, pois sabemos que isso não é do interesse de muitos. A carteira do G7 está furada, mas alimenta-se a si própria, motivando a desgraça dos outros, e esquecendo os que verdadeiramente precisam.
Artigo da autoria de Daniel Madeira