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Ciência e Saúde

O Aumento de Dopamina no Cérebro Leva a Decisões Erróneas

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Fonte: Joana Ribeiro da Silva

Estudo que examina a influência da dopamina na rapidez da tomada de decisões, evidenciou um equilíbrio delicado entre o tempo de resposta e a precisão. Estas descobertas contribuem para uma melhor compreensão do papel neuroquímico da dopamina no comportamento cognitivo.

 

A dopamina, também conhecida como 3,4-dihidroxitiramina, é um neurotransmissor que é produzido por neurónios dopaminérgicos no cérebro, mais especificamente na substância negra, na área tegmental ventral e no hipotálamo. Em mamíferos, o espetro de atuação dos sistemas dopaminérgicos abrange uma multiplicidade de funções, pelo que a dopamina desempenha um papel crucial na excitação, no movimento, no humor, na aprendizagem baseada em recompensa e na execução de atividades que requerem decisões imediatas. O papel deste neurotransmissor na tomada de decisões foi recentemente corroborado por um artigo da autoria de Chakroun et al., publicado na Nature Communications, em setembro de 2023. O estudo teve por base a teoria de que a dopamina regula a quantidade de esforço que é gasto em ações e o quão rápido estas são executadas.

Os resultados foram obtidos a partir de um estudo que envolvia uma tarefa de aprendizagem, onde 31 voluntários do sexo masculino, sob o efeito de diferentes condições farmacológicas, teriam de associar símbolos abstratos a recompensas. Em uma das condições, a libertação de dopamina seria farmacologicamente aumentada por levodopa (L-Dopa), que é um precursor do neurotransmissor. Em outra condição, a libertação de dopamina seria controlada por uma dose reduzida de haloperidol, fármaco que compete com os recetores dopaminérgicos pós-sinápticos, de forma a bloqueá-los. Ao contrário do que seria esperado, o haloperidol resulta num pequeno aumento da concentração de dopamina extracelular. Por fim, na última condição farmacológica, que era a de controlo, os participantes receberam  placebo.

Os processos de aprendizagem e de tomada de decisões dos voluntários foram analisados computacionalmente, através de modelos de difusão de aprendizagem por reforço (RLDDMs), com base no tempo de resposta de cada indivíduo perante a tarefa apresentada. Esta metodologia também foi realçada pelos autores, uma vez que demonstra a evolução dos modelos computacionais no estudo da função de determinados sistemas de neurotransmissores.

Posto isto, os investigadores descobriram que, quando a dopamina é libertada pelos neurónios, a velocidade da tomada de decisões aumenta. Todavia, estas tendem a ser desprovidas de precisão. Tais resultados descrevem a relação complexa entre a complacência de um ser humano a reagir rapidamente e, consequentemente, a cometer mais erros. Por outras palavras, ao elevar farmacologicamente a libertação de dopamina, tanto com levodopa como com haloperidol, os voluntários demoraram menos tempo a completar a tarefa, mas falharam mais vezes. É de notar que, os autores ainda conseguiram provar que estes fármacos impactuaram apenas a tomada de decisões, não se observando qualquer efeito na aprendizagem.

Segundo Jan Peters, professor de psicologia biológica na Universidade de Colónia, na Alemanha e um dos autores do artigo, “A dopamina controla a resposta motora, mas também pode regular o esforço. Os nossos resultados mostram um mecanismo que pode relacionar estes dois aspetos ao alterar o compromisso entre velocidade e precisão a favor da velocidade.”

Inevitavelmente, os investigadores também reconheceram as limitações do estudo, nomeadamente o facto de não só haver uma amostra muito reduzida, como também ser exclusivamente constituída por voluntários do sexo masculino. Não obstante, esta publicação não deixa de estabelecer uma base promissora para investigações futuras sobre o papel na dopamina em mecanismos cognitivos.

Texto por Joana Silva. Revisto por Diana Cunha.