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Ciência e Saúde

Sustentabilidade no Natal

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Do latim nativitas, que significa “nascimento”, o Natal é o feriado mais celebrado por todo o mundo. Hodiernamente, as ofertas materiais são uma grande fatia indispensável aos festejos da quadra, levando a corridas intermináveis a lojas, ao aumento do consumismo e, posteriormente, à produção de quantidades exorbitantes de lixo.

 

Consumismo associado à época natalícia

Atualmente, tornou-se irrefutável o facto de que a época do Natal é um incentivo ao consumismo, onde, de forma geral, o ser humano é guiado instintivamente para as lojas, com o intuito de efetuar as compras natalícias e sempre com o pensamento de que nada pode faltar no momento de oferecer presentes àqueles que lhes são mais queridos.

 

Sustentabilidade – o que é?

Segundo a Organização das Nações Unidas (ONU), a sustentabilidade é a “satisfação das necessidades do presente sem comprometer a capacidade de gerações futuras satisfazerem as suas próprias necessidades”. Por outras palavras, a sustentabilidade envolve a procura por um equilíbrio entre três pilares fundamentais: a dimensão ambiental, a dimensão social e a dimensão económica, de modo a garantir que os recursos estão a ser utilizados de forma inteligente e responsável, sempre com a consciência de que alguns desses recursos são finitos e, por isso, devem ser preservados, com vistas às necessidades futuras.

A nível empresarial, cada vez mais se valoriza um negócio sustentável, podendo a implementação de aspetos ambientais resultar em novas oportunidades de negócio. Deste modo, a sustentabilidade empresarial consiste na capacidade de uma empresa gerir a sua atividade e criar valor e benefícios ambientais e sociais para todos os interessados nos seus processos e resultados.

 

Impacto ambiental sentido nesta época

Todo o consumismo, associado ao período natalício é responsável por cerca de 6% das emissões anuais de dióxido de carbono para a atmosfera.

Adicionalmente, no setor da alimentação, estima-se que o consumo alimentar aumente cerca de 80% durante esta época, comparativamente ao resto do ano.

No que diz respeito ao plástico, que é usado quer nas embalagens, quer no fabrico dos mais distintos produtos, há um aumento significativo durante estes meses. Consequentemente, por cada quilo de embalagens plásticas produzidas, são emitidos cerca de três quilos de CO2 para a atmosfera, promovendo o aumento do efeito de estufa.

Por fim, quanto à indústria têxtil, e de acordo com a BBC News, o fabrico de uma simples camisola de algodão orgânico necessita, em média, de 2700 litros de água. Por outro lado, a fibra artificial de celulose, utilizada na produção de peças de roupa, exige o abate de 70 milhões de árvores por ano.  No que toca às calças de ganga, as mesmas podem implicar a utilização de até 10 mil litros de água.

Expostos a um problema real, e com consequências cada vez mais significativas, como por exemplo o facto do dia de Sobrecarga da Terra ser, ano após ano, mais rapidamente alcançado, algumas marcas tentam arranjar soluções eficazes, aliando a criatividade e originalidade ao sentido de sustentabilidade e reaproveitamento.

Como um dos fatores que mais contribui para a poluição, associada a esta época, é o facto de as pessoas encomendarem diversos produtos online, vindos, muitas vezes, do outro lado do mundo, uma boa opção é comprar marcas portuguesas. Assim, para além de ajudarmos o planeta, estaremos também a contribuir para um aumento da economia nacional.

 

ZOURI

A Zouri é uma marca de calçado vegan, criada na cidade de Guimarães, cujo slogan “we all come from the ocean” espelha o conceito principal da marca, o de utilizar lixo plástico da costa portuguesa, bem como outros materiais ecológicos e sustentáveis, para criar calçado único e 100% eco-friendly.

Um pormenor especial, quanto aos sapatos desta marca, é que cada encomenda faz-se acompanhar de uma carta com informação sobre todos os materiais, bem como as quantidades e origem do plástico, usados na sua produção.

Nos últimos anos, os cientistas que trabalham por trás da marca, têm vindo a desenvolver novas pesquisas e alternativas na utilização do desperdício de plástico como matéria-prima.

O processo de fabricação das peças de calçado começa com a separação e triagem do lixo previamente recolhido. De seguida, este é triturado e misturado com borracha natural, numa razão de cerca de 10% a 15% em volume de plástico para 85% a 90% de borracha, quantidades que garantem a integridade da sola, bem como a resistência e durabilidade do sapato. É de notar ainda que as palmilhas dos sapatos são produzidas a partir de materiais reciclados e a parte superior do sapato, as gáspeas, através do uso de materiais naturais e biodegradáveis, tais como ‘pinatex’, feito a partir da fibra das folhas de abacaxi, tecido de algodão orgânico, pele de maçã e borracha natural.

Deste modo, e com a ajuda de seiscentos voluntários, ONGs e escolas, a Zouri conseguiu arrecadar, este ano, cerca de 1 tonelada de plástico proveniente das praias portuguesas, transformando-o em verdadeiras e exclusivas peças de arte, para todos poderem calçar.

 

INSANE IN THE RAIN

Casacos de chuva de todas as cores e feitios, para todas as idades: esta é a peça produzida por esta marca, de forma ecológica.

A “Inside in the rain” utiliza tecido plástico reciclado, neste caso, o RPET (tereflato de polietileno reciclado), um material resistente, duradouro e reciclável, utilizado na produção de plásticos descartáveis e garrafas de plástico. Depois de submetido a um procedimento de reciclagem, que não requer a extração de petróleo (reduzindo assim o seu uso pela indústria têxtil como matéria-prima, assim como a sua procura), são produzidos os fios a partir dos quais é feito o poliéster reciclado e posteriormente usados para fabricar esta peça de roupa. Ademais, o uso do RPET reduz a dependência energética quando comparado ao poliéster virgem, e gera cerca de 75% menos de emissões de dióxido de carbono.

Cada casaco é feito com o uso de 17 a 23 garrafas de plástico recicladas, que, de outra forma, acabariam no oceano.

 

CUSCUZ

A nível de acessórios, a marca Cuscuz oferece uma vasta gama de opções de óculos de sol e brincos fabricados à mão, a partir de móveis, camas, bancos e desperdícios de fábrica. Fundada em 2015, o conceito da marca baseia-se na produção consoante encomenda, de modo a que não haja qualquer tipo de desperdício. Portanto, defendem a política de que a qualidade se sobrepõe à quantidade.

 

NÃM

Nãm é um projeto criado por Natan, cujo conceito se prende com a transformação da borra de café em cogumelos. Este é um negócio circular, ecológico, com parceria com a Delta Café, que faz a recolha da borra de café desperdiçada, que posteriormente servirá de matéria-prima para a Nãm. É de referir ainda que, o desperdício da produção de cogumelos resulta na criação de um fertilizante orgânico para o cultivo de legumes e frutas.

A utilização destes restos de café como adubo é bastante benéfico, uma vez que, é um resíduo rico em nutrientes, tais como, fósforo, cálcio, nitrogénio, magnésio e potássio, imprescindíveis ao crescimento saudável das plantas. Adicionalmente, quando incorporada nos solos, a borra de café melhora a retenção da água, bem como a aeração, isto é, fornecimento de ar ao subsolo, através do movimento de O2 e CO2 e drenagem, ou seja, processo de remoção do excesso de água dos solos. Além disso, para plantas que se adaptam melhor a solos ácidos, esta é uma ótima técnica, uma vez que, a borra de café tem um pH ácido, conferindo assim uma maior acidez à terra.

 

Na hora de planear os preparativos para o Natal incluir a sustentabilidade na lista de fatores associados àquela que é considerada a época mais mágica permitirá reduzir ao máximo os impactos ambientais e, consequentemente, contribuir para um futuro cada vez mais verde.

Artigo redigido por Beatriz Novais Ferreira. Revisto por Joana Silva.

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